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Histórias de uma memória
convite da Editora UFMG, o jornalista Villas-Bôas Corrêa esteve em Belo Horizonte, no dia 23 de setembro, para lançar seu livro Conversa com a memória, que, segundo o autor, registra testemunhos de uma vida de emoção, de muito trabalho e de compromisso com a verdade.
Villas-Bôas Corrêa começou sua carreira jornalística em 1948, no jornal A Notícia, do Rio de Janeiro. Em Conversa com a memória, ele revolve as lembranças de meio século de jornalismo político. Foram inúmeros os encontros com figuras-chave da política nacional. Dezenas de telefonemas para assegurar suas fontes. Centenas de noites viradas em redações em busca do texto capaz de radiografar a dança das cadeiras dos partidos e seus representantes.
Em noite de autógrafos no Conservatório UFMG, ele recebeu do governador Itamar Franco a Medalha da Inconfidência, pelos relevantes serviços prestados a Minas Gerais em seus 54 anos de jornalismo. Antes, participou de um debate com a historiadora Heloísa Starling e o jornalista Carlos Lindenberg.
Villas-Bôas Corrêa concedeu, à TV UFMG, entrevista que, a seguir, o Boletim reproduz editada.
O senhor faz no livro uma espécie de lamento. Escreve
"tenho o sentimento do dever cumprido, mas do tempo perdido". Por
que essa afirmação?
Na verdade, nem me lembro dessa frase. Deve ter sido um momento de depressão.
Não tenho a sensação de tempo perdido. Nunca tive vontade
de fazer outra coisa, desde a minha entrada na redação de A
Notícia. Ali, eu vi que tinha uma vida pela frente, que as coisas
que escrevia tinham repercussão, balançavam a roseira. Gosto
tanto da minha profissão que quero ver se consigo morrer trabalhando.
O senhor se sente confortável ao remexer e publicar
tantas memórias?
Para mim, redigir não é uma coisa confortável. Escrevo
como profissional, por dever. Este livro mesmo, custei muito a escrever. Resolvi
fazê-lo porque sou o único sobrevivente em atividade daquela
geração fantástica de jornalistas, que cunhou um tipo
de cobertura política que está em vigor até hoje com
algumas adaptações e distorções. E até
parece ironia do destino: o mais medíocre de todos ficar para contar
a história...
O senhor deixa registrado em alguma página do livro
que não faz história, conta apenas o que viu. Tem certeza disso,
já que esteve presente em tantos momentos históricos importantes
para o país?
Cada categoria tem até um nome próprio. Quem faz história
é historiador. Quem faz literatura é literato. Eu não
faço literatura nem história. Sou repór ter, faço
reportagens políticas. E, no meu setor, faço crônica assinada,
que é, de alguma maneira, o topo da escada. Uma escadinha pequena,
de poucos degraus. De modo que nunca me sinto assumindo a posição
de historiador, com obrigação de seguir criteriosamente a citação
de datas e personalidades. No livro, procurei seguir um roteiro geral, um
esboço que fizesse sentido.
Quais são as características que um repórter
político deve perseguir na profissão?
Falo de um modelo e tento explicá-lo nas 240 páginas do
livro. Mas você pode resumi-lo em quatro ou cinco qualificações
fundamentais. O repórter tem que ser absolutamente isento, imparcial
e deve ter capacidade de articulação de um texto, evidentemente.
Além disso, visão interpretativa, já que o fato político
precisa ser entregue ao leitor com as explicações sobre o que
aquilo representa e seus desdobramentos.
Entre os jornalistas, é comum a discussão
da relação com a fonte. Como o senhor vê isso?
Em princípio, fujo à discussão sobre ética
do jornalismo, embora reconheça que isso deva ser uma preocupação
do dono do jornal, do editor-chefe.
Mas por que o senhor foge da discussão?
Porque isso é uma conversa fiada. Porque quando o jornalista tem
dificuldade de reconhecer o que é certo e o que é errado está
na profissão errada. Nesse caso, ele não precisa de lição
de ética, precisa mudar de profissão. Isso é coisa de
caráter. Outra coisa é esse preconceito de achar que o jornalista
deve ter uma relação de robô com a fonte. Ora, eu sou
repórter há 54 anos: será que neste tempo não
estabeleci relações na área em que trabalho? São
anos e anos que me fornecem informações. Eu vivo delas.
O que o senhor vislumbra para o futuro do Brasil?
O país não vai acabar, apesar de, às vezes, eu ter
uma sensação de fundo de poço na área política.
Estou convencido de que esse modelo de congresso, por exemplo, não
agüenta muito tempo. O congresso, não só o brasileiro,
atravessa uma fase de desprestígio internacional e terá que
ser repensado. Mas, como não se pode viver sem congresso, que outro
fórum democrático será proposto para ser o lugar do debate
nacional?
Essa remodelação não poderia nos
conduzir a modelos autoritários?
Só acredito em democracia, não tenho nenhuma sedução
por regimes de força. Tivemos uma experiência aqui recentemente.
Eles alcançaram êxito em algumas coisas, mas na área política,
a Redentora foi uma calamidade, uma catástrofe. Isso é uma coisa
que a História não vai perdoar nunca.
O senhor acha que o país tem dado mostra de que
aprendeu a lição?
Não. O país é aluno repetente, muito pouco estudioso,
pouco atento e também obtuso. Mas tem futuro.