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Nº 1839 - Ano 40
07.10.2013

Sob as tuas asas

Transferência simbólica da Reitoria para o campus de Montes Claros marca comemorações dos 45 anos do ICA

Ewerton Martins Ribeiro

Nesta semana, a Reitoria da UFMG será transferida do campus Pampulha, em Belo Horizonte, para Montes Claros, onde funciona o Instituto de Ciências Agrárias (ICA). Simbólica, a mudança é parte do esforço da Universidade em fazer com que o Instituto seja efetivamente reconhecido como um campus da UFMG no Norte de Minas e intensificar o diálogo com as comunidades do seu entorno.

A transferência acontece nesta quinta, dia 10, como parte das comemorações dos 45 anos do Instituto. O reitor Clélio Campolina Diniz, a vice-reitora Rocksane de Carvalho Norton e outros dirigentes vão deliberar em solo montes-clarense: assim, não só as decisões que dizem respeito ao campus, mas também as que tratam da UFMG em geral serão tomadas, simbolicamente, sub umbra alarum tuarum, ou seja, “sob as sombras das asas” da cidade (em tradução livre), conforme sugere o brasão do município.

Na sexta-feira, dia 11, uma série de atividades completará a programação. Reitor, vice-reitora e demais autoridades participam de solenidade em que será enterrada uma cápsula do tempo: ela reunirá objetos (entre eles um exemplar desta edição do BOLETIM) que vão ajudar a contar no futuro a história dos primeiros 45 anos do campus, que surgiu a partir de um colégio agrícola, incorporado à Universidade em outubro de 1968 para, inicialmente, formar técnicos em Agropecuária.

As comemorações seguem com a inauguração do Centro de Pesquisa em Ciências Agrárias (CPCA) do ICA, um complexo de laboratórios multiuso que possibilitará investigações interdisciplinares. O Centro reúne laboratórios de biotecnologia, engenharia de alimentos, controle da poluição, metabolismo animal, plantas medicinais e aromáticas e sanidade animal e saúde pública, além de salas que abrigam equipamentos de precisão, de pesagem e preparo de amostras, de moinhos e estufas, de incineração e de freezer e câmara fria.

Ainda na sexta-feira será lançada a pedra fundamental dos laboratórios de Engenharia Florestal e Engenharia Agrícola, e a UFMG tomará posse do prédio do Centro de Atividades Administrativas e Didáticas (CAAD), instalado em área contígua ao campus desapropriada pela União e repassada à UFMG. Quando em plena atividade, o CAAD abrigará toda a estrutura administrativa do campus, 16 salas de atividades didáticas, um centro de convenções e mais de 20 laboratórios.

Outra novidade é o início da implantação de novo projeto paisagístico e a entrega do novo asfaltamento do ICA, que agora alcança o setor produtivo da Fazenda Experimental Professor Hamilton de Abreu Navarro, com 232 hectares.

Graduação e pós

O ICA oferece seis cursos de graduação, inaugura sua segunda pós-graduação lato sensu e a segunda pós stricto sensu, sedimenta-se como polo de extensão da UFMG e vislumbra investir na consolidação e ampliação de suas iniciativas de pesquisa. Seu quadro docente é formado por 68 professores. Em relação ao corpo técnico-administrativo, são também 68 servidores – outros 14 classificados no último concurso serão chamados em breve.

Inicialmente, o ICA oferecia dois cursos: Agronomia, criado em 1999, e Zootecnia, de 2005. Nos últimos cinco anos, foram criados mais quatro, no contexto do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni): Administração, Engenharia Agrícola Ambiental, Engenharia de Alimentos e Engenharia Florestal.

O curso de Engenharia Florestal acaba de ser avaliado com conceito 4 pelo Ministério da Educação (MEC); o de Administração já havia recebido há alguns meses a nota máxima, 5. Segundo o diretor do ICA, Delacyr da Silva Brandão, o curso de Engenharia Agrícola e Ambiental encontra-se em avaliação, e a seguir será avaliado o de Engenharia de Alimentos, ainda sem previsão.

