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Nº 1651 - Ano 35
4.5.2009

Originada dos caminhos que levavam às reservas de ouro e diamantes da capitania de Minas Gerais no século 18 e parte do 19. Em torno dela, formaram-se 179 municípios em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Aos mestres, com carinho

Décima edição da Feira do Vale do Jequitinhonha homenageia dois importantes artesãos da região

Patrícia Azevedo

Ainda menina, Nildete Mendes aprendeu a bordar roupas e tecidos observando o trabalho da mãe e das tias. Hoje, aos 72 anos, é ela quem passa a tradição adiante. Conhecida como Dona Duquinha, a artesã já ensinou a arte de manusear linhas e agulhas para centenas de pessoas e está disposta a aumentar o número de ‘pupilos’ na 10ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha na UFMG.

Durante o evento, que acontece de 4 a 9 de maio, a Praça de Serviços receberá artesãos de 23 munícipios do Vale, entre eles Dona Duquinha. Além de expor seu trabalho, ela ministrará oficina de bordado destinada aos visitantes da Feira. A atividade será oferecida diariamente, no período da tarde, no próprio estande da artesã. O material necessário foi doado pela Diretoria de Ação Cultural (DAC), que promove o evento em parceria com o Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, a Associação dos Municípios do Médio Jequitinhonha (Ameje) e prefeituras da região.

Outra novidade é o agrupamento dos estandes por municípios, para facilitar a visualização e a localização dos visitantes. Também será realizada, pela primeira vez, homenagem a dois mestres de ofício. Este ano, os escolhidos foram Dona Duquinha, uma das mais antigas bordadeiras de Turmalina, e o ceramista Ulisses Pereira, já falecido, do município de Caraí.

“Esta é uma forma de reconhecer o trabalho destas pessoas, que dedicaram grande parte da vida ao artesanato. São eles que ensinam os mais novos e ajudam a preservar a tradição e a cultura do Vale”, conta Terezinha Furiati, produtora cultural da DAC e uma das organizadoras do evento. Segundo ela, a homenagem foi proposta pelos próprios artesãos, que buscavam uma maneira de reverenciar seus mestres, e será realizada novamente nos próximos anos.

Fonte de renda

Felipe Zig
Ulisses Mendes: artesanato com crítica social

A Feira é promovida anualmente com o objetivo de divulgar e fortalecer uma das mais tradicionais ocupações do Vale. Para os artesãos, representa uma oportunidade de ampliar o comércio de peças e produtos. “É uma ótima forma de complementar a renda familiar”, ressalta Dona Duquinha. Já os visitantes podem apreciar e adquirir trabalhos em argila, bambu, cerâmica, couro, madeira, palha e papel, além de bordados, artigos de cestaria e tapeçaria, pinturas, licores, cachaças e produtos alimentícios. “É também um espaço para a troca de experiências entre a comunidade acadêmica da UFMG, os artesãos e o público em geral”, afirma Terezinha.

Para o ceramista Ulisses Mendes, do município de Itinga, a Feira é uma oportunidade para fazer crítica social. Uma de suas peças que estará exposta se chama Viúvas dos maridos vivos, alusiva à difícil situação das mulheres do Vale, que esperam durante anos o retorno dos maridos que partiram em busca de trabalho. “A minha arte tem a preocupação de mostrar a realidade sofrida do povo”, explica Ulisses.

Enquanto tios e avós faziam potes e panelas de argila para vender, Ulisses moldava miniaturas para se divertir e passar o tempo. O que começou como brincadeira de menino hoje se traduz em renda para sustentar a família e pagar as contas da casa. Outras 15 pessoas trabalham no ateliê de Ulisses e também vivem da produção e venda de peças em cerâmica. “Fico feliz em poder ajudá-las. Gosto de ensinar, de fazer pesquisas de cores para argila, de me expressar. Minha tristeza é saber que esta tradição está diminuindo e pode acabar”, lamenta Ulisses. Segundo o artesão, os próprios filhos não quiseram se dedicar à cerâmica com receio de não conseguir retorno financeiro. “Faltam investimentos e oportunidades de divulgação do nosso trabalho”, aponta.

Programação cultural

Além do artesanato, a feira abre espaço para outras manifestações culturais do Vale. Nesta segunda, dia 4, o Coral Ouro Minas, de Itaobim, se apresenta às 12h30. Na quarta, no mesmo horário, as atrações são o contador de histórias Tadeu Martins e o violeiro Fernando Sodré. O cantor Tadeu Franco faz show na quinta-feira, às 17h. Para encerrar, Rubinho do Vale se apresenta na sexta-feira, às 12h30. Confira mais informações sobre a Feira e as atividades paralelas na página www.ufmg.br/polojequitinhonha.