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Nº 1596 - Ano 34
11.02.2008

Segurança em tempo real

UFMG e Urbel realizam estudos para detectar escorregamentos de encostas na capital

Ana Maria Vieira

Aglomerado da Serra
Aglomerado da Serra, local onde foi instalado pluviógrafo para coleta de dados sobre a chuva

Trabalho destinado a monitorar cientificamente áreas de risco e a desenvolver sistema de alerta relativo a escorregamento de encostas durante estações de chuva está unindo professores da UFMG e técnicos da Prefeitura, em Belo Horizonte. A parceria envolve o Instituto de Geociências (IGC) e a Companhia Urbanizadora da capital (Urbel). O objetivo é delimitar, em até cinco anos, o padrão de movimentação dos vários tipos de solos da cidade, a partir de múltiplos fatores. Os estudos devem expandir conhecimentos na área e beneficiar parcelas pobres da população, por meio de ações preventivas e baseadas em informações mais confiáveis.

“Diversos condicionantes podem induzir escorregamentos em terrenos e queremos analisar como eles se relacionam em Belo Horizonte”, diz a professora do departamento de Geologia Maria Giovana Parizzi, coordenadora da pesquisa pela UFMG. Segundo ela, a geologia desfavorável à ocupação em algumas áreas do município, a chuva, a inclinação do terreno e as modificações na topografia impostas pela ação humana são fatores que, somados, podem desencadear diferentes movimentos nas encostas.

Contribuição importante para a análise do problema tem origem na tese de doutorado da própria pesquisadora, defendida em 2004. À época, ela desenvolveu modelos sobre o processo de escorregamento em taludes – encostas cortadas pelo homem – formados por seis tipos de rocha representativas da Região Metropolitana de Belo Horizonte: o xisto no Taquaril (Leste); o solo residual de gnaisse em Engenho Nogueira (Norte); o quartzo xisto, em Rio Acima, e três tipos de filitos nos bairros Sion e Alto Santa Lúcia (Sul). Os modelos trouxeram à tona causas e formas de escorregamentos relacionando tipo e estrutura dessas rochas às chuvas ocorridas nas estações de 2002 e 2003.

Conforme explica Maria Giovana, alguns locais tornam-se mais vulneráveis aos deslizamentos devido a cortes que expõem o contato entre os solos e as rochas ou em decorrência de solos não compactados e de cortes realizados em terrenos onde os planos das rochas mergulham na mesma direção do corte. Em períodos de chuva, a água se infiltra entre esses planos, nos contatos solo-rocha e nos poros dos solos. Ali acumulada, a pressão que exerce é suficiente para desplacar os terrenos e movimentá-los. O processo é distinto para cada tipo de rocha e solo, como verificou a professora em testes realizados em laboratório. Nos filitos, por exemplo, rochas mais frágeis e bastante alteradas, os deslizamentos ocorrem após a sua fragmentação, favorecidos pela infiltração da água.

Os modelos desenvolvidos por ela têm ajudado a Prefeitura a planejar obras preventivas, a avaliar a estabilidade das casas construídas em diversos locais e a definir medidas de remoção de pessoas que moram em áreas de risco.

Sistema de alerta

Se os modelos propostos já fornecem meios para responder onde é maior a probabilidade de uma encosta cair, novo desafio para as equipes da UFMG e da Urbel consiste, doravante, em determinar quantos milímetros de chuva são necessários para iniciar o escorregamento em cada região e tipo de solo em Belo Horizonte. Informações preliminares já podem ser extraídas de estudos coordenados por Maria Giovana, financiados pela Fapemig.

Parte do trabalho consistiu na realização, entre os últimos meses de 2006 e o início de 2007, de coleta de dados sobre a chuva então ocorrida, por meio de dois pluviógrafos instalados ao norte de Engenho Nogueira e a leste do Aglomerado da Serra. O aparelho registra índices de precipitação a cada meia hora e os transmite para os computadores dos pesquisadores em tempo real, via telemetria GSM.

Maria Giovana Parizzi analisou esses valores e a incidência de escorregamentos nas duas regiões, além das taxas de saturação de água no solo, medidas por tensiômetros. Conforme artigo divulgado em dezembro do ano passado sobre o experimento, 434 deslizamentos foram registrados na cidade, no período 2006-2007. Desse total, 132 localizaram-se na regional Leste, 41 na Nordeste e os demais em outras sete regionais.

“Monitoramento com tensiômetros demonstrou que os solos residuais de gnaisse da região Nordeste são mais resistentes a escorregamentos que os filitos alterados da região Leste, onde movimentos são agravados pela topografia mais acidentada”, diz a professora. Outra vertente do estudo mostra que a intensidade das chuvas teve mais peso para desencadear esses movimentos do que a chuva acumulada.

A pesquisadora, no entanto, observa que os dados são válidos apenas para o período analisado. “Do ponto de vista estatístico, precisamos estabelecer outros valores”, ressalva. Mesmo assim, seu estudo repercutiu nos meios oficiais. Desde agosto do ano passado, a Prefeitura instalou dez pluviógrafos nas regionais. Por meio deles, será possível identificar padrões entre escorregamentos e tipos de chuvas para toda a cidade e, na seqüência, desenvolver sistemas de alerta, em tempo real, para a defesa civil.