Arquivo ICA
Plantação em área do ICA: apoio ao produtor rural do semiárido mineiro
Plantação em área do ICA: apoio ao produtor rural do semiárido mineiro

Essa maturidade também se reflete na pós-graduação. O ICA, que conta com a especialização em Recursos Hídricos e Ambientais e o mestrado em Produção Vegetal (antigo mestrado em Ciências Agrárias, implantado em 2006), se prepara para inaugurar mais uma pós-graduação lato sensu e outra stricto sensu em Produção Animal, aprovado com conceito 4 pela Capes e com a primeira turma a ser iniciada em fevereiro de 2014. Já o curso de especialização em Questão Agrária, Agroecologia e Agroindustrialização – Residência Agrária iniciou suas aulas neste semestre.

Impacto social

Um aspecto que se destaca em Montes Claros é o percentual de estudantes assistidos pela Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump). “Se na UFMG esse índice gira em torno de 20%, aqui no ICA 50% de nosso corpo discente é assistido pela Fundação. Isso reflete a importante inserção social que o campus tem nas comunidades de seu entorno”, afirma Delacyr Brandão. “O acesso via Fump é mais uma das várias medidas que tomamos para ter um impacto direto e positivo no desenvolvimento da região”, acrescenta o diretor.

Campus da extensão

Programa oferece suporte técnico em áreas de reforma agrária

O Instituto de Ciências Agrárias é responsável por um terço das atividades de extensão em curso na UFMG. Oitenta bolsistas estão envolvidos em 235 iniciativas divididas em 18 ações de prestação de serviços, 31 cursos e 68 eventos, além de 106 projetos e 12 grandes programas. Só no ano passado cinco projetos foram premiados.

A abrangência temática e de público é uma das características das atividades de extensão desenvolvidas em Montes Claros. “Serviços como a Análise de Solo, muito demandados, são muito úteis ao trabalhador do campo, especialmente ao pequeno produtor. Cursos como o de inclusão digital para crianças, por sua vez, colaboram para a inclusão do morador do campo”, exemplifica o coordenador do Centro de Extensão do ICA, Frederico Mineiro.

Um dos 12 grandes programas em andamento na região é o de Desenvolvimento Rural e Apoio à Reforma Agrária (Prodera), coordenado pelo professor Hélder dos Anjos Augusto e em atividade desde abril de 2010. Por meio dele, são articuladas ações contínuas relacionadas ao desenvolvimento rural, ao apoio à reforma agrária e à democratização do ensino. O programa realiza projetos, curso de especialização, debates, articulações políticas, estágios, visitas técnicas, ações de inovação tecnológica e trabalho voluntário em áreas de reforma agrária, como acampamentos e assentamentos, e em comunidades rurais.

“Trata-se de um programa inovador, fruto da iniciativa dos próprios estudantes, militantes da reforma agrária, em diálogo com as necessidades dos assentados. Os princípios e valores do programa são construídos dia após dia, em conjunto com o povo do Norte de Minas”, afirma o professor Hélder dos Anjos.

Segundo ele, o programa colabora para a mudança da realidade de uma população camponesa que em sua maioria ainda vive em estado de grande pobreza, à margem das políticas públicas de crédito, sem a assistência técnica que poderia ampliar sua produtividade agrícola. “O programa ajuda na qualificação técnica dos profissionais que atuam nos setores da agricultura familiar e da reforma agrária, construindo conhecimentos e metodologias para que possam atuar nessa realidade de forma a transformá-la”.

O programa reúne mais de 10 projetos. Um deles abriga o recém-criado curso de especialização Questão Agrária, Agroecologia e Agroindustrialização – Residência Agrária. “É o primeiro curso de pós-graduação fomentado e desenvolvido no interior do Prodera”, diz Hélder. Fruto de parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o curso tem a missão de ampliar os níveis de escolaridade dos trabalhadores rurais assentados e de seus filhos, além de qualificar a formação dos professores, alunos e técnicos que trabalham em áreas de reforma agrária. A iniciativa está sendo levada a outros lugares do estado, como o Vale do Jequitinhonha, o Sul de Minas e até mesmo a Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ao todo, quase 50 pessoas estão envolvidas com o programa, entre estudantes-bolsistas, docentes e servidores técnicos. A iniciativa contempla até aulas práticas dos cursos do ICA em áreas de assentamento rurais no Norte de Minas, como os de Carlito Maia, Darcy Ribeiro, Estrela do Norte, Irmã Dorothy e São Francisco. Mais de 1200 pessoas são impactadas direta ou indiretamente. Por assentamento, há uma média de 56 famílias atendidas.