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Nº 1748 - Ano 37
12.9.2011

CONGONHA emagrece?

Pesquisa avalia potencial de planta do cerrado usada popularmente contra a obesidade

Arquivo pessoal
Dietas à base de extrato bruto da congonha foram testadas em três grupos de camundongos
Dietas à base de extrato bruto da congonha foram testadas em três grupos de camundongos

Ana Rita Araújo

Estudo pré-clínico realizado em pesquisa de mestrado na UFMG sugere que uma planta do Cerrado brasileiro – a Rudgea viburnoides (Cham.)Benth (Rubiaceae) – tem potencial para tratamento da obesidade e suas alterações metabólicas. Contudo, em vez de validar o uso popular em dietas de emagrecimento, o estudo destaca que a utilização indiscriminada pode ter efeitos contrários ao esperado.

Verificamos que a menor dose foi a única com efeitos positivos”, alerta a autora do trabalho, a nutricionista Juliana Morais Amaral de Almeida, que integra grupo de pesquisa que procura conhecer a história das plantas e seus usos populares.

Para investigar se há fundamento na crença do efeito emagrecedor da espécie conhecida como congonha, bugre ou congonha-de-bugre, Juliana utilizou modelos animais – camundongos Balb/c – divididos em cinco grupos. Um grupo controle recebeu dieta comercial padrão, outro, dieta rica em carboidratos (HC) indutora de obesidade e outros três se alimentaram com dieta HC suplementada com diferentes dosagens do extrato bruto da planta.

Os animais tratados com a menor dose melhoraram sua tolerância oral à glicose e sensibilidade à insulina, além de apresentarem menor inflamação em sítios metabólicos importantes na obesidade, como os tecidos adiposo e hepático. “Nas doses maiores não se observaram esses efeitos”, ressalta a pesquisadora, orientada pelas professoras Maria das Graças Lins Brandão, coordenadora do Banco de Dados e Amostras de Plantas Aromáticas (Dataplamt), e Adaliene Versiani Matos Ferreira, coordenadora do Grupo de Pesquisa de Intervenção em Nutrição.

Estudo inicial

A obesidade é definida como enfermidade crônica que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura e o comprometimento da saúde, por estar ligada a fatores de risco coronariano, diversos tipos de cânceres e outras comorbidades. Tais condições estão associadas a respostas inflamatórias crônicas que podem ser reguladas pelo controle das reações oxidativas denominadas varredores de radicais livres.

Alguns componentes originados de vegetais apresentam atividade anti-inflamatória e antioxidante, sobretudo devido à presença de compostos fenólicos e polifenólicos. Estudos químicos evidenciam que a congonha contém substâncias como a rutina, possivelmente associadas ao efeito encontrado na pesquisa.

Segundo Juliana de Almeida, outros estudos serão necessários para determinar por quais meios ocorre o efeito da planta. “Este foi o primeiro passo na tentativa de evidenciar as informações preliminares sobre a atividade farmacológica que pode ser atribuída à congonha”, adverte. Assim, além de investigações a respeito das substâncias químicas presentes no extrato e seus efeitos, será fundamental desvendar as vias pelas quais a substância – ou o conjunto delas – atua. “Pode ser que esses efeitos estejam relacionados ao tecido adiposo e/ou ao fígado. Ainda há muitas perguntas a responder”, afirma.

Ela acrescenta que o estudo foi realizado em várias etapas, que incluíram a avaliação da história do uso da planta e sua caracterização química, além de ensaios e testes biológicos, desenvolvidos na Faculdade de Farmácia e no Instituto de Ciências Biológicas. Juliana de Almeida destaca que diversos países da América Latina têm experimentado rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional, com marcante aumento na prevalência da obesidade. Segundo Juliana, modelos experimentais de obesidade em animais são de grande valor no estudo dos diversos aspectos que contribuem para o excessivo acúmulo de adiposidade e suas consequências.

Dissertação: Potencial das folhas de Rudgea viburnoides (Cham.) Benth (Rubiaceae) no tratamento da obesidade e suas alterações metabólicas induzidas por dieta em camundongos Balb/c
Autora: Juliana Morais Amaral de Almeida
Orientadora: Maria das Graças Lins Brandão
Coorientadora: Adaliene Versiani Matos Ferreira
Defesa: 31 de agosto, junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência de Alimentos, da Faculdade de Farmácia da UFMG