Busca no site da UFMG

Nº 1670 - Ano 36
5.10.2009

Notícias recicladas

Artesãs transformam edições antigas de informativos em peças de artesanato

Diogo Domingues
MaryTakeda com as peças de artesanato trançado: novo destino para o papel de jornal

Tatiana Palhares

Dizem que jornal velho só serve para embrulhar peixe. Jornalistas, historiadores e cientistas da informação torcem o nariz para a máxima, pois acreditam que o jornal, ainda que com data de validade vencida, é fonte de informação que transcende o seu tempo. Discussões teóricas à parte, um grupo de artesãs da UFMG decidiu dar novo significado ao papel que estampa notícias e que nem sempre tem destino certo após o término da leitura: elas produzem objetos artesanais – porta-lápis, porta-ovos, cestos, vasos e caixas – usando edições antigas de publicações da Universidade, como o BOLETIM, o Pinga-Fogo (informativo da Assufemg) e O Sistemático (Cecom).

O trabalho – sugestivamente chamado de Notícias Trançadas, já que se vale da técnica de enrolar tubinhos de papel e com eles fazer uma trama – volta a ser exposto esta semana (de 5 a 9 de outubro) na Praça de Serviços em um estande da Feira de Artesanato da Associação dos Servidores da UFMG (Assufemg), que funciona das 9h às 17h. No horário do almoço e no meio da tarde também serão realizadas oficinas para os interessados em aprender a técnica.

Cinco artesãs, sendo três faxineiras da Reitoria, a filha de uma delas e uma servidora da Universidade, integram o grupo, criado no ano passado, quando a funcionária Maria Aparecida da Silva, a Cida, da área de gestão de resíduos do Departamento de Logística de Suprimentos e de Serviços Operacionais, antigo DSG, ensinou a técnica a algumas faxineiras. No início, cada uma vendia seus produtos por conta própria, todas com grande sucesso. A ideia de agregá-las em uma espécie de cooperativa surgiu em junho último, por sugestão da servidora Mary Takeda Barbosa, da Reitoria. “Este ano o mercado começou a ficar saturado, a Reitoria inteira tem porta-lápis de material reutilizado”, comenta. “Além disso, havia concorrência entre as artesãs. Por isso resolvi orientar que elas trabalhassem de forma associada”, ressalta.

De cumbuca a lixeira

Todo o trabalho de oficina e produção é realizado fora do expediente na Universidade, na hora do almoço ou em casa. No início, o campeão de vendas era o porta-lápis. “Todo mundo que trabalha em escritório precisa de um objeto como esse na mesa”, assinala Mary Takeda. Atualmente, a peça que mais tem chamado a atenção é o porta-ovos. Outra criação do grupo é o revestimento das lixeiras nas quais foram transformadas as cumbucas de areia que ficavam perto dos elevadores para receber as guimbas de cigarro. “Como foi proibido fumar dentro dos prédios, ganhamos as cumbucas de presente”, lembra Takeda.

Cada artesã tem liberdade para criar suas próprias peças. “A Cida nos ensinou a técnica de enrolar e trabalhar o papel, usar o verniz, mostrou várias opções de trabalho. A partir daí, começamos a criar e fazer coisas diferentes”, diz Takeda. Os preços dos produtos variam de R$ 4 a R$ 35.
Uma das faxineiras artesãs é Nadir Viana de Oliveira. “Foi fácil aprender a técnica, é uma terapia”. Sua filha, Simone, também aderiu. Agora, pode trabalhar em casa e cuidar dos filhos ao mesmo tempo. “Graças a Deus eu e minha menina estamos vendendo bastante”, conta Nadir.

De acordo com Takeda, a meta agora é conseguir boas vendas para que o trabalho se torne autossustentável e contribua cada vez mais com a melhoria da renda das famílias das artesãs. Mas Takeda faz questão de frisar que a remuneração não é o único resultado positivo do projeto. “Para todas nós é uma terapia produzir as peças com qualidade, ver que o pessoal gosta, compra, é superemocionante.” Além disso, há o fator ambiental. “É bom saber que estamos fazendo nossa parte, já que transformamos uma grande quantidade de papel que iria para o lixo em artesanato, produtos úteis”, salienta.