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Nº 1756 - Ano 38
7.11.2011

O termo surgiu em 2004 com Thomas Vander Wal, para designar uma classificação popular que se origina das ações de representação da informação desempenhada pelos usuários de diversos serviços na web. É uma inovação que explora o uso da linguagem cotidiana e o potencial das redes sociais na organização da informação.

Sem BANDEIRA

Tese de doutorado analisa como discursos do forró eletrônico conectam as noções de gênero e nordestinidade

João Kleber Matos

“Ele veio do Nordeste, mas não quer levantar uma bandeira nordestina”. Em uma frase, o professor Marlécio Maknamara, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), resume anos de estudo sobre um fenômeno da musicalidade brasileira: o forró eletrônico. O estilo é tema da tese de doutorado Currículo, gênero e nordestinidade: o que ensina o forró eletrônico?, defendida em setembro no Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação (FaE).

“É um estilo musical urbano, não restrito ao sertão, conectado a diversificadas e inusitadas formas de existência”, analisa ele, que se debruçou sobre 464 músicas de quatro das principais bandas do gênero: Aviões do Forró, Calcinha Preta, Banda Magníficos e Cavaleiros do Forró.

Como sugere o próprio título do trabalho, Marlécio trabalha com três conceitos fundamentais: currículo, gênero e nordestinidade. O primeiro remete ao que pode resultar das formas de raciocínio, saberes, valores, afetos e comportamentos suscitados pelas músicas de forró eletrônico. Gênero diz respeito às masculinidades e feminilidades demandadas pelas canções e o modo como elas são construídas e diferenciadas pelos discursos. Já a nordestinidade é compreendida como invenção e não como identidade.

Marlécio focou nas letras de música e viu-se diante de preciosidades discursivas. “Ao deparar-me, por exemplo, com um fragmento de música que dizia ‘mulher totalmente certa, difícil de encontrar’, fiz uma conexão com o adágio bíblico segundo o qual ‘mulher virtuosa, quem a achará?’.” Já o fragmento ‘ninguém fica parado, não tem hora pra parar’, se opõe ao tabu ‘homem não rebola’, enunciado que já fez bastante sentido em décadas passadas, quando a dança no Brasil era vista como arte feminina.

De acordo com o professor, o público forrozeiro aprende que o “ser homem” e o “ser mulher” são resultado de um estilo de vida forjado na festa. Uma representação bem diferente daquela que ainda circula em certa parcela do imaginário social brasileiro. “Nada de corpos disformes, encardidos, raquíticos, cariados, flagelados, folclóricos, bregas, desprezíveis, desajustados e sedentos por redenção que continuam sendo acionados pela mídia para pretensamente dizer das ‘pessoas do Nordeste’”, diz Maknamara.

Os tipos

O forró costuma ser dividido em três estilos: tradicional (ou forró pé-de-serra), universitário e eletrônico (ou elétrico). Marlécio explica que o forró tradicional é executado por um trio composto em torno da zabumba, triângulo e sanfona, seu principal instrumento, sendo recorrentemente associado à figura de Luiz Gonzaga. Já o forró universitário corresponde a uma reterritorialização do forró pé-de-serra, com o acréscimo de elementos de outros estilos musicais. “É uma espécie de releitura daquilo que é tido como ‘original’ no forró”, lembra Marlécio. Já o forró eletrônico se diferencia pela importância do teclado, do sax e da bateria na composição dos arranjos, acelerados e executados em bandas formadas não só por músicos, mas também por dançarinos e dançarinas.

“Enquanto o estilo tradicional e o universitário estão associados a um modelo de racionalidade que pressupõe essencialmente a tradição, as raízes, os costumes e a identidade do Nordeste, o estilo eletrônico não privilegia vetores identitários e regionalistas. Ou pelo menos não parece partir deles, ou com eles trabalhar, para levantar a ‘bandeira nordestina’, como deliberadamente querem os outros estilos de forró e seus defensores”, conclui o professor da UFS.

Tese: Currículo, gênero e nordestinidade: o que ensina o forró eletrônico?
Autor: Marlécio Maknamara
Defesa: 9 de setembro, junto ao Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Fae
Orientadora: Marlucy Alves Paraíso