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Nº 1769 - Ano 38
2.4.2012

Os povos da Amazônia

Seminário vai reunir antropólogos e arqueólogos para discutir pesquisas sobre indígenas da bacia do rio Trombetas

Cinthya Oliveira

Para discutir os estudos mais recentes sobre os indígenas da Amazônia, com foco na região da bacia do rio Trombetas, na região das Guianas e Norte do Pará, pesquisadores da área de antropologia e arqueologia de diferentes instituições brasileiras estarão reunidos em seminário de 11 a 13 de abril. A iniciativa de voltar o olhar para essa região se deve ao fato de ela ser pouco explorada do ponto de vista das pesquisas.

“Mas o debate também tratará da Amazônia como um todo, com a participação de vários pesquisadores que trabalham na região central da floresta”, explica o professor Ruben Caixeta, da Fafich, um dos organizadores do Seminário de Antropologia e Arqueologia na Amazônia, que terá lugar em diversas unidades do campus Pampulha.

De acordo com Caixeta, a etnologia é forte na região da Amazônia, e o seminário pretende tratar de aspectos como organização social e política dos povos indígenas. “Na bacia do rio Trombetas, podem ser encontrados vários grupos que se mantêm mais isolados, como os Waiwai, Hixkaryana, Kaxuyana, Katwena e Xereu”, enumera o professor.

A proposta de criação de um museu para a região Norte que abrigue acervo cultural desses povos é outro ítem da pauta do encontro. O objetivo é pensar a constituição técnica e política da instituição. “É uma vontade dos índios disporem de um museu para o registro material e imaterial que referencie o passado de seus grupos”, relata o arqueólogo e professor da UFMG André Prous. No dia 14, após o término do seminário, reunião entre pesquisadores e indígenas começará a definir critérios e procedimentos para a formulação de proposta de constituição do museu sobre os povos indígenas da calha do rio Trombetas.

O seminário vai abrigar também debate sobre comunidades quilombolas presentes na região. Vários grupos de escravos se refugiaram nas cabeceiras do rio Trombetas e dos seus principais afluentes, ainda no século 19. Ali, estabeleceram contatos e absorveram o modo de vida dos indígenas. 

Programação

O Seminário de Antropologia e Arqueologia na Amazônia será aberto com a palestra, no dia 11, às 10h, do professor da University of East Anglia e membro do Grupo de Antropologia Visual da USP Aristóteles Barcelos Neto, sobre Plástica e performance de máscaras rituais na América do Sul indígena: repensando sistemas mito-músico-coreográficos. À noite, a conferência de abertura Arqueologia na Amazônia hoje será feita pelo arqueólogo e professor da USP Eduardo Goes Neves.

Nos dias seguintes, mesas-redondas e grupos de trabalho vão tratar de temas como cerâmica na Amazônia, patrimônio material e imaterial nas sociedades indígenas, pesquisas recentes nas áreas de arqueologia e etnologia, pintura rupestre e vestimenta indígena, terras pretas de índio da Amazônia e interpretação paleoambiental e cultural. O evento será encerrado com exibição de filmes de pesquisadores participantes do seminário.

Mais informações em www.fafich.ufmg.br/nug e www.facebook.com/events/127421320716203.

Caloura na Medicina e no cinema

Uma caloura do curso de Medicina da UFMG faz sua estreia também no cinema. Danielle Soprano – que atende ainda pelo nome de Adana Kambeba –, aprovada no vestibular indígena deste ano, estará nas telas de todo o país a partir de 6 de abril como atriz do filme Xingu, dirigido por Cao Hamburger.

Adana pertence à etnia Kambeba, localizada no estado do Amazonas, e mudou-se no início do ano para Belo Horizonte. Ela e mais 11 alunos compõem o terceiro grupo que ingressa na UFMG a partir do vestibular indígena, criado em 2010.

Xingu resgata a trajetória dos irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas, três dos mais importantes nomes do indigenismo brasileiro. Na década de 1940, eles coordenaram a Expedição Roncador-Xingu, que tinha como objetivo reconhecer e explorar a região central do país. Responsáveis pelo contato com índios isolados, os Villas-Bôas criaram, em 1961, o Parque Nacional do Xingu, onde atualmente vivem cerca de 5.500 índios de 14 etnias. No filme, os irmãos são interpretados pelo trio de atores João Miguel (Cláudio), Felipe Camargo (Orlando) e Caio Blat (Leonardo).

Escolhida em testes para os quais se inscreveu depois da insistência de uma amiga, Adana interpreta Kaiulu, par romântico de Cláudio Villas-Bôas. “Participar do filme tem sido muito importante pela oportunidade de conhecer irmãos de outros povos e de trabalhar com eles para contar a história de como foi criada uma das maiores reservas indígenas do mundo”, afirma Adana.

Em menos de um mês na UFMG, ela se diz entusiasmada com o curso e faz planos, com outros alunos, para um evento em 19 de abril, o Dia do Índio. A ideia é reunir alunos e lideranças e discutir, entre outros temas, a presença indígena na universidade. “A história da criação do Parque do Xingu evidencia a busca do reconhecimento do território e autonomia indígena. Assim também é a história dos estudantes indígenas da UFMG. Viemos de longe para, por meio dos estudos, levar um pouco de autonomia para os nossos povos”, afirma Adana Kambeba.

(Com informações da Comissão de Acesso e Permanência dos Estudantes Indígenas)