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Nº 1822 - Ano 39
27.5.2013

No encalço do Celso

Estudante de curso de aperfeiçoamento do Centro de Apoio ao Ensino a Distância (Caed) produz documentário sobre catador de materiais recicláveis

Matheus Espíndola

Quase todas as manhãs, Celso Lúcio Cândido, de 44 anos, circula pelo bairro Cristina, em Santa Luzia, empurrando seu carrinho abarrotado de objetos recicláveis coletados. Em uma dessas ocasiões, foi abordado pelo geógrafo Lucimar Pacheco, então estudante do curso de Aperfeiçoamento em Educação Ambiental do Centro de Apoio ao Ensino a Distância (Caed) da UFMG. O bate-papo entre os dois acabou resultando no documentário Lixo ou luxo? – seguindo os passos de um catador (14’17’’), trabalho de conclusão do curso.

Lucimar Pacheco conta que sempre se interessou pelas temáticas do lixo, desperdício, consumismo e descarte irracional de resíduos sólidos. “Recentemente, fiz algumas leituras específicas sobre o papel dos catadores. Resolvi então sair à procura do personagem para um documentário, já que tenho experiência em edição de vídeos”, conta.

Durante uma semana, no último mês de março, Lucimar e sua equipe gravaram cenas da coleta e depoimentos de moradores e do próprio catador, que tem a atividade como única fonte de renda. Dez pessoas estiveram envolvidas diretamente na produção. No início de abril, o documentário foi concluído.

Consciência

Para Lucimar, a principal característica de Celso é a consciência ambiental. “Ele não se apega somente à questão financeira. É um exemplo de como devemos lidar com o que muita gente chama de ‘lixo’. Celso nos mostra que quase tudo pode ser reaproveitado”, afirma Lucimar, graduado em Geografia pela UFMG em 2008.

No documentário, Celso relata que, com o dinheiro arrecadado na venda dos materiais coletados, já conseguiu comprar um terreno e começar a construção de uma casa, além de adquirir uma moto para o filho.

Apesar da consciência demonstrada por Celso e por alguns moradores entrevistados em seu documentário, Lucimar afirma que a questão ainda está longe de ser resolvida. Ele lembra, por exemplo, que em Santa Luzia, sua terra natal, não existe serviço regulamentado de coleta seletiva de lixo, realidade não muito diferente da observada na capital mineira. “Infelizmente, existe descaso com a problemática do lixo. Trabalhei até 2006 na Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) de Belo Horizonte. Na época, a coleta seletiva alcançava apenas 3% da população”, informa. Consultado a respeito, o órgão informou que 30 bairros de Belo Horizonte são atualmente contemplados com a coleta feita diretamente nos domicílios.

Lucimar aponta algumas alternativas de ação por parte do poder público, que poderiam amenizar o problema. “A profissão de catador deveria ser regulamentada e mais valorizada. Deveríamos ter coleta seletiva em todos os bairros, com associações formais de catadores. Seria útil ambientalmente e reduziria os gastos públicos. Além disso, a reciclagem do lixo ajudaria a estender a vida útil dos aterros sanitários”, defende.

O documentário pode ser acessado no site YouTube. Lucimar também busca recursos para produzir cópias do seu trabalho e distribui-las em escolas e organizações não governamentais (ONGs).