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Nº 1643 - Ano 35
9.3.2009

Mola propulsora da inovação

Biofarmacêutica é objeto do primeiro mestrado
profissional instituído na UFMG

Léo Rodrigues

Os mestrados profissionais são cursos de pós-graduação stricto sensu que buscam oferecer uma formação sistematizada para um trabalho profissional. Essa modalidade se difere do mestrado acadêmico, voltado para a formação de um docente ou pesquisador, dotando-o de conhecimento do método científico. No caso do curso de Inovação Biofarmacêutica, o estudante é estimulado a produzir um conhecimento novo, que eventualmente possa se transformar em patente.

A Universidade deve se voltar para o desenvolvimento regional, nacional e internacional. Esse princípio, expresso em um artigo do Estatuto da UFMG, parece ter seu sentido revigorado com a iniciativa da Instituição de lançar seu primeiro mestrado profissional. O curso de Inovação Biofarmacêutica, proposto pelos departamentos de Farmacologia e de Fisiologia e Biofísica, ambos do ICB, e de Química, do ICEx, pretende contribuir para alavancar novidades na indústria farmacêutica. A primeira turma, composta por 11 estudantes, deve começar as aulas na segunda quinzena de março.

O curso de Inovação Biofarmacêutica tem o objetivo de formar profissionais que atuam ou pretendem atuar na indústria nacional e no desenvolvimento de produtos farmacêuticos de alto valor agregado. Segundo a professora Maria José Campagnole-Santos, coordenadora do programa de pós-graduação em Fisiologia e Farmacologia, o estudante será treinado para dominar as diversas etapas de produção e teste de uma substância. “Ele sairá do curso sabendo verificar, por exemplo, se um novo produto é tóxico ou não”, afirma a professora.

Para dar conta dos desafios lançados, o caráter interdisciplinar é fundamental. Este é o motivo que levou a iniciativa a receber a adesão de várias áreas. Além dos proponentes, há colaboração de departamentos sediados nas faculdades de Farmácia, de Direito e de Ciências Econômicas. “O curso busca proporcionar conhecimentos que subsidiem não apenas a criação de novos compostos e seus testes, mas também o trabalho relacionado à proteção da propriedade intelectual. Por isso, ter noção da legislação e de aspectos econômicos e administrativos é muito importante”, diz Maria José. Segundo ela, o estudante receberá uma formação geral, mas terá que optar por uma das três áreas de concentração: biotecnologia e formulações farmacêuticas, ensaios pré-clínicos e propriedade intelectual.

Lastro de excelência

Filipe Chaves
Robson Santos
Robson Santos: estímulo à interação universidade-indústria

A colaboração entre os departamentos de Química e de Fisiologia e Farmacologia tem um histórico de sucesso na UFMG. Em 2001, um trabalho conjunto apoiado pelo Fundo Fundep contribuiu para a melhoria dos respectivos programas de pós-graduação. O programa de Fisiologia e Farmacologia, por exemplo, atingiu o conceito 7, o maior da Capes.

O trabalho realizado em 2001 possibilitou novas articulações para o crescimento do programa em Fisiologia e Farmacologia. Foi neste contexto que surgiu a primeira patente da Universidade associada ao tratamento da hipertensão: um anti-hipertensivo de ação prolongada. A empresa Biolab entrou com um pedido de transferência de tecnologia e hoje o produto está sendo submetido a testes clínicos, podendo se tranformar, em breve, em novo medicamento no mercado.

Os trabalhos de pesquisa do anti-hipertensivo foram conduzidos pelos professores Robson Santos e Frédéric Frézard, do Departamento de Fisiologia e Biofísica, e Rubén Dario Sinisterra, do Departamento de Química. O primeiro foi designado para presidir a comissão coordenadora do mestrado profissional em Inovação Biofarmacêutica. “O nosso contato com os processos de transferência de tecnologia nos mostrou a necessidade de aprofundar a interação universidade-indústria. Foi essa visão que motivou a proposta do mestrado”, explica Robson Santos.

No Brasil, a maioria das pesquisas envolvendo produtos tecnológicos é realizada nas universidades públicas, mas ainda são escassos os exemplos de inovações que alcançam o mercado. “Vários artigos científicos produzidos aqui são aproveitados no estrangeiro e utilizados em pesquisas voltadas para a criação de produtos inovadores. As universidades brasileiras não têm tradição de identificar bons negócios a partir das pesquisas, e a indústria nacional, por sua vez, não tem experiência para induzir pesquisas de seu interesse”, analisa Robson Santos.

A saída sugerida por ele é exatamente estimular a interação de universidade e indústria. “Há um divórcio, uma falta de comunicação entre ambas, e o que pretendemos com o novo curso é contribuir para a construção de uma ponte”, reitera o professor. Ele acredita que o momento é propício para iniciativas do gênero, pois o governo federal desenvolve uma política agressiva voltada para o fomento de atividades de inovação. “Nunca tivemos tanta verba para pesquisa como agora. Mas precisamos qualificar melhor nossos recursos humanos”, alerta Santos.
A maioria dos 11 estudantes são profissionais da indústria farmacêutica. Para ingressarem no curso, eles participaram de seleção que envolveu 21 candidatos, apresentando projeto, currículo e carta de recomendação da empresa.