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Nº 1643 - Ano 35
9.3.2009

Antes da hora

Estudo realizado na Medicina mostra que, mesmo considerados
normais, bebês prematuros podem ter déficit de
inteligência ao longo da vida

Larissa Nunes *

Marcos Vinícius dos Santos
Alexandre Campos: próximo passo é estudar sinais que indiquem dificuldades de aprendizado entre os prematuros

O nascimento e a sobrevivência de óctuplos, nos Estados Unidos, em janeiro, provocaram muita curiosidade em todo o mundo e mostraram, mais uma vez, que a medicina está vencendo a batalha pela vida dos bebês prematuros. Contudo, o desenvolvimento normal e saudável ainda é um desafio para essas crianças que nascem antes do tempo.

“Exames neurológicos feitos logo após o nascimento, muitas vezes, indicam normalidade de prematuros. Mas isso não é suficiente. Essas crianças ainda podem, por exemplo, ter mais dificuldade na escola do que as que não foram prematuras”, explica o psicólogo Alexandre Ferreira Campos, ao apontar uma das conclusões da dissertação de mestrado Perfil cognitivo aos sete anos de crianças nascidas prematuras e com peso inferior a 1500g, defendida por ele, na Faculdade de Medicina, no mês passado.

Para realizar o estudo, ele analisou 44 crianças de sete anos, de baixa renda, sendo 22 prematuras, nascidas com até 34 semanas e peso inferior a 1500 gramas. Embora apresentassem baixo peso, os valores eram considerados adequados para o tempo de vida dos bebês. As outras 22 crianças que participaram do estudo nasceram com peso e tamanho considerados normais e em gestação de nove meses completos.
Segundo o pesquisador, no teste que mede o Q.I., quociente de inteligência, o grupo dos prematuros apresentou média de 96 pontos, enquanto as outras crianças alcançaram média de 109 pontos. “Todas as crianças avaliadas têm inteligência normal. Mas os prematuros mostraram um pouco mais de dificuldade. Isso na escola pode ser motivo de repetência”, explica Alexandre Campos.

Problemas relacionados à compreensão verbal e dificuldade de planejamento e de concentração também são mais acentuados entre os prematuros. “Em todos os testes aplicados, eles tiveram pior desempenho. No entanto, só houve diferenças significativas nos resultados dos testes de inteligência e de funções executivas, associadas aos atos de planejar, construir objetivos e alcançar metas”, conta o persquisador.

De acordo com Alexandre Campos, o trabalho, que contou com uma amostragem pequena se comparada a pesquisas da área médica, deve ser considerado como incentivo para outros estudos sobre o desenvolvimento de prematuros. Ele mesmo, recém-aprovado para o programa de doutorado da Fafich na área de Psicologia do Desenvolvimento, aprofundará suas pesquisas sobre a compreensão verbal dessas crianças. “Pretendo investigar o desenvolvimento cognitivo e a linguagem dos prematuros. Quero estudar possíveis sinais, indicadores que mostrem, o mais cedo possível, que aquela criança pode ter, no futuro, dificuldades na leitura e na escrita. No Brasil, essa ainda é uma área de pesquisa pouco explorada”, afirma o psicólogo.

Ajuda aos prematuros

Todas as crianças prematuras participantes do estudo são avaliadas pelo Ambulatório da Criança de Risco (Acriar), do Hospital Bias Fortes, no Complexo do Hospital das Clínicas da UFMG. Criado em 1988, o grupo acompanha crianças prematuras nascidas no HC, com peso-limite de 1500 gramas, até os sete anos de vida. Durante o período, elas realizam testes, são acompanhadas por médicos e, quando necessário, encaminhadas para tratamentos mais especializados.

Segundo informações divulgadas pelo Acriar, o acompanhamento é feito em diversas etapas, de acordo com a idade dos prematuros. No primeiro ano de vida, por exemplo, o foco é no desenvolvimento motor e no crescimento, além de tratamentos de doenças específicas a essas crianças. Do segundo ao quarto ano de vida, o desenvolvimento da fala passa a ser prioridade. A partir daí, até os sete anos, são feitos testes e tratamentos das habilidades motoras finas – aquelas que demandam grande controle e precisão, como escrever ou enfiar uma bola em um cesto.

Para Alexandre, acompanhamentos do gênero são imprescindíveis para melhorar o desenvolvimento e fazer com que o prematuro tenha uma vida o mais normal possível. “No meu estudo, as diferenças entre os grupos talvez fossem até maiores se as crianças nascidas prematuramente não tivessem se beneficiado deste acompanhamento multidisciplinar”, esclarece, ressaltando também a importância da ampliação desse tipo de serviço. “Precisamos de mais grupos como esse. A criança que tiver qualquer problema detectado precocemente terá chances de reverter essa situação”, conclui.

Dissertação: Perfil cognitivo aos sete anos de crianças nascidas prematuras e com peso inferior a 1500g
Autor: Alexandre Ferreira Campos
Defesa: 16 de fevereiro, junto ao programa de pós-graduação em Ciências da Saúde - área de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente.
Orientadora: professora Regina Helena Caldas de Amorim
Coorientador: professor Leandro Fernandes Malloy Diniz

*Estagiária de jornalismo da Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina