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Nº 1795 - Ano 39
22.10.2012
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Gabriella Praça
Preocupações sobre como aparecer bem nas fotos que ilustram os perfis em redes sociais e o que se deve ou não comentar na internet são sintomáticas do processo de celebrização da vida contemporânea. A evolução da tecnologia e o acesso aos meios de produção e difusão de conteúdo fizeram com que os “pobres mortais” tivessem que cuidar de sua imagem pública, à semelhança do que fazem as celebridades. O fenômeno é objeto de estudo do Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade (Gris), da Fafich, que promoveu na semana passada o seminário Natureza e construção da celebridade no Século XXI, primeiro evento no Brasil dedicado exclusivamente ao tema.
“Quando posta no Facebook uma fotografia dele passeando com seu animal de estimação, o usuário está explorando temas que vieram do universo das celebridades, como a exibição da vida cotidiana, da esfera privada e de assuntos sem relevância pública”, observa a professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG Lígia Lana. Segundo ela, à medida que os espaços midiáticos foram se popularizando, os meios de comunicação assumiram papel pedagógico, ensinando as pessoas a se comportarem diante deles. Lígia ressalta o caráter artificial da celebridade, construída para aparecer na mídia. “Para alguns autores, ela é criada para ser um produto como qualquer outro e, por isso, é eminentemente falsa, sem lastro nem mérito”, salienta.
Para explicar a origem do termo “celebridade”, Lígia recorre às ideias do historiador americano Daniel Boorstin, autor do livro The image: a guide to pseudo-events in America (1962), que se tornou uma das principais obras de referência no tema. Segundo ela, o termo surgiu entre os séculos 18 e 19, relacionando-se com a modernidade.
“Antes disso, não se falava em ‘celebridades’, mas em ídolos, famosos e heróis, que recebiam essa designação por seus feitos”, aponta. Era o caso dos profetas, artistas e filósofos, que ganhavam notoriedade em função das ideias que disseminavam e das obras que produziam – “celebridade”, portanto, era a denominação conferida a seus seguidores. Com a proliferação dos meios de comunicação de massa, entretanto, o termo passou a ser atribuído às pessoas, e não mais à sua condição de discípulos.
“Se os heróis tinham mérito por terem realizado um grande feito, a celebridade, muitas vezes, possui apenas certa fotogenia que lhe garante a visibilidade”, compara a professora, lembrando como exemplo o fenômeno dos reality shows. “Os participantes já são planejados para apresentarem alguma singularidade durante o tempo determinado de exibição do programa, desaparecendo depois”, sentencia. Antes limitados à fotografia e ao cinema, esses personagens tiveram ampliados os espaços midiáticos reservados à sua aparição com o advento da TV e da internet. Para a pesquisadora, mais veículos de comunicação demandam mais pessoas para serem exibidas como personagens.
Apesar do caráter vazio da celebridade, é preciso que ela desperte reconhecimento para ocupar os palcos midiáticos. “Valores como empatia e carisma despertam o reconhecimento das pessoas, inspirando a troca entre famosos e o público”, avalia Lígia. Dessa forma, as pessoas observam uma celebridade e pensam que agiriam da mesma forma se estivessem no lugar dela, legitimando assim a sua conduta.
Por ocupar esse lugar de visibilidade privilegiada, os famosos fazem declarações e posicionamentos que repercutem no espaço público. Nesse sentido, eles se tornam espécies de porta-vozes dos valores contemporâneos, desempenhando papel de cunho político. “Na fluidez do mundo de hoje, a celebridade assume um lugar de poder, repercutindo valores e estabelecendo trocas”, observa Lígia, recordando-se de uma declaração de Gisele Bündchen. “Quando disse que ser mãe é a maior responsabilidade que a mulher pode ter, a modelo assumiu um posicionamento que, além de gerar repercussão entre o público feminino, provoca questionamentos a respeito do papel da mulher na sociedade atual”, comenta.
Além da top model, o jogador de futebol Ronaldo, as celebridades do programa televisivo Pânico e os participantes do reality show Big Brother, entre outros, já foram objetos de investigação do Gris. Criado há 15 anos, o grupo se dedica ao estudo das relações entre artefatos midiáticos e vida social.