Busca no site da UFMG

Nº 1821 - Ano 39
20.5.2013

Inter, trans e multi

Internacionalização da UFMG ganha força com construção de centro para onde convergirão pesquisadores de várias partes do mundo e áreas do conhecimento

Ana Rita Araújo

O movimento de internacionalização da UFMG ganhou impulso na semana passada com o lançamento de pedra fundamental do prédio que funcionará como referência para as atividades acadêmicas e administrativas da área. O Centro de Internacionalização, cujas obras devem durar em torno de 15 meses, terá seis andares e abrigará todos os setores da Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e cinco centros especializados, dedicados respectivamente a estudos sobre África, Europa, China, Índia e América Latina, além de um sexto, cujo foco ainda será definido. “O objetivo do Centro é mostrar o Brasil, absorver outras culturas e desenvolver pesquisas conjuntas”, resume o reitor Clélio Campolina.

Também funcionarão no novo espaço o Instituto Confúcio, criado em cooperação com a instituição chinesa Huazhong University of Science and Technology (Hust), e o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat). Localizado no campus Pampulha em área próxima à Unidade Administrativa 3, o edifício de seis mil metros quadrados oferecerá ambiente para gabinetes de professores visitantes, biblioteca virtual compartilhada, espaços de convivência e miniauditórios.

“À luz das mudanças globais, há uma tomada de consciência das universidades brasileiras sobre a necessidade da internacionalização, embora nem todas sigam o mesmo ritmo, e uma política explícita do governo federal com essa finalidade”, comenta Campolina, para quem a UFMG está “dando um salto em sua política de internacionalização”, que vai além da mobilidade de docentes e alunos, já praticada há alguns anos.

Soluções construtivas

A proposta arquitetônica do prédio apresenta nova tipologia para as edificações administrativas e acadêmicas da Universidade. Sua lógica modular dá flexibilidade aos espaços internos, com racionalização de custos. A utilização de soluções industrializadas – estrutura em concreto pré-moldado – tende a reduzir significativamente o tempo de construção e a geração de resíduos, o que se reflete no desempenho ambiental na fase de implantação, com economia de água e de energia elétrica. Além disso, o prédio foi planejado para aproveitar mais intensamente a ventilação e a luz naturais.

O respeito às especificidades topográficas do terreno onde será construído viabiliza implantações que minimizem movimentações de terra e evitem estruturas onerosas. Outra solução utilizada será a captação de água de chuva, com capacidade de cem mil litros, para utilização em banheiros, jardins e demais atividades que permitam o reuso de água não potável.

Na divisão por andares, funcionarão setores administrativos, ambientes para atendimento aos alunos dos programas de intercâmbio, gabinetes de professores e equipamentos de uso coletivo, como salas de videoconferência, de reuniões e de trabalho multiuso. Clélio Campolina destaca a importância dos espaços de convivência, como a cantina planejada com formato de arena, para proporcionar encontros e troca de ideias entre pessoas de diversas áreas do conhecimento e nacionalidades.

“Será um espaço multicultural, já que deve acolher pessoas de diferentes nacionalidades; interdisciplinar, já que aberto a todas as áreas de conhecimento; e ‘multisseriado’, na medida em que deve abrigar acadêmicos dos mais diferentes níveis, de alunos de graduação a pesquisadores seniores do Ieat e dos centros de estudos internacionais”, define o diretor de Relações Internacionais da UFMG, professor Eduardo Vargas.

A biblioteca virtual que funcionará no 5º andar dará aos usuários acesso a catálogo de livros e demais materiais bibliográficos que ficarão dispostos em espaço específico na Biblioteca Central, também no campus Pampulha. Além disso, a biblioteca da Faculdade de Ciências Econômicas, que funciona 24 horas, possui amplo acervo sobre a Índia, e um lote de 2.400 livros está chegando da China para servir ao Instituto Confúcio. A ideia é que no futuro sejam organizadas, na Biblioteca Central, coleções específicas para cada um dos centros.

Convivência

Pela primeira vez desde sua criação, há mais de uma década, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) terá espaço para promover a convivência entre catedráticos – em sua maioria estrangeiros – e seus professores residentes, além de ambientes para estimular iniciativas de grupos de pesquisa de natureza transdisciplinar. “Com o novo prédio, o Instituto poderá crescer muito, de maneira nunca imaginada”, afirma o diretor, professor Maurício Loureiro.

Além de espaço administrativo mais amplo, o Ieat vai usufruir de salas de seminários de dimensões diversificadas, para diferentes tipos de reunião. Outro tipo de ambiente previsto são os “espaços de laboratório”, que poderão atuar como incubadoras de grupos transdisciplinares.

