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Nº 1643 - Ano 35
9.3.2009
Itamar Rigueira Jr.
Maria Bethânia no filme Língua de brincar, de Gabriel Sanna e Lucia Castello Branco |
A próxima atração do ciclo Sentimentos do Mundo dispensa comentários. A cantora Maria Bethânia prepara um espetáculo especial – Leitura de textos e poemas escolhidos – para mostrar no dia 17 de março, a partir das 11h, no auditório da Reitoria, no campus Pampulha. Conhecida por relação forte e singular com as obras de escritores como Fernando Pessoa, Mario de Andrade e Clarice Lispector, cujos trechos costuma incluir em seus shows e gravações, Bethânia será apresentada pela professora da Faculdade de Letras da UFMG Lucia Castello Branco, que desenvolve trabalhos com a cantora desde 2006.
Maria Bethânia ainda não definiu que autores vai ler. Lucia Castello Branco propôs a obra da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, mas ela explica que a artista precisa estar absolutamente à vontade com os textos que vai apresentar. Outras possibilidades são o padre Antonio Vieira, tema de trabalho recente de Bethânia, e Fernando Pessoa, cuja obra ela conhece profundamente. “Ela vai abordar, de alguma forma, a questão da cultura e da língua portuguesas. Nos casos de Vieira e Pessoa, certamente serão textos que permanecem atuais”, comenta Lucia Castello Branco, que lerá na abertura um discurso de Maria Gabriela Llansol sobre o que é escrever em língua portuguesa.
O primeiro contato de Lucia com Bethânia aconteceu por ocasião da produção do documentário em longa-metragem Língua de brincar, sobre o poeta Manoel de Barros, em que a artista lê o poema Ruína. Mais tarde, a professora produziu um filme sobre Maria Gabriela Llansol e apresentou a escritora portuguesa a Bethânia. Atualmente, Lucia Castelo Branco produz um filme sobre a relação de Maria Bethânia com a literatura. “A seu modo, ela é escritora, desde a forma de escrever e codirigir seus espetáculos até sua capacidade de pronunciar a palavra literária, com respeito, dignidade e fulgor”, diz a professora da Fale. “Ela é uma ‘cantora de leitura’, na definição da Gabriela Llansol”. O filme, que terá o título Mar interior, dará atenção especial à composição de cadernos diversos, característica forte da artista, e ao trabalho manual – Bethânia cozinha, faz entalhe em madeira e lida com ourivesaria, entre outros ofícios.
Criado em 2007 para integrar as comemorações dos 80 anos da UFMG, o ciclo Sentimentos do Mundo trouxe à Universidade, naquele ano, nomes como o escritor moçambicano Mia Couto, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, a crítica literária argentina Beatriz Sarlo e o especialista em bioética Gregory Pence. O sucesso da série determinou a sua continuação, e em 2008 vieram à UFMG o cineasta David Lynch e a ativista ambiental Danielle Mitterrand, ex-primeira-dama da França. O Sentimentos do Mundo tem também uma vertente artística, responsável pela promoção de espetáculos dos grupos Giramundo, Corpo, Uakti e Galpão, que se apresentaram no gramado em frente ao prédio da Reitoria.
A ideia que inspira o ciclo é a do encontro da Universidade com a sociedade. “Temos atraído um público amplo, que extrapola o acadêmico, em torno de assuntos que estão mobilizando as pessoas e que representam uma aliança entre razão e sensibilidade”, define a coordenadora do ciclo, Patricia Kauark. Em depoimento para o vídeo institucional do projeto, a vice-reitora Heloisa Starling lembra que os eventos têm a função de “tirar a Universidade de seu cotidiano, chamando a comunidade ao pensamento”.
No dia da apresentação de Maria Bethânia haverá o lançamento de DVDs com as conferências de David Lynch, Danielle Mitterrand e o casal Joel Primack e Nancy Abrams, que falou no ano passado sobre cosmologia. Será lançado também, pela Editora UFMG, o livro Sentimentos do Mundo - Ciclo de Conferências dos 80 anos da UFMG.