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Nº 1751 - Ano 37
3.10.2011

HISTÓRIA na tenda

Festival em Diamantina busca aproximar conhecimento histórico do público leigo

João Kleber Mattos

Dom João VI, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Carlota Joaquina, Condessa de Barral e Chica da Silva são exemplos de figuras que transcenderam os livros didáticos e passaram a frequentar o cinema e obras que misturam história, literatura e narrativa jornalística. Viraram personagens e contribuíram para aumentar o interesse dos brasileiros por sua própria identidade. Em sintonia com esse fenômeno, Diamantina sediará, de 7 a 12 de outubro, a primeira edição do Festival de História (fHist), que pretende aproximar a universidade e o conhecimento histórico do público leigo, principalmente dos estudantes dos ensinos médio e fundamental.

A iniciativa é uma parceria entre Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Prefeitura de Diamantina, Revista de História da Biblioteca Nacional e UFMG. A programação inclui oficinas, shows, apresentações musicais e exibição de filmes com temática histórica. O principal destaque é a Tenda dos Historiadores, espaço inspirado nas tendas da Festa Literária de Paraty (Flip), que receberá as 18 mesas de debates a serem ocupadas por 55 expoentes da pesquisa em História no Brasil, entre eles Boris Fausto, Laura de Mello e Souza, Eduardo Bueno, Ronaldo Vainfas, Luiz Mott e Fernando Novaes.

“A realização do evento está, de fato, relacionada à popularização dos temas históricos, sobretudo, pela literatura nos últimos anos”, explica o seu coordenador, Américo Antunes, ao lembrar que as obras que tratam de História do Brasil figuram na lista das mais vendidas nas livrarias de todo país. Segundo ele, esse é um dos motivos para que o fHist seja voltado para o grande público e não apenas para a comunidade acadêmica. “Diante da globalização, emerge a busca por uma identidade cultural própria”, analisa Antunes.

Diamantina foi escolhida não apenas por se constituir em cenário envolto por uma atmosfera histórica. “Também nos preocupamos em sentir a receptividade e a sensibilidade da população em relação ao Festival”, conta Américo Antunes, ao justificar a organização de uma agenda com eventos gratuitos nas ruas e museus.

Pássaros, mito e sombras

A UFMG terá participação marcante no evento, com vários dos professores de seu Departamento de História convidados na condição de debatedores ou mediadores de mesas. No dia 8 de outubro, a professora Regina Horta, do Departamento de História da UFMG, participa da primeira mesa do evento, Os trópicos entre a ciência e natureza. Ela conta que apresentará resultados de trabalho publicado nos Estados Unidos em 2006, intitulado Pássaros e cientistas no Brasil: Em busca de proteção (1894-1938). O estudo aborda o extermínio de pássaros registrado no Brasil durante as primeiras décadas do período republicano, quando o comércio de penas atingiu níveis muito elevados, levando alguns cientistas a se mobilizarem contra a prática.

No domingo, 9 de outubro, na mesa Chica, a verdadeira, a historiadora Júnia Ferreira Furtado abordará seus estudos em torno da figura histórica de Chica da Silva, a ex-escrava que conseguiu penetrar no universo dos brancos na Diamantina do século 18. Parte de seus estudos está contida no livro Chica da Silva e o contratador dos diamantes – o outro lado do mito, publicado pela Companhia das Letras. “Aqui haverá um diálogo entre história e literatura”, comenta Júnia Furtado, referindo-se à participação, em sua mesa, da escritora Ana Miranda, que atualmente escreve um romance sobre a ex-escrava.

Na terça-feira 11, penúltimo dia do evento, a professora Heloísa Starling, também do Departamento de História da UFMG, debaterá a ditadura militar no Brasil. Na mesa Tempos Sombrios, que ocupará ao lado da historiadora Marieta de Moraes Ferreira e sob mediação do professor Rodrigo Patto, da UFMG, Heloísa Starling falará sobre a instituição no Brasil da chamada Comissão da Verdade para investigar casos de violação dos direitos humanos cometidos no país durante o período.

Evento: Festival de História – Festa do ofício e das artes de contar a história
Data: 7 a 12 de outubro
Local: Diamantina
Inscrições: gratuitas para oficinas, shows, apresentações musicais e exibição de filmes; para a Tenda dos Historiadores será cobrada taxa de R$ 80 para profissionais e R$ 30 para estudantes
Programação: http://www.fhist.com.br