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Nº 1629 - Ano 35
13.10.2008

Ao gosto do freguês

Professor da EBA desenvolve exposição de arte computacional com instalações que se modificam de acordo com as referências do usuário

Arquivo Francisco Marinho
Usuários interagem com o Palavrador: “livro dentro de outro”

Paula Lanza

Manuseado, o livro “percebe” que está sendo lido e resolve rearranjar frases e palavras ao gosto do leitor. A analogia é usada pelo professor Francisco Marinho, da Escola de Belas-Artes, para explicar o funcionamento da instalação Palavrador OpenBook 2.0, que mantém uma curiosa interação com seus usuários. Com sensores embutidos em páginas, esse “livro dentro de outro” produz um mundo virtual tridimensional de poesias e sons.

O Palavrador é uma das atrações da mostra de arte computacional apresentada por grupo coordenado pelo professor Francisco Marinho durante o II Seminário Professores Residentes do Ieat, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) no dia 8 de outubro.

A exposição consiste em instalações de arte computacional com personagens de jogos comandados por procedimentos de inteligência artificial de sistemas computacionais (non player characters) capazes de perceber o usuário e se modificar em função das escolhas e preferências de quem frui a manifestação artística. “A partir de interfaces eletromecânicas que funcionam como sensores, os dados dos usuários são recolhidos e transformam o ambiente de apresentação”, revela o professor. “O que configura a arte computacional é uma interação não-linear, a participação de várias pessoas simultaneamente para gerar a obra em tempo real”, acrescenta. O projeto tem a arte como ponto de partida, mas envolve outras áreas do conhecimento, como robótica, biologia e informática.

Minhoca e poema

Além do Palavrador, o visitante conferiu também outra obra curiosa: o Poeminhocas 1.0, software que faz uma projeção de minhocas formadas por letras que se movimentam aleatoriamente e são atraídas pela luz que o usuário segura. “Quando as luzes são acesas, as ‘minhocas’ começam a trafegar entre os pontos circulares determinados pela posição das luzes. Assim, elas vão de um ‘ponto usuário’ ao outro acendendo e apagando as luzes, formando coreografias poéticas visuais”, esclarece Marinho. Na exposição, o espectador também interagiu com uma mesa “multitoque” que revela uma constelação. Ao tocar com os dedos, o visitante pode apreciar desenhos e figuras que se fundem, nos quais são gravadas memórias fictícias do passado da artista computacional Marília Bergamo, uma das idealizadores da exposição.

Ao todo, a mostra contou com cinco trabalhos de arte computacional, resultado dos esforços do grupo 1maginári0 - Poéticas Digitais, que nasceu no Ieat quando Marinho ainda era professor residente. O grupo, que existe há quase um ano, é formado por especialistas da UFMG e de outras universidades brasileiras, como a PUC Minas e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), além da norte-americana State University of New York at Buffalo.

Segundo Marinho, o grupo começou a se esboçar há dois anos durante o Festival de Inverno da UFMG. É dessa época a concepção da versão 1.0 do Palavrador, apenas em meio digital. Ela recebeu o Prêmio de Poesia Digital Ciudad de Vinaròs, na Espanha. A versão 2.0 do Palavrador Open Book é o principal resultado de sua pesquisa junto ao Ieat. Foi exibido na ACM Siggraph 2007 em San Diego, nos Estados Unidos, um dos mais importantes eventos de computação gráfica do mundo.

“O grupo ganhou força a partir de minhas pesquisas no Ieat”, revela Francisco Marinho, referindo-se às oficinas transdisciplinares e projetos que surgiram desde então. De acordo com ele, nas duas últimas edições do Festival de Inverno da UFMG (2007 e 2008), oficinas transdisciplinares e projetos especiais foram articulados por membros do grupo. O projeto de pesquisa O silêncio, a sombra e o silício: experiência da arte computacional em instalações interativas e imersivas, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), também está ligado à equipe.

Além da mistura de arte e tecnologia, outro desdobramento do período de residência de Marinho no Ieat e dos trabalhos do grupo 1maginári0 é a criação do curso de Cinema de Animação e Artes Digitais, com entrada no Vestibular 2009. “A partir de nossas experiências, percebemos a necessidade de estruturar um curso para formar profissionais capazes de produzir animações e trabalhar na criação de jogos e softwares interativos”, revela Marinho. O curso é viabilizado pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Segundo o professor Marinho, são poucas as universidades na América Latina que oferecem formação nessa área. “O curso será mais uma forma de incrementar a exploração das possibilidades da linguagem”, completa.