Atuação em rede

Centros de estudos funcionarão como polos de referência sobre as regiões focalizadas

Cada centro de estudos vai incrementar as atividades de cooperação científica entre a UFMG e instituições do país ou continente em foco, por meio da integração em redes acadêmicas voltadas à cooperação internacional e da mobilidade docente e discente, além de atuar, na Universidade, como polo de referência de produção de conhecimento sobre a região. “Ainda que sejam ligados à DRI, os centros têm seus comitês diretivos e coordenadores, que deliberam sobre as políticas a serem adotadas, casos aprovadas pelo Comitê de Internacionalização”, explica Eduardo Vargas.

Lançado no último dia 17, o Centro de Estudos Europeus (CEE) é, segundo seu coordenador, professor Ivan Domingues, iniciativa de grande importância para o futuro da UFMG, capaz de abrir perspectivas para diferentes áreas da pesquisa e o intercâmbio de estudantes e professores. “Mal anunciamos a inauguração, já temos notícias de entidades europeias dispostas a estabelecer parcerias”, informa. Domingues destaca que o centro significa para o Brasil a oportunidade de incluir em sua agenda de pesquisa uma das suas mais importantes matrizes culturais: a Europa. O desafio do CEE é, em sua opinião, “fazer os recortes inevitáveis e pôr os focos certos” em meio a tema tão amplo.

O coordenador do Centro de Estudos Indianos (CEI), professor Roberto Monte-Mór, comenta que a UFMG já mantém relações estreitas com universidades e pesquisadores daquele país, principalmente nas áreas de cultura, literatura e tecnologia, como também breves parcerias na área ambiental, do desenvolvimento sustentável e do planejamento urbano, metropolitano e regional. “Outras áreas apresentam grande potencial de colaboração e pesquisa conjunta”, diz Monte-Mór, lembrando que o CEI deve aprofundar e expandir essas colaborações.

Criado em novembro passado, o Centro de Estudos Africanos, liderado pelo professor Luiz Alberto Gonçalves, da Faculdade de Educação, reforça iniciativas já desenvolvidas pela UFMG naquele continente, como dois amplos programas de saúde, apoio à reestruturação dos cursos de engenharia de Moçambique e oferta de cursos de pós-graduação em Letras, em Angola. “O Brasil tem compromisso político, social e econômico com a África, além de identidade cultural e histórica”, aponta o reitor Clélio Campolina, ao reiterar a importância deste centro.

Primeiros passos

“Caminante no hay camino, se hace camino al andar”, diz Antônio Fernando Mitre, citando Antonio Machado, para descrever o trabalho que terá pela frente como diretor do Centro de Estudos Latino-americanos, “que ainda está a dar seus primeiros passos”. Embora pondere que talvez seja muito cedo para vislumbrar os rumos que a iniciativa tomará, Mitre faz referência a um núcleo de ideias que orientam a iniciativa. O primeiro passo seria a criação de plataforma institucional que permita identificar os professores e pesquisadores da UFMG que, em suas distintas áreas, trabalham com uma perspectiva latino-americana, seja porque suas pesquisas envolvem professores de outros países da região, seja porque as temáticas desenvolvidas contemplam, além do Brasil, outros países da América Latina, ou por ambos os motivos.

Com base nesse mapeamento inicial, o Centro visa projetar, no âmbito internacional, a pesquisa com perspectiva latino-americana produzida na UFMG; sediar encontros e debates sobre ciência, tecnologia, sociedade e cultura na América Latina; além de estabelecer vínculos com instituições afins, de modo a facilitar o intercâmbio de ideias e a colaboração entre os intelectuais que fazem da América Latina importante foco de suas reflexões.

Partindo de acordos e convênios já existentes, o Centro de Estudos Chineses fomentará ações acadêmico-científicas, com o intuito de competir em editais relacionados à cooperação internacional com a China. Para tanto, estimulará a formação de redes acadêmicas em todas as áreas do conhecimento, pautando suas iniciativas por princípios de qualidade, complementaridade e reciprocidade. “Também acolherá pedidos de filiação de pesquisadores da UFMG e de outras instituições de ensino superior que desenvolvam pesquisas pertinentes àquele país ou realizadas com a participação de pesquisadores chineses”, informa seu coordenador, professor Fábio Alves da Silva Júnior.

Ele ressalta que, tendo em vista a importância estratégica das relações bilaterais Brasil-China, as ações deste centro contemplarão ainda outros atores interessados em processos de transferência e produção conjunta de conhecimento, incluindo parcerias com os outros países do bloco Brics (Rússia, Índia e África do Sul), assim como interações com instituições europeias e norte-americanas interessadas nessas relações.

Já o Instituto Confúcio tem como objetivo central fomentar atividades de cooperação acadêmica e promover o conhecimento da língua e da cultura chinesas, “como forma de aprimorar as atividades de intercâmbio científico e cultural entre os dois países”, diz a professora Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira, diretora executiva do Instituto. A unidade mineira do Instituto Confúncio também organizará o exame de proficiência em língua chinesa, o HSK, e a certificação de professores de mandarim.