Busca no site da UFMG

Nº 1629 - Ano 35
13.10.2008

Terreno fértil para a inovação

Inova-UFMG incuba duas novas empresas de base tecnológica

Manoella Oliveira

A Inova-UFMG divulgou, no último dia 6, o resultado do processo seletivo de seu Programa de Incubação, que contou com a participação de 34 projetos. Para pré-incubação foram aprovados cinco empreendimentos, ainda sem nome fantasia. Já as empresas a serem incubadas são a In Vitro Cells – Toxicology Research, pré-incubada na própria Inova, e a Econ – Engenharia de Controle Industrial, apoiada anteriormente pelo Inovatec, Centro de Empreendedorismo e Inovação do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, sob a coordenação do professor Cristiano Becker, recentemente falecido.

As atividades dos empreendimentos selecionados terão início ainda este mês. O programa oferece infra-estrutura e serviços básicos para inserir empresas iniciantes no mercado, contribuindo para aumentar sua capacidade competitiva. O apoio consiste em espaço físico, internet, ramal telefônico e cursos de capacitação. O prazo de incubação é de seis meses, podendo ser renovado até o limite de dois anos. Saiba um pouco mais sobre as duas empresas que serão incubadas pela Inova-UFMG.

Mais segurança para a técnica in vitro

Filipe Chaves
Carlos Tagliati e Miriam Chaves: técnica avalia efeitos moleculares no organismo

A proposta da empresa In Vitro Cells – Toxicology Research está focada em uma nova tecnologia baseada na transdução de sinal – tradução que a célula faz de uma informação exógena, proveniente de uma molécula –, que busca aperfeiçoar a técnica in vitro, procedimento que faz uma triagem de moléculas testadas e elimina as detectadas como tóxicas das próximas fases do processo.

Tais testes podem ser aplicados em alimentos, fármacos e cosméticos, mas, inicialmente, a In Vitro se aterá a este último grupo, pensando em atender as empresas exportadoras. A estratégia é voltada para a nova legislação da Comunidade Européia que, a partir de 2009, começa a exigir testes de segurança específicos para liberar a venda de cosméticos. Um dos objetivos é que os animais sejam excluídos do processo, de forma que a tecnologia in vitro substitua a in vivo.

O Brasil, terceiro maior exportador e consumidor de cosméticos do mundo, caminha na mesma direção. No país, já existe um conjunto de testes voltados para transição da tecnologia in vivo para a in vitro. A tecnologia da empresa, de acordo com a sócia e professora Miriam Martins Chaves, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, traz benefícios como a previsão de interações medicamentosas, grau de toxicidade por dose e, principalmente, a grande vantagem de verificar a toxicidade em cada ponto do corpo, em diferentes órgãos, uma vez que o metabolismo é diferenciado.

“O que estamos avaliando são efeitos moleculares causados no organismo. É um processo de maior segurança. Nossa tecnologia melhora a já existente que só diz se é tóxico ou não”, afirma. A técnica também detecta se a droga é tóxica caso ingerida continuamente. O recurso é importante para evitar situações como a provocada pelo Vioxx, prescrito para combater a artrite e um dos medicamentos mais vendidos do mundo até ser retirado do mercado em 2004. Estudo revelou, no entanto, que, consumida por mais de 18 meses, a droga aumenta os riscos de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.

Os ganhos ambientais com o uso da tecnologia in vitro também são expressivos. Outro sócio da empresa, o professor Carlos Alberto Tagliati, do Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Farmácia, informa que a tecnologia também diminui os descartes no ambiente, uma vez que não utiliza solventes tóxicos e se vale de quantidades mínimas de substâncias para testes – um volume de 10 mil a 100 mil vezes menor, dependendo da técnica – em relação aos experimentos in vivo.

Controle na linha de produção

Foca Lisboa
Tarik e Rafael: software para monitorar pontos críticos de processos industriais

Levar tecnologia para processos industriais por meio de produtos e serviços com objetivo de aumentar o retorno financeiro, a produção e a qualidade, minimizando rejeitos e o desperdício. Essa é a proposta da Econ – Engenharia de Controle Industrial, que tem como sócios os ex-alunos Rafael Araújo, Tarik Simão e Pedro Felipe Carrião, do curso de Engenharia de Controle e Automação da UFMG. Ela ganhará materialidade em um software de monitoramento dos processos de produção. A ferrramenta permitirá o diagnóstico de possíveis falhas nos processos térmico, hidráulico e de compressão de materiais.

Por enquanto, a Econ concentrará esforços nas indústrias de processo contínuo, como a petroquímica, a de mineração e a de base. Nesses casos, não existe linha de montagem, mas beneficiamento e transformação, perfil que demanda mais esse tipo de controle. Aqui, o retorno também é mais expressivo. “Uma economia de combustível da ordem de 5%, por exemplo, significa muito em termos financeiros, dado o volume de produção dessas indústrias”, exemplifica Rafael Araújo.

Como exemplo, Tarik Simão cita a siderurgia, um dos principais alvos do software. Para produzir uma chapa de aço, por exemplo, a matéria-prima é inicialmente aquecida no alto-forno e vira ferro-gusa. Depois, na aciaria, ocorre a transformação térmica e química (que envolve, entre outros processos, a oxigenação do ferro e aquecimento), que dá origem ao aço. Na fase seguinte, a laminação, se dá a conformação da chapa. “São várias etapas e em todas elas existem detalhes operacionais que devem ser seguidos, como o ponto de vazão de minério e a temperatura e pressão ideais”, explica Tarik.

O sistema de automação atua exatamente para otimizar esse tipo de processo, realizando medições que possibilitam estabilizar os pontos críticos. Os ganhos são a redução de custos e do consumo de matérias-primas e insumos. Em fornos de aquecimento da laminação, que funcionam a gás ou a óleo, o uso do software permitiria, segundo cálculos dos empreendedores, a diminuição mensal de 182 mil litros de óleo, além da queda dos níveis de emissão de gás carbônico na natureza.