Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 2 - nº. 5 - Junho de 2004 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
Por dentro da UFMG

Inclusão
Para todos

Assistência ao estudante
Uma mão lava a outra

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Ciências Biológicas

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De corpo e alma

Artes Cênicas

Artes Cênicas impulsiona expressão corporal e desenvolvimento intelectual

A primeira aula de teatro que Cristina Vilaça fez foi “arrebatadora”. Tanto que ela, já não muito satisfeita com o rumo que tomava sua vida profissional, decidiu abandonar o curso de Direito, no sétimo período, e seguir em direção aos palcos, mesmo sem qualquer experiência anterior. Foi um percurso intenso, mas, tempos depois de ter completado o curso de teatro da Fundação Clóvis Salgado e após ter o sucesso como atriz atestado pela conquista de diferentes prêmios, Cristina animou-se a fazer parte da primeira turma do curso de Artes Cênicas, em 1999. “A Universidade nos dá muitas informações que estão pulverizadas, condensa o conhecimento e fomenta o debate. Ali é o lugar da experimentação e onde o aluno se instrumenta para escolhas conscientes”, assinala

Foca Lisboa

Apesar de seu desempenho, Cristina aponta dificuldades em ser atriz de teatro longe do maior centro cultural do país. “O único lugar onde você consegue fazer carreira só no teatro e com prestígio é em São Paulo. Até no Rio de Janeiro, os atores dependem, também, da teledramaturgia”, analisa, destacando que atores e atrizes ainda têm que apostar em outras atividades para sobreviverem, mesmo que sejam atividades ligadas à própria área cultural e artística.

Os atores, afirma Cristina, costumam trabalhar na produção. Ela não quer muito isso, a não ser em pequenas produções. “Quero trabalhar com textos, dando aula”, assegura, ressaltando o quanto o curso de Artes Cênicas foi importante na sua carreira. “O mercado restringe sua atuação e a escola faz o contrário. Na escola, você tem a chance de experimentar, dispõe de professores de linhas diferentes e, por isso, conhece um universo muito mais amplo do teatro. No curso, teoria e prática se completam e você trabalha com elementos que vão ser referências para suas escolhas, porque o intelecto e o corpo estão mais bem preparados”, diz ela.

Essa afinidade do trabalho simultâneo de corpo e intelecto mudou totalmente a vida de Lucilene Neves Franco, de 34 anos. No sétimo período de Artes Cênicas, ela lembra que foram necessários nove Vestibulares para que se tornasse aluna da UFMG. Tantos foram os cursos que tentou que ela nem mais se lembra direito da lista, que tem, entre outros, Fisioterapia e Direito. “Eu já fazia teatro desde os 23 anos e, quando fiz as provas, no primeiro ano de Artes Cênicas, fui reprovada. No ano seguinte, se eu não passasse, já tinha decidido que não tentaria mais, porque me sentia a pior pessoa do mundo e carregava o estigma de que a UFMG não é para quem estudou em escola pública como eu”, recorda.

Vencido o Vestibular, Lucilene se sente “maravilhada” com a própria transformação, atribuída, em maior parte, ao curso. Aos 16 anos, ela foi atropelada e, até hoje, vive as conseqüências do acidente que a deixou tetraplégica por oito meses. “Nas Artes Cênicas, tive professores muito dedicados e que me ajudaram enormemente a desenvolver os meus limites. Corporalmente, a UFMG foi a minha salvação. O curso me possibilitou um reencontro com o meu corpo. Intelectualmente, consegui avançar anos e anos, porque, quando entrei no curso, tinha uma boa prática, mas não sabia quase nada de teoria e de história do teatro, o que, hoje. percebo, limitava muito a minha relação com as Artes Cênicas”, testemunha.

Foca Lisboa
LUCILENE atribui ao curso o reencontro com o corpo e avanços intelectuais

“Formamos atores”

O curso de Artes Cênicas é, essencialmente, prático e leva os alunos a uma reflexão que só é possível na Universidade. Essas e outras informações são ressaltadas pela professora Rita Gusmão, coordenadora do Colegiado de Graduação, que deixa claro o que o estudante vai encontrar depois de ser aprovado no Vestibular.

Artes Cênicas é um curso voltado especialmente para formação de atores?

Na UFMG, sim. Aqui, trabalhamos o teatro como linguagem principal, preparando profissionais para atuar ao vivo.

É um curso em que o talento conta muito?

Em todas as profissões, o talento conta muito. Mas valem, principalmente, a dedicação pessoal e a disposição para estudar, para se integrar aos projetos de pesquisa, por exemplo.

Da maneira como o curso está estruturado, o que o aluno vai encontrar?

O nosso projeto é de multiplicidade, de levar o estudante a conhecer as mais variadas expressões teatrais da contemporaneidade. E o curso divide-se em quatro áreas de conhecimento. Temos a preparação corporal e os estudos teóricos, de interpretação e de voz. Em cada um desses campos, o estudante vai encontrar informação técnica, experimentação e elaboração cênica. E tudo isso será transformado em espetáculo para o público, cujo olhar e formação também pesquisamos.

Para entrar no curso, é exigida uma prova específica de atuação. Isso quer dizer que o curso exige uma experiência anterior na área?

O curso prefere. É desejável que o aluno tenha experiência anterior, porque, aqui, ele pode aprofundar essa experiência, sistematizar a forma de conduzir o trabalho no campo profissional. E, também, porque acreditamos ser importante valorizar o trabalho das escolas de formação técnica.

Existe uma grande necessidade prática dentro do curso?

O curso é 80% prático.

Foca Lisboa
De acordo com RITA, curso prepara para atuar ao vivo

E como essa prática se estabelece?

Mediante a informação técnica dada pelos especialistas responsáveis pelas disciplinas. Estabelece-se, também, nas reflexões teóricas, quando o aluno é levado a pensar como, corporalmente, aquilo se traduz, que tipo de teatro está acontecendo em nossos dias. O curso é pensado para o aluno entrar em contato com a realidade da profissão.

Quem faz o curso se sente capacitado para dirigir, trabalhar com cenografia, iluminação?

Não. O curso é um bacharelado em interpretação teatral, na formação de atores. Na licenciatura, trabalhamos com a idéia da direção como processo de ensino. Quem faz a modalidade licenciatura, adquire vivência maior em direção.

Normalmente, os alunos fazem as duas modalidades. Eles podem pedir Continuidade dos Estudos?

Podem e isso acontece costumeiramente. Cerca de 60% dos alunos saem com as duas habilitações.

Como o curso superior consegue se diferenciar dos cursos técnicos?

Principalmente, pelo fato de que, na Universidade, aprofundamos a formação, levando o aluno, inclusive, a reflexões críticas sobre essa formação. No curso técnico, o estudante adquire vivência, desenvolve sua atuação e a compreende tecnicamente. Aqui, além do desenvolvimento crítico, vamos levá-lo a localizar-se na história do teatro e em termos de estilo.

O curso já montou quatro peças. Elas funcionam como trabalho final da formação superior?

Temos três práticas de montagem: no quinto, sexto e sétimos períodos. Em geral, as três vão “a cartaz”. Mas procuramos investir em que a do último período tenha temporada mais longa.