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Nº 1788 - Ano 38
3.9.2012

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Precisa-se de dados

Cláudio Beato, que lança livro sobre a violência no meio urbano, defende mais estudos sobre criminalidade e gestão integrada da informação

Itamar Rigueira Jr.

Estudiosos e gestores na área de segurança pública e criminalidade estão na situação de quem pilota um avião às cegas, sem instrumentos, enfrentando uma turbulência. Isso se deve principalmente à ausência de dados confiáveis. “Imagine desenhar políticas para a educação, a saúde ou a economia sem contar com informação. É mais ou menos o que vem acontecendo com a segurança pública”, afirma o professor Cláudio Chaves Beato Filho, da Fafich, que está lançando o livro Crime e cidades (Editora UFMG).

A preocupação com a gestão integrada da informação na segurança pública surgiu há bem menos tempo que em outras áreas, o que Beato atribui à falta de visão de como estruturar um sistema de gestão de dados. Ele lembra que há boas iniciativas – São Paulo, por exemplo, reduziu seus índices de violência –, mas elas são isoladas. “Não existe situação ruim que não comece com falta de informação”, decreta o sociólogo, que coordena o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da UFMG.

Crime e cidades reúne e atualiza estudos realizados nos últimos 20 anos, sobretudo pelo Crisp, e procura traçar um panorama nacional em torno do tema – aproveitando o amplo alcance dos estudos do órgão –, embora concentre suas análises sobre o estado de Minas Gerais. Essa preocupação em pensar o país gera a convicção de que a violência tem causas diversas e matizadas nas várias regiões.

“Não sabemos exatamente por que se mata, se assalta e se rouba tanto no Brasil, que é provavelmente o país com números absolutos mais elevados de episódios violentos. E ficamos presos a mitos na hora de apontar as causas: o tráfico de drogas e de armas, a pobreza e a desigualdade”, diz o autor de Crime e cidades.

‘Implosão’ da violência

A palavra cidades no título do livro não é à toa. Segundo Claudio Beato, o crescimento acentuado do número de municípios com mais de 100 mil habitantes exige que se preste mais atenção às políticas de segurança pública nesses ambientes. “Nossa sociedade tornou-se muito mais urbana, e o crescimento das cidades traz inevitavelmente uma série de problemas associados, entre eles a ‘implosão’ da violência”, destaca o pesquisador, que foi professor visitante em universidades como Harvard e Oxford.

O termo implosão alude à concentração da violência em áreas determinadas, que ele chama de hot spots. São regiões deterioradas, desorganizadas, onde impera a segregação espacial, social e econômica, o favorecendo o domínio por parte de gangues. “A recomendação óbvia é a alocação de projetos como os de educação integral, promoção da moradia e reintegração dos jovens envolvidos com o crime”, salienta Beato, citando o exemplo do projeto Fica Vivo, adotado na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

O livro mostra que o padrão de urbanização característico das capitais da região Sudeste foi copiado pelas maiores cidades nordestinas, que também ganharam seus hot spots. Não por acaso, o Nordeste é hoje a região onde mais se registram homicídios (36% dos casos no país frente a 31% no Sudeste). “Esses números refletem a descapitalização dos órgãos de segurança nos estados do Nordeste, que só nos últimos dois ou três anos passaram a receber mais recursos. E essa explicação contém um paradoxo, já que os investimentos do governo federal no Nordeste vinham sendo incrementados há mais tempo em outras áreas. É preciso lembrar que prosperidade traz violência”, explica Beato.

Ao falar da nova publicação, o pesquisador mostra a preocupação de desfazer outro mito: o de que se estuda o bastante no Brasil a questão da criminalidade e da segurança pública. Ele diz que o tema está “pendurado” em campos do pensamento como o Direito e as Ciências Sociais. “Nos Estados Unidos, a criminologia é uma das áreas que mais formam doutores, são 60 cursos espalhados pelo país. No Brasil, ainda estamos à margem das discussões centrais, falta massa crítica”, aponta Beato, que anuncia para 2013 a criação do mestrado em Criminologia na UFMG, em parceria com outras instituições.

Livro: Crime e cidades
De Claudio Beato
Editora UFMG
291 páginas
R$ 60 (preço sugerido)