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Nº 1645 - Ano 35
23.3.2009

Maturidade à mesa

Professora da Medicina revela em livro que qualidade de vida pós-menopausa passa pelos hábitos alimentares

Itamar Rigueira Jr.

Rodrigo Tarcia

“Essa coisa de viver mais é uma novidade bonita da ciência”, disse Dorival Caymmi, quando completou 90 anos, em 2004. E a professora de ginecologia e obstetrícia Jacy Bastos Görgens concorda em grau, número e, mais particularmente, gênero. Ela acha que as mulheres podem viver “muito e muito bem” e reuniu num guia enxuto uma série de recomendações para a vida saudável relacionadas à alimentação. Melhor ainda: o livro – Mulher madura, alimentação e cozinha: tudo a ver – traz receitas nutritivas, saborosas, baratas e fáceis de preparar.

Com quase 40 anos de clínica, aposentada da Faculdade de Medicina da UFMG, Jacy Görgens reuniu seus dossiês sobre nutrição e ginecologia ao aprendizado que começou com a mãe, na cozinha de uma usina de açúcar em Sergipe. Ali se transformava leite em queijo, frutas em doces, mandioca em beiju e farinha.

Segundo a professora, a menopausa está ligada à diminuição da atividade dos ovários, que faz com que 85% das mulheres deixem de menstruar entre 47 e 49 anos. “A falta dos hormônios femininos pode ter consequências severas”, explica Jacy. “E, por causa da desaceleração do metabolismo, se a mulher continua se alimentando como antes, é provável que o seu peso aumente um quilo por ano.”

O guia preparado por Jacy Görgens recomenda os alimentos adequados a essa nova fase da vida da mulher e enfatiza o uso dos fitoestrogênios – presentes na soja e na lentilha e que melhoram os sintomas da menopausa e previnem doenças – e dos antioxidantes, encontrados em frutas e legumes, e que retardam o envelhecimento. Ela aborda aspectos como a rotina da cozinha, os tipos de alimentos e cada uma das seis refeições do dia. Quanto ao jantar, por exemplo, sugere que não seja substituído por lanches com pão. “O jantar deve ser servido à mesa, para favorecer o convívio em família. Saladas, sopas e caldos são as melhores opções de cardápio”, recomenda a professora, que cursou da graduação ao doutorado na própria UFMG e estudou endocrinologia e menopausa na Alemanha.

Prazer de cozinhar

A experiência de Jacy Görgens em consultório e sala de aula exigiu que ela ampliasse a abordagem do livro. A professora aconselha que a mulher permita ao médico avaliar se a sua alimentação está adequada. Além da variedade e da qualidade dos alimentos, o livro valoriza o prazer do ato de cozinhar. Mas Jacy não quer obrigar as mulheres maduras a adotar a cozinha como local preferido na casa. “Se a mulher nunca frequentou a cozinha, é provável que na menopausa ela continue querendo distância dela”, salienta a professora, que propõe uma alternativa: “Uma cozinheira cuidadosa pode ser bem orientada para a tarefa de preparar as refeições da família”. Mas ela pede atenção para que se evite o excesso de alimentos industrializados, perigosos por causa da gordura, dos conservantes e das embalagens.

Jacy Bastos Görgens conta que continua atualizando seus conhecimentos sobre o tema e que o livro é um “trabalho de garimpo”, compilação de informações que abrangem desde as primeiras descobertas em estágios e congressos no exterior até recomendações científicas em periódicos leigos aplicáveis no dia-a-dia das donas de casa. Sobre as receitas, a autora garante que todas foram devidamente testadas por ela com a ajuda de familiares, amigas e colegas de profissão. Ela não se acha uma exímia cozinheira, como a mãe. “Sou apenas dedicada”, diz Jacy, que escolheu os quitutes por critérios de nutrição, sabor e praticidade. Mas houve uma exceção. “O biscoitinho de maisena entrou por razões afetivas: foi a primeira receita do caderno de arte culinária presenteado por meu pai quando eu completei 11 anos”, revela.

Livro: Mulher madura, alimentação e cozinha: tudo a ver
De Jacy Bastos Görgens
Editora MídiAlternativa
67 páginas
R$ 20 (disponível nas livrarias Status, Coopmed, da Travessa, e Leitura do Pátio Savassi, todas em Belo Horizonte)