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Nº 1759 - Ano 38
28.11.2011

Conheça os quatro homenageados

A obra-prima do maestro

O premiado Coral Ars Nova, que por quatro décadas levou o nome da UFMG a mais de 15 países, foi o maior legado do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, um dos homenageados – em memória póstuma – na edição deste ano da Medalha Reitor Mendes Pimentel. Formado em regência de orquestra na Europa, em 1964 estabeleceu-se em Belo Horizonte e, a convite do então reitor Aluísio Pimenta, tornou-se maestro titular do Coral dos Estudantes Universitários, que, desde então, passou a se chamar Ars Nova – Coral da UFMG.

Faleceu em 27 de maio de 2006, três anos depois de deixar a regência, por força da aposentadoria compulsória. Segundo seu filho, Bruno Pinto Coelho Fonseca, presidente do instituto que leva o nome do maestro, a trajetória e as conquistas de Carlos Alberto se confundem com as do próprio grupo de canto coral que ajudou a projetar. “Ele nunca aceitou os diversos convites para fixar residência, reger orquestras e coordenar corais no exterior, por causa da dedicação ao Ars Nova”, relata Bruno, que vai representar a família na homenagem prestada pela UFMG.

Ao destacar a qualidade alcançada pelo grupo, Bruno Fonseca cita a Missa afro-brasileira – de batuque e acalanto. “Foi sua composição máxima, de difícil execução, criada com base no nível do coro que ele regia”, explica, acrescentando que grande parte das obras do maestro foi editada nos Estados Unidos e em países da América Latina e tem sido executada pelos mais importantes corais do mundo.

Ao longo de sua trajetória, o Ars Nova venceu vários festivais internacionais em países como Filipinas, Grécia, Itália, Espanha e Suíça, sempre com Carlos Alberto na batuta. Ele foi regente titular da Orquestra Sinfônica da UFMG, da Orquestra de Câmara do Modern American Institute e da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Como regente convidado, esteve à frente das principais orquestras brasileiras. Também foi um dos fundadores do Festival de Inverno da UFMG, cuja primeira edição aconteceu em Ouro Preto, em julho de 1967.

Parceria por um sonho

Miguel Aun
Angela Gutierrez

O Campus Cultural da UFMG em Tiradentes (MG) terá o único museu no país dedicado a Sant’Ana e uma biblioteca que será referência sobre o barroco brasileiro. A implantação desses espaços é fruto de parceria da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, vinculada à Universidade, com o Instituto Cultural Flávio Gutierrez, criado e dirigido pela pesquisadora, colecionadora e empreendedora Angela Gutierrez.

“A parceria com a UFMG, que considero um patrimônio do Brasil, me dá forças para lutar por esse sonho”, afirma a empresária, que doou 260 imagens de artistas eruditos e populares, do século 17 ao 19, com origem nas diversas regiões do Brasil, sobretudo em madeira policromada, terracota e pedra. No caso da biblioteca, completa Angela, o projeto é enriquecido pela ligação com outras do gênero no mundo.

Ex-secretária de Cultura de Minas Gerais, Angela Gutierrez participa de conselhos como os do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Fundação Dom Cabral. Ela integra também o Conselho de Administração do Grupo Empresarial Andrade Gutierrez. Por sua atuação, recebeu o Prêmio Reina Sofia, da Espanha, o IV Prêmio BNP Paribas de Cidadania e o Prêmio Cidadania 2010, da Brasil Foundation, com sede em Nova York. O Instituto Cultural Flávio Gutierrez, que conta com a chancela da Unesco, já exibiu suas coleções em países como França, Portugal, Itália, Inglaterra e Estados Unidos.

A doação de acervos da colecionadora já viabilizou a criação dos museus do Oratório, em Ouro Preto, e de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, cidade natal de Angela. O objetivo é sempre contribuir para o resgate da memória cultural brasileira. “Tenho profundo respeito pelas raízes brasileiras e paixão pela cultura de Minas Gerais”, ela declara.

