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Nº 1843 - Ano 40
04.11.2013

Logística do descarte

Prêmio para gerenciamento de resíduos químicos no ICB chama atenção para procedimentos adotados pela Universidade

Bárbara Pansardi

Sobra, resto, lixo, detrito, resíduo. Segundo o dicionário, “o que fica das substâncias submetidas à ação de vários agentes físicos ou químicos”. Ou o que normalmente não merece preocupação da maioria das pessoas. “Nossa cultura ainda trata resíduo como aquilo que não importa, algo menor que a faxineira recolhe”, explica Aparecida Campana, gerente de resíduos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). “A lixeira não é um desintegrador mágico de matéria; nada vai desaparecer ao ser jogado aqui. É preciso começar a observá-la com outro olhar”, recomenda, enfatizando que a preocupação com o descarte deve ser ainda maior em se tratando de resíduos químicos perigosos.

Aparecida apresentou em setembro, durante o VIII Congresso Brasileiro de Biossegurança, o trabalho O gerenciamento de resíduos químicos perigosos como instrumento de minimização de riscos e impactos ambientais em um instituto de pesquisa, que relata a experiência do ICB. O trabalho, um dos 73 inscritos, rendeu o primeiro lugar na premiação do evento. “Mais que pelo reconhecimento do trabalho, fiquei feliz pela importância dada à questão do resíduo como um dos aspectos da biossegurança”, comenta Aparecida Campana. Ele disse ter percebido no congresso que o modelo da UFMG é pioneiro.

Inflamáveis, reativos, corrosivos ou tóxicos, os resíduos químicos perigosos são aqueles gerados em laboratórios, clínicas ou indústrias, e que necessitam de tratamento adequado antes da destinação final. “A geração de resíduos químicos é intrínseca às atividades de pesquisa, ensino e extensão da Universidade”, comenta Bruno Santos Lemos, diretor do Departamento de Gestão Ambiental (DGA) da UFMG. Ele enfatiza que a instituição precisa ter consolidado um programa de gerenciamento desse tipo de material, visto que se trata de atividade que gera, em média, 16 toneladas ao ano.

Segregação e rotulagem

O DGA foi criado em 2010 com este propósito, entre outros. Embora a coleta dos resíduos químicos seja feita na UFMG desde 2007, a periodicidade anual e a logística ainda dispersa eram consideradas inadequadas. Por isso, foi implantado um plano com o objetivo de operacionalizar um sistema seguro e racional de acondicionamento, identificação, armazenamento, segregação e coleta de resíduos químicos não reaproveitáveis.

“Não basta fazer o descarte, é preciso fazê-lo da maneira mais adequada. Foram tomadas duas medidas operacionais: aumentou-se a frequência da coleta (hoje quadrimestral) e estabeleceu-se a identificação, segregação e rotulagem dos resíduos”, explica Bruno Lemos.

Implantado o programa, foram realizados treinamentos em todas as unidades geradoras, com especial atenção ao ICB, às escolas de Veterinária e Engenharia, à Faculdade de Farmácia e ao Departamento de Química, responsáveis por cerca de 85% dos resíduos gerados na UFMG. O treinamento enfatizou educação ambiental e responsabilidade legal. “Os gerentes de resíduos das unidades tiveram papel fundamental na difusão da necessidade do processo de identificação e rotulagem”, salienta o diretor do DGA. Aparecida Campana destaca a importância da conscientização dos geradores. “Crime ambiental é assim: a responsabilidade é compartilhada. O gerador é responsável pelo resíduo do berço ao túmulo, ou seja, do momento em que o gera, passando pelo descarte, até o desfazimento por completo daquele material”, ela explica. São necessários cuidados relacionados ao armazenamento adequado, ao conteúdo que está sendo manipulado e à separação por compatibilidade química, por exemplo. “É muito mais amplo que contratar uma empresa. Há uma logística muito mais complexa.”

Bruno Lemos, que em maio também apresentou trabalho no 5º Congresso Interamericano de Resíduos Sólidos, em Lima (Peru), ressalta que em menos de dois anos a UFMG conseguiu um grande salto de qualidade. “Eu desconheço outra instituição cujos procedimentos cheguem a esse nível de detalhe e cuidado. No aspecto logístico, acho que estamos fazendo um trabalho de vanguarda, com preocupações como o atendimento rigoroso à legislação de transporte de carga rodoviária perigosa”, comenta o diretor do DGA.