Busca no site da UFMG

Nº 1649 - Ano 35
20.4.2009

O novo vestibular

UFMG se prepara para debater proposta do MEC que reformula acesso às universidades federais

Léo Rodrigues

Filipe Chaves
Mauro Braga
Mauro Braga: proposta será amplamente discutida pela comunidade universitária

O Ministério da Educação (MEC) apresentou, no dia 25 de março, proposta de unificação dos vestibulares das instituições federais de ensino superior. A ideia é reformular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para que ele funcione como nova modalidade de acesso a partir deste ano, o que dificilmente ocorrerá. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) sinalizou que será necessário um debate profundo com as universidades e a sociedade, o que provavelmente não se dará num prazo tão curto.

A adesão ao vestibular unificado dependerá de cada instituição, que tem autonomia para decidir de que forma poderá incorporar a prova em seu processo seletivo. Na UFMG, o assunto começa a ser discutido, mas a posição oficial só será tomada quando for tratado pelo Conselho Universitário. “Antes da proposta chegar aos órgãos de deliberação superiores, iremos estimular o debate nas unidades; queremos que a comunidade acadêmica participe e opine”, informa o pró-reitor de Graduação, Mauro Braga.

Há um consenso entre o MEC e as universidades de que os atuais processos seletivos precisam ser aperfeiçoados. Mas as alternativas ainda não contam com a unanimidade das opiniões. A proposta do MEC é produzir um meio-termo entre o Enem e o vestibular atual. A prova teria uma redação e questões de múltipla escolha divididas em quatro eixos: linguagens e códigos, matemática, ciências naturais e ciências humanas.

Para Mauro Braga, a Reitoria da UFMG considera positivo que o processo seletivo seja direcionado para medir mais a capacidade analítica do que o volume de informações. Segundo ele, o vestibular de hoje exige uma memorização exagerada de conteúdos. A Administração Central, porém, não trabalha com a hipótese de substituição plena do Vestibular, e sim com uma articulação entre o Enem e uma avaliação realizada pela própria Universidade. “A princípio, pretendemos propor a adoção do Enem como primeira etapa do nosso processo seletivo. Se fizermos esta opção, também alteraremos o formato da segunda etapa, mas isso ainda será muito discutido”, explica.

Objeções

A ideia de substituir o vestibular por uma nova avaliação a partir do Enem traz algumas desvantagens, diz o pró-reitor. Uma delas – apontada pelo MEC como benefício – é a possibilidade dos candidatos escolherem o curso após a realização do exame. A justificativa seria que tal procedimento garantiria a seleção dos melhores estudantes. Mas Mauro Braga antevê o crescimento dos índices de evasão. “O candidato que almejava uma vaga em Medicina, após perceber que seu desempenho na prova não foi satisfatório, poderá optar por Enfermagem. Ele tira a vaga de uma pessoa que, de fato, queria estudar Enfermagem. No ano seguinte, provavelmente fará o processo seletivo novamente e, se ele for aprovado em Medicina, abandonará o curso de Enfermagem”, analisa.

A proposta prevê também que o aluno dispute apenas um vestibular, com validade nacional. Isso facilitaria a vida de muitos candidatos, pois poderiam fazer a prova perto de sua residência e concorrer simultaneamente em até cinco universidades. À primeira vista, a ideia é boa, mas pode trazer outras implicações, como a elitização do ensino superior. “Um candidato abastado de Sergipe, por exemplo, poderia se sentir mais estimulado a estudar na UFMG. Se for aprovado, talvez acabe ficando com a vaga de um candidato pobre de Belo Horizonte. Por outro lado, um estudante pobre de Sergipe, mesmo selecionado para ingressar na UFMG, dificilmente o fará já que não possui condições financeiras para mudar de cidade”, analisa Mauro Braga.

Ensino médio

O MEC espera que o ensino médio promova uma reestruturação em seus currículos, uma vez que o ingresso nas universidades federais passaria a ser feito por meio de um exame que julgaria mais a capacidade analítica do candidato do que a quantidade de informações acumulada. “O conteúdo do ensino médio reproduz hoje o que é cobrado no vestibular. Uma nova prova mais centrada em habilidades e competências certamente terá impactos na forma como os professores e escolas irão preparar seus alunos para a seleção”, analisa o pró-reitor. Ele ressalta ainda que uma avaliação com este viés não eliminaria, mas reduziria sensivelmente o peso dos aspectos socioeconômicos. Isso porque a seleção com base na memorização favorece o candidato que não trabalha, que dispõe de mais tempo para se dedicar aos estudos e pode pagar por cursos preparatórios voltados para exposição mais intensiva de conteúdos.