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Nº 1720 - Ano 37
22.11.2010


VIOLA MILITANTE

Projeto de conclusão de curso na UFMG, documentário narra trajetória de Pereira da Viola

Gabriela Garcia

 
Manuscrito
 

Comum na paisagem rural do Nordeste brasileiro e do interior de Minas, aboio é o canto que orienta a movimentação dos bois pelos pastos e campos. O violeiro Pereira da Viola, nascido em São Julião, no Vale do Mucuri, aprendeu essa arte em sua infância, mas hoje, em vez de gado, é um reconhecido ‘aboiador’ do movimento de violeiros em Minas Gerais.

Sua trajetória é tema do videodocumentário Aboiador de violas, produzido por Tata Lobo e Léo Rodrigues, graduados em Comunicação Social pela UFMG, e que foi lançado na última semana, no Usiminas Belas-Artes Cinema. Ele narra a relação de Pereira da Viola com o movimento cultural e político que circunda a viola caipira. O músico alia sua obra com a compreensão própria de cultura popular e o compromisso com os movimentos sociais ligados à terra. O documentário é fruto de trabalho de conclusão do curso defendido no primeiro semestre deste ano.

O interesse pela história do músico surgiu a partir de uma pesquisa de Tata Lobo sobre o movimento dos violeiros no país, que se concentra fundamentalmente em Belo Horizonte. Há, nesse movimento, uma corrente, denominada “novos violeiros”, considerada de renovação. É justamente o que Pereira da Viola faz, ao unir e misturar viola clássica e inovação musical.

Na estrada

O videodocumentário foi produzido em nove meses, durante os quais Tata e Léo percorreram quase cinco mil quilômetros no interior de Minas Gerais e da Bahia. Para condensar as 26 horas gravadas de trabalho em 62 minutos de vídeo, eles elegeram três eixos de orientação: o próprio músico, Pereira da Viola, o instrumento que ele utiliza e a ética na relação com os movimentos sociais. Os dois chegaram até mesmo a acompanhar a produção das violas na oficina do Luthier, profissional que trabalha com construção e manutenção de instrumentos musicais, em Sabará, e foram a um show de Pereira da Viola durante o Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Montes Claros.

As relações que Pereira constrói durante a vida dão o tom da narrativa. O violeiro, que vem de família de músicos, filiou-se ao Movimento dos Sem Terra (MST) já na adolescência. Ou seja, sua militância nos movimentos sociais antecedeu a dedicação à música. Hoje, segundo Tata Lobo, Pereira sofre influência dos dois lados: “A música renova esse sentimento de luta”.

Identidade cultural

A opção pela história de Pereira da Viola não veio por acaso. Tanto Léo quanto Tata atuaram no movimento estudantil durante a graduação em Comunicação Social na UFMG, participaram de gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e atribuem a essa trajetória a identificação com a ideologia do músico. Retratado no documentário, o Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) é um dos momentos que mais marcaram a dupla durante as filmagens. “Foi um choque. A CPT é uma militância diferente, acontece em outro ritmo, existe solidariedade, romantismo social. A questão religiosa também entra como uma crença na mudança social”, explica Léo Rodrigues.

De acordo com ele, o documentário se opõe à concepção de que o Brasil não tem identidade cultural nacional por causa da diversidade e extensão territorial. “A identidade nacional não é pautada pela padronização da manifestação. Não significa que a diversidade anula a identidade, ela está em uma memória que guarda elementos comuns”, argumenta.

Depois das exibições em Belo Horizonte, Aboiador de violas também será levado a São Julião. O lançamento será na primeira semana de janeiro, durante a tradicional folia de reis.

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