Para Angela, o país sempre tratou mal sua memória, e é preciso recuperar o tempo perdido. Mas ela se diz otimista: “Percebo que as coisas estão caminhando com a formação de uma consciência coletiva de respeito e conhecimento de nosso passado”.

Entre a língua e a literatura

Acervo pessoal
Ângela Tonelli Vaz Leão

Aos 89 anos, ela acaba de lançar o terceiro livro sobre a obra poética de D. Afonso X, o Sábio, e prepara-se para publicar no início do ano que vem a edição ampliada de História de palavras, obra de 1961 com estudos sobre lexicologia. Professora de latim, francês e espanhol e suas respectivas literaturas, referência nacional na área de linguística, Ângela Tonelli Vaz Leão comenta que sempre buscou trabalhar “naquilo em que a palavra pode ser entendida como instrumento da arte”.

Assim, em vez da gramática, dedicou-se à estilística, “zona fronteiriça entre a língua e a literatura”. Em seus artigos sobre problemas literários está, por exemplo, leitura sobre a arte na obra Os sertões, de Euclides da Cunha. Ensaio de sua autoria sobre Cadeira de balanço, de Carlos Drummond de Andrade, passou a figurar como prefácio a partir da segunda edição dessa obra.

Sem planos de deixar de trabalhar, a professora conta que há quase 70 anos sua vida está ligada à UFMG. “Fiz-me gente por meio da Universidade, pela qual tenho uma gratidão e um amor muito grandes”, resume. A contragosto, aposentou-se aos 64 anos, para não esperar o afastamento compulsório, e passou a trabalhar na PUC Minas. Orgulha-se de ser professora emérita da UFMG, vínculo pelo qual, brinca ela, a instituição de certo modo reparou o “desaforo da expulsória”. Mantém intenso contato com a Faculdade de Letras (Fale) – da qual foi a primeira diretora –, onde participa de bancas de concursos, emite pareceres e ministra palestras e cursos.

Sua trajetória nas artes não a impediu de contribuir para a configuração administrativa da Universidade. Na década de 1960, compôs, ao lado dos professores Pedro Parafita de Bessa e Alisson Guimarães, a comissão que propôs ao Ministério da Educação a nova estrutura da UFMG, com a criação dos institutos – Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Geociências – e das faculdades de Educação e de Letras. Também integrou as pró-reitorias (conselhos à época) de pós-graduação e de pesquisa.

Uma íntima relação

Divulgação
Grupo Galpão

De uma oficina de teatro de rua do Festival de Inverno da UFMG ao reconhecimento dentro e fora do Brasil, passando por uma temporada de consagração no Shakespeare’s Globe Theatre, em Londres. Prestes a completar três décadas de existência, o Grupo Galpão, ao voltar à UFMG para receber a Medalha Mendes Pimentel, relembra os tempos de estudantes de alguns de seus membros, como Eduardo Moreira e Chico Pelúcio, e a época em que, antes de contar com uma sede, ensaiava e guardava cenários e figurinos na Fafich e na Escola de Arquitetura.

“Temos uma relação íntima com a Universidade, das oficinas que frequentamos em Diamantina àquelas que ministramos e aos espetáculos que apresentamos”, confirma o ator e diretor artístico Eduardo Moreira, que já foi homenageado pela UFMG como ex-aluno.

A primeira peça do grupo – E a noiva não quer casar – estreou na Praça 7, no Centro de Belo Horizonte, e desde então o Galpão desenvolve pesquisas e experiências com elementos cênicos, gêneros de interpretação e linguagens diversas. Responsável por um teatro de intensa comunicação com o público, o grupo esteve em todas as regiões do Brasil e em 19 países, em turnês de espetáculos como Romeu e Julieta, A rua da amargura, Um Molière imaginário e Um homem é um homem.

A fidelidade do público do Galpão é contrapartida à postura do grupo com relação a certos conceitos. “Nesses 30 anos, com trajetória consolidada, nos mantivemos fiéis a princípios como os de teatro de grupo, pesquisa, busca de novas linguagens e à prática de uma arte popular”, afirma Eduardo Moreira.