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Nº 1822 - Ano 39
27.5.2013

Estratégias em disputa

Encontro de economia política lança olhares para crise mundial e inserção geopolítica do Brasil

Itamar Rigueira Jr.

Os caminhos possíveis para superar a crise mundial e a inserção do Brasil na geopolítica internacional estão entre os temas que vão pairar sobre dezenas de debates e grupos de trabalho durante o 18º Encontro Nacional de Economia Política, que a UFMG sedia de 28 a 31 de maio.

O evento, que é anual e será realizado pela primeira vez na UFMG, trará economistas, pesquisadores e autoridades da área econômica nos níveis federal, estadual e municipal. O tema da edição deste ano é Economia política do desenvolvimento: estratégias em disputa. O encontro é promovido pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e realizado pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) e pelo Programa de Pós-graduação em Economia da UFMG.

Os encontros da SEP consolidaram-se como espaço importante de reflexão sobre a economia do ponto de vista crítico, em contraponto às visões majoritárias, de acordo com o professor da Faculdade de Ciências Econômicas e pró-reitor de Planejamento da UFMG, João Antonio de Paula. “A abrangência e a diversidade da programação dão ideia do rico perfil da economia política e de suas relações com tantos outros campos”, afirma ele, que ajudou a fundar a SEP e integra a comissão organizadora do evento.

De acordo com o coordenador do Programa de Pós-graduação em Economia, Frederico Gonzaga Jayme Jr., a economia política se distingue da corrente principal por se enxergar mais como ciência social, que não procura respostas fechadas, por não seguir métodos que abarquem todos os fenômenos e por se alimentar do debate. “Esses encontros anuais resgatam uma ciência que não pretende apontar modelo único para entender eventos econômicos”, comenta o professor, que também faz parte do grupo que organiza o encontro.

Entre as preocupações que devem reger apresentações e discussões, Frederico, que é ex-diretor da SEP, destaca a história do pensamento econômico, desenvolvimento do capitalismo, crises e ciclos econômicos. A relação de áreas temáticas inclui, entre outras, Estados e nações face à nova configuração do capitalismo; Dinheiro, finanças internacionais e crescimento; Capitalismo e espaço; Trabalho, indústria e tecnologia; Economia agrária e meio ambiente.

Eleições e baixo crescimento

A proximidade das eleições presidenciais e os baixos índices de crescimento no Brasil são aspectos centrais que vão contribuir para dar o tom do evento, na visão do professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Niemeyer Almeida Filho, que preside a Sociedade Brasileira de Economia Política. “Vamos tratar das questões do desenvolvimento brasileiro em face dos dilemas impostos pela crise internacional. É preciso entender que estratégias estão em disputa no Brasil, na América Latina e no mundo, e que caminhos deverão ser trilhados”, anuncia Niemeyer, ressaltando que os encontros da SEP valorizam o campo crítico da economia, sem se restringir a discussões em torno de temas como produção e política monetária.

O presidente da entidade destaca também a participação do professor Makoto Itoh, emérito da Universidade de Tóquio e membro da Academia Japonesa de Ciências. “Itoh tem reflexão vasta e importante sobre a crise do capitalismo e de como anda a economia da Ásia”, afirma Niemeyer. “Tendemos a prestar mais atenção à Europa e aos Estados Unidos, e menos à Ásia, cujas economias têm obtido melhores resultados.”

Makoto Itoh terá companhia, na mesa de abertura (dia 29, às 19h30) de João Antonio de Paula. “O objetivo desta mesa é discutir o papel da economia política, sob o viés do pensamento marxista, para pensar o capitalismo contemporâneo. [Jean Paul] Sartre lembrou que o marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo. Ele queria dizer que, enquanto o capitalismo existir, só poderá ser compreendido devidamente a partir do marxismo. O marxismo que se renova – e é um texto que convida à atualização – sempre fornecerá elementos para a compreensão do capitalismo”, discorre João Antonio.

Convidado também para a sessão avançada de economia política, Itoh falará sobre o tema From the subprime to the sovereign crisis; Why keynesianism does not work? Aberta ao público, a exposição será em inglês, com tradução simultânea.

Alguns dos convidados brasileiros para o 18º Encontro Nacional de Economia Política são os ex-presidentes do Ipea Marcio Pochman e Vanessa Petrelli Corrêa, o diretor do Centro Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, Marcus Pinkusfeld, e a secretária de Planejamento da Prefeitura de São Paulo, Leda Maria Paulani. O reitor Clélio Campolina Diniz fará conferência sobre Crise global, mudanças geopolíticas e inserção do Brasil.

Mais de 140 trabalhos serão apresentados durante o encontro, que terá ainda minicursos sobre economia política internacional, história do pensamento econômico brasileiro, finanças públicas e macroeconomia no Brasil e heterodoxia e economia ecológica. A programação do encontro está no site da SEP.