Anatomia do bizarro

Autor de filmes considerados estranhos, David Lynch vem à UFMG falar sobre seu processo criativo, em palestra do ciclo Sentimentos do Mundo

Ricardo Bandeira

Um artista brilhante e controverso, criador múltiplo, com um gosto especial pelo que há de bizarro na existência humana, mas capaz de dedicar boa parte de seu tempo à meditação. Tudo isto é David Lynch, mais conhecido como cineasta, mas também escritor, fotógrafo, pintor, escultor e compositor. Na manhã de 6 de agosto, o público de Belo Horizonte terá a oportunidade de ver de perto o próprio diretor norte-americano dissecando seu processo de criação, em mais uma conferência do ciclo Sentimentos do Mundo, que traz à UFMG personalidades de diversas áreas.

O tema da conferência é Consciência e Processo Criativo. Segundo a coordenadora do ciclo Sentimentos do Mundo, Patrícia Kauark, a palestra terá como foco a obra cinematográfica de Lynch. Ele iniciou a carreira há mais de 40 anos, com o curta de animação Six figures getting sick (1966). Ao longo das últimas décadas, dirigiu longas-metragens como O Homem Elefante (1980), Veludo Azul (1986), Mulholland Drive (2001) e Império dos Sonhos (2006). Também criou para a TV a série Twin Peaks (1990).

A palestra será no auditório da Reitoria, com tradução simultânea e a participação dos professores Heitor Capuzzo, da Escola de Belas-Artes, e Maria Esther Maciel, da Faculdade de Letras. Como o auditório tem apenas 270 lugares, cerca de 400 cadeiras serão colocadas no hall e no mezanino, onde serão instalados telões.

Na semana do evento, o Projeto República, da UFMG, e o Cine Humberto Mauro, do Palácio das Artes, vão promover mostras com filmes de Lynch. As programações ainda não foram definidas.

 

Meditação

Apesar de ter a superprodução Duna (1984) em seu currículo, o cinema de Lynch passa ao largo das convenções hollywoodianas e tem no bizarro um dos elementos mais presentes. Tal característica rendeu ao artista a fama de ser ele próprio dono de uma personalidade estranha. Na visita ao Brasil, no entanto, o diretor vai apresentar outra faceta, a prática da meditação transcendental.

Um dos motivos da vinda de Lynch é o lançamento no país do livro Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação (Gryphus Editora), que trata da influência dessa prática sobre sua vida e obra. Ele mantém, ainda, uma fundação que divulga técnicas de meditação como tratamento de distúrbios emocionais em crianças.

Interdisciplinar

O ciclo Sentimentos do Mundo foi inaugurado no ano passado, por ocasião dos 80 anos da UFMG. A boa recepção do público fez com que a Universidade decidisse estendê-lo até 2010. “O interesse foi muito grande. O ciclo tem um perfil que não se enquadra tanto nas conferências habituais da UFMG, que são específicas, para um público especializado. Sentimentos do Mundo é mais interdisciplinar, tem um formato que proporciona a discussão de temas na fronteira entre a academia, a cultura e a sociedade”, afirma Patrícia Kauark.

Para este ano, estão confirmadas palestras de Danielle Mitterrand, ex-primeira dama francesa, e do escritor angolano José Luandino Vieira. Outra conferência programada, em princípio para 2009, é a da professora do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Mildred Dresselhaus, especialista em nanotecnologia. Além das palestras, o ciclo trouxe ao campus espetáculos como os dos grupos Galpão, Uakti e Corpo.
De acordo com Patrícia Kauark, a UFMG pretende lançar, em 2010, um livro e um DVD com todas as conferências.