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Nº 1757 - Ano 38
14.11.2011

O termo surgiu em 2004 com Thomas Vander Wal, para designar uma classificação popular que se origina das ações de representação da informação desempenhada pelos usuários de diversos serviços na web. É uma inovação que explora o uso da linguagem cotidiana e o potencial das redes sociais na organização da informação.

Conflito de GERAÇÕES

Trabalho vencedor do Prêmio UFMG de Teses analisa a influência da evolução dos suportes tecnológicos na escuta do rock

João Kleber Matos

Alice

Vigorosa combinação de sons que emana de guitarras, baterias e baixos, o rock proporciona uma prática de escuta fortemente associada ao avanço da tecnologia de gravação e distribuição do som. Ouvir um acorde pesado em um disco de vinil ou numa plataforma moderníssima pode resultar em experiências abissais entre gerações de aficionados pelo gênero.

É o que constata a tese Práticas de escuta do Rock: experiência estética, mediações e materialidades da comunicação, defendida pelo professor Jorge Luiz Cunha Cardoso Filho no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Fafich. O trabalho foi um dos 34 vencedores do Prêmio UFMG de Teses 2011.

Para comprovar que ouvir um disco de rock é também uma experiência de caráter tecnológico, Cardoso Filho recorreu a três álbuns emblemáticos do gênero gravados num intervalo de 34 anos. O primeiro, Dark Side of the Moon, lançado em 1973, pela banda inglesa Pink Floyd; Nevermind, de 1991, pela banda norte-americana Nirvana, e In rainbows, trabalho de 2007, do grupo inglês Radiohead.

Segundo o autor, o primeiro, em vinil, estabelecia uma escuta contemplativa com o seu público. Já o álbum do Nirvana convidava os fãs a uma experiência corporal com canções rebeldes, que nasceram em ambiente underground e conquistaram as massas no auge da indústria do entretenimento. Por último, o disco In rainbows, lançado já na era da internet, tem estrutura vinculada à tecnologia, proposta de vanguarda na qual o álbum foi disponibilizado para venda pelo preço que o internauta quisesse pagar, em um contexto de crise da indústria fonográfica.

Por trás da sucessão de aparatos e plataformas tecnológicas, há uma espécie de conflito de gerações. “Toda geração considera que sua experiência de escuta é a mais fiel; achamos que a construção do nosso tempo é melhor do que as do passado”, diz Jorge Cardoso Filho, docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Apesar das diferenças de percepção na escuta, a evolução tecnológica dos aparelhos de som é gradual. “Do vinil passou-se para a fita magnética, daí para o compact disc e depois para formatos como MP3”, diz Cardoso Filho, que embora pertença a uma geração familiarizada com as novas tecnologias – ele tem 30 anos –, entende que “a transição do analógico para o digital” provoca perda de certas nuances. “A escuta de hoje é sintética, mais artificial. E ela não conseguiu incorporar algumas qualidades típicas dos LPs, como os tons graves, que os fones de ouvido não reproduzem com perfeição”, argumenta.

Rebeldia barulhenta

O rock é uma manifestação estética caracterizada pela rebeldia juvenil. “Todo mundo aprendeu a ouvir suas músicas em som bem alto, para incomodar os pais”, brinca o professor, ao apontar o gênero como afronta à ordem estabelecida. Nascido nos anos 50, sempre esteve associado ao volume. “Era sinônimo de barulho”, diz Cardoso Filho, ao referir-se ao estigma que ainda hoje é colado ao gênero.

Apesar das resistências, o rock popularizou-se e conquistou plateias de todas as idades em várias partes do mundo. Na década de 1990, a universidade passou a olhar o rock como campo de investigação científica. “A academia contestava determinados cânones da época, o que representou oportunidade para valorizar expressões até então menosprezadas. Isso ocorreu também com outros estilos musicais, como o samba, negligenciado como objeto de estudo por muito tempo, mas que ganhou legitimidade a partir da década de 1980”, conclui Jorge Cardoso Filho.

Tese: Práticas de escuta do rock: experiência estética, mediações e materialidades da Comunicação
Autor: Jorge Luiz Cunha Cardoso Filho (UFRB)
Defesa: dezembro de 2010
Programa: Pós-graduação em Comunicação Social da Fafich
Orientador: César Geraldo Guimarães