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Nº 1861 - Ano 40
28.04.2014

opiniao

Produtividade versus produtivismo científico na UFMG

Renato de Lima Santos*
Marisa Cotta Mancini**

Um tema recorrente nos debates atuais na Universidade é a questão do produtivismo científico – nossa percepção e interpretação da máxima acadêmica publish or perish. Se por um lado os indicadores quantitativos e qualitativos da produção científica da UFMG revelam grande crescimento nos últimos anos, colocando-nos em lugar de destaque, tal evolução estimula reflexões sobre esse processo e seu impacto na ciência e na sociedade.

A UFMG tem experimentado marcante aumento de sua produção científica, cujos indicadores mostram tratar-se de fenômeno que não se explica pelo mero crescimento vegetativo da Universidade. No período de 1995 a 2013, a expansão de nosso corpo docente foi de 22,3%, enquanto no mesmo período a produção científica anual da UFMG avançou 312%. Cabe destacar que a qualificação docente sofreu grande alteração, uma vez que em 1995 a UFMG contava com 35% de docentes com o título de doutor, percentual que subiu para 87% em 2013. Tal qualificação permitiu inserção de maior contingente docente nos programas de pós-graduação stricto sensu, o que por sua vez resultou em crescimento significativo na oferta de vagas nesses programas, com repercussões fortemente positivas na produção científica da Universidade, dada a vinculação visceral entre pesquisa e pós-graduação nas universidades públicas brasileiras.

O crescimento da produção da UFMG, medido pelo número de publicações em periódicos científicos, tem projetado nossa instituição no cenário nacional. Ao compararmos os dados oficiais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) de indicadores de produção científica brasileira com as informações disponibilizadas pela plataforma Somos UFMG, observamos que a taxa de crescimento das produções da UFMG e do Brasil foram semelhantes na última década. Políticas públicas de incentivo à ciência e tecnologia possivelmente tiveram importante impacto no incremento da produção da UFMG.

A expansão quantitativa da produção da Universidade – que atualmente representa mais de 5% da produção científica brasileira – é inegável, entretanto, mais marcante ainda foi seu avanço qualitativo. O número médio de citações dos trabalhos publicados por pesquisadores da UFMG foi de 1,22 no ano de 2012, com evidente tendência de alta. Em comparação, o número médio de citações dos trabalhos científicos brasileiros foi de 0,80 no mesmo ano, demonstrando que o destaque da UFMG no cenário nacional não se restringe a parâmetros quantitativos. O mais importante é que a Universidade tem tido maior influência sobre o pensamento científico global do que a média da produção brasileira.

O fortalecimento dos parâmetros qualitativos resulta de múltiplos fatores, dentre eles, a expansão da rede de colaborações na própria instituição. A partir do ano de 2004, o número de coautorias entre pesquisadores da UFMG passou a ser consistentemente maior do que o número de autores (ou pesquisadores) da própria Universidade, ilustrando claramente o aumento da colaboração intrainstitucional e, possivelmente, constituindo-se em movimento catalisador da inter/transdisciplinaridade da produção. A cooperação com outras instituições, em especial de outros países, também tem sido benéfica para a consolidação qualitativa de nossa produção, que atualmente conta com mais de 25% dos trabalhos em coautoria com instituições estrangeiras.

O processo de fortalecimento da pesquisa científica tem gerado outros resultados importantes, que nos qualificam para lidar com questões relacionadas à propriedade intelectual, que é fruto da pesquisa aplicada. Nos últimos anos, a UFMG vem sendo recordista nacional no número de pedidos de patentes depositados. Embora esse parâmetro possa ser questionável como indicador de qualidade, o maior número de patentes tem sido acompanhado de número igualmente crescente de contratos de licenciamento de tecnologias criadas na UFMG, concorrendo para que a Universidade cumpra efetivamente a sua missão de gerar e difundir conhecimento científico e tecnológico e contribuindo efetivamente para o desenvolvimento socioeconômico regional e nacional. Esse movimento está predispondo a UFMG à consolidação de uma cultura da inovação, em plena consonância com os diversos ambientes de fomento ao empreendedorismo de base tecnológica que proliferam na Universidade e em seu entorno, como exemplificado pela Inova (incubadora de empresas da UFMG), pelos centros tecnológicos (CTs) e pelo Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC).

Todo esse movimento sincrônico e harmônico que ocorre na Universidade nos campos da pesquisa, do desenvolvimento tecnológico, da inovação e do empreendedorismo traz perspectivas otimistas, uma vez que esse contexto desencadeará círculo virtuoso, que se beneficiará do permanente suporte de ações e políticas institucionais de apoio à pesquisa e a outras atividades acadêmicas.

Desse cenário surge diagnóstico de que o fenômeno de expansão da contribuição científica da UFMG não representa um movimento produtivista, mas é resultado da inegável excelência acadêmica de seu capital humano e da melhoria de sua produtividade acadêmica, nos aspecto quantitativo e qualitativo. Esta breve reflexão esclarece que a expansão quantitativa e qualitativa da produção científica da UFMG não pode ser atribuída exclusivamente ao recente crescimento da Universidade em suas diversas vertentes. Argumentamos que tal expansão é resultante de uma combinação de eventos, incluindo o marcante aumento da produtividade decorrente dos avanços tecnológicos recentes, um contexto favorável à colaboração científica nas esferas interdisciplinar, interinstitucional e internacional, além da renovação e qualificação do corpo docente e de técnicos administrativos em educação da UFMG. Tal conjuntura tende a se cristalizar ao longo do tempo e consolidar-se com o devido apoio institucional, catalisando a competência científica institucional, que em nenhuma medida pode ser adjetivada como mero produtivismo.

* Professor titular da Escola de Veterinária e pesquisador 1A do CNPq

** Professora titular da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e pesquisadora 1A do CNPq