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Nº 1618 - Ano 34
28.07.2008

entrevista

“A sede do Festival é uma questão de pertinência cultural”

Flávia Miranda *

Um balanço positivo e crítico. Sob esses dois pêndulos, o professor e diretor de Ação Cultural da UFMG Maurício Campomori realiza sua reflexão sobre a 40ª edição do Festival de Inverno da UFMG, encerrado em 26 de julho, em Diamantina. “A experiência tem mostrado que devemos intensificar a profissionalização da estrutura do evento e a interação entre as áreas de conhecimento”, ressalta o professor, em entrevista concedida ao BOLETIM.

Foca Lisboa
Mauricio
Campomori: desafios para 2009

Para Campomori, o grande destaque dessa edição foi o aumento da participação da população local e a maior oferta de atividades de rua, inclusive acadêmicas. Apesar da qualidade apresentada, ele alerta que o “superávit criativo” do Festival convive com déficit financeiro, o que torna necessário conciliar necessidades da área de patrocínio com a autonomia da Instituição. Para 2009, Campomori antecipa: não há decisões sobre mudança de sede do evento.

Qual é sua avaliação da quadragésima edição do Festival?

O Festival, a exemplo de anos anteriores, foi um sucesso acadêmico muito grande. As oficinas e os cursos mantiveram alto nível. Mas creio que o destaque seja o aumento da participação da população de Diamantina nas atividades e a expansão do número de eventos públicos, que tiveram papel fundamental nesse sentido. Acho que o evento voltou a cumprir a sua função, aliando a idéia de localidade com a de vanguarda internacional, na “boca” do Jequitinhonha. Acho que esse é um grande saldo positivo do Festival.

A que outro fator atribui a retomada de maior inserção na comunidade?

Acho que decorre basicamente da tentativa de colocar o Festival na rua, recobrando um pouco de sua tradição original. Não se trata de uma crítica às outras edições. Esses mudanças são naturais e o evento passou por um processo de introspecção, na primeira metade da década dos anos 2000. Mas houve agora uma percepção da necessidade de colocá-lo em contato com a comunidade novamente. Uma forma excelente de fazer isso foram as aulas abertas, em que o espaço acadêmico pôde ser compartilhado com a população.

Quais foram os principais desafios enfrentados nesse Festival?

Os desafios são praticamente os mesmos: trabalhar uma programação de qualidade, que tenha também significado para a população. A Universidade precisa cumprir sua função social de ser relevante. Esse é o grande desafio de todas as ações da Universidade, e vem marcando a trajetória do Festival ao longo dessas 40 edições. O que podemos verificar entre seus avanços e desafios é a maior profissionalização da sua organização: de seus sistemas de suporte. Isso permite que ele tenha, cada vez mais, sustentabilidade própria e consiga conferir maior liberdade aos espaços de criação. Um evento que leva para outra cidade um conjunto de 50 cursos e 97 atrações artísticas, certamente é um empreendimento bastante complexo. Envolve questões de hospedagem, de alimentação, de infra-estrutura, de serviços técnicos de eletricidade e de montagem teatral.

Quais as novidades para o Festival 2009?

É muito difícil afirmar questões relativas à organização do Festival antes que esteja formatado. Posso dizer que ele continuará neste caminho de profissionalização de sua estrutura organizacional, e parece que teremos para 2009 um Festival marcado pela idéia de interação entre as áreas do conhecimento. Elas não se contêm em suas próprias fronteiras. Isso é uma característica da contemporaneidade. Os temas são cada vez mais complexos e menos passíveis de serem explicados por apenas um olhar. Não podemos afirmar qual será o tema do Festival porque somente quando sua organização estiver completamente finalizada é que isso virá a tona.

Qual é o balanço do patrocínio conseguido para este ano?

O 40º Festival de Inverno está enfrentando alguma dificuldade nesse item. Hoje, ele é um evento que não consegue obter no setor privado todos os recursos necessários a sua realização. Nesse sentido, poderíamos dizer que é deficitário. Mas é um déficit financeiro de pequeno porte, sobrepujado pelo superávit criativo durante sua realização. A dificuldade é uma realidade de mercado. Não seria razoável que a Universidade fosse a única patrocinadora institucional de um evento deste porte. Certamente necessitamos do aporte de recursos vindos do setor externo, como Cemig, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Sebrae e Secretaria de Educação Superior do MEC. Nossa perspectiva é produzir um festival palatável ao setor de patrocínio, preservando nossa autonomia.

O Festival de Inverno da UFMG permanece em Diamantina?

O Festival de 2009 permanece em Minas Gerais com sua função de formação. Assim como passou por outras cidades e permaneceu em Diamantina, nos últimos nove anos, sua localização é uma questão de pertinência cultural. Não há nenhuma decisão da coordenação geral no sentido de realizar mudança de sede. Posso afirmar isso com bastante segurança, pois o projeto do Festival de 2009 encontra-se bem adiantado e esse não é um assunto de ponta dentro de nossas discussões. O Festival e a UFMG estão satisfeitos com a relação que possuem com a cidade e a comunidade de Diamantina.

* Jornalista, integrou a Assessoria de Comunicação do Festival de Inverno.