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Nº 1924 - Ano 42
14.12.2015

Resoluções

Novo papel

Livro recém-lançado pela Editora UFMG discute atuação do intelectual à luz dos impasses políticos e culturais contemporâneos

Ewerton Martins Ribeiro

O papel do intelectual no tecido social parece razoavelmente claro: mediar o conhecimento – da produção à divulgação – de forma a colaborar na reinvenção diária do espaço público (a mídia, a internet, as organizações sociais, a universidade, a empresa, o partido político e os demais locus de coletividade). O século 21, contudo, trouxe novos desafios à definição desse papel, distintos daqueles que pautaram a atuação do intelectual na modernidade. Com esse tema, a Editora UFMG acaba de lançar O intelectual e o espaço público, que busca atualizar o conceito de intelectual à luz (da produção) do contemporâneo e de seus impasses políticos e culturais.

Na obra, são discutidos os papéis interventores que estariam reservados ao intelectual – o escritor, o artista, o jornalista, o professor, o pesquisador, entre outros – nessa nova realidade, como a defesa pública de causas políticas, a transmissão de ideias filosóficas por meio de textos literários, a manifestação de apoio a regimes (ou a governos, ideologias ou causas), a adesão a grupos de resistência, em suma, os diversos instrumentos de que o intelectual dispõe para se estabelecer em luta contra as formas de poder. Nesse sentido, a percepção é a de que hoje, mais do que nunca, reserva-se a ele a tarefa de reinventar o espaço público por meio de uma atuação que não dissocie saber e ação.

Organizado por Izabel Margato e Renato Cordeiro Gomes, ambos da PUC-Rio, o livro reúne 22 textos em uma compilação multidisciplinar, com argumentos que vão da Teoria da Literatura à História, passando pela Comunicação Social, pela Filosofia, pelos Estudos Sociais, pelo Teatro e pelas Belas Artes, sempre com foco no esclarecimento dessas "relações tensas que, no plano da definição dos impasses a enfrentar, se formam entre o intelectual e o habitat que o cerca", como escreve Alexandre Montaury na apresentação que faz da obra.

Montaury, professor da PUC-Rio, assina o primeiro ensaio do volume, Autoencenações: Um escritor na mídia, em que estabelece o papel do intelectual nas sociedades moderna e pós-moderna, tendo em vista sua presença nos veículos de comunicação de massa. Com esse argumento, Montaury enseja as discussões que advirão nos textos seguintes.

Trajetória

Reunidos, os ensaios do volume estabelecem uma análise profunda da trajetória do intelectual, partindo da genealogia do seu discurso até alcançar o declínio dos ideais universalistas que, nele, por algum tempo vigoraram. Passam ainda pela mediação cultural feita por esse "scholar" o caráter "orgânico" assumido por alguns intelectuais (no sentido de atuar a favor dos valores de alguma classe social ou partido político), as relações dessa atuação com a política, entre outros subtemas.

Também chama a atenção a redefinição que essa trajetória faz das fronteiras existentes entre a produção intelectual e a produção artística. Para Alexandre Montaury, o contemporâneo demanda "uma reflexão acerca da especial configuração do escritor como intelectual: será necessário que ele se ausente de seu campo de ação específico para exercer o papel de intelectual no espaço público, ou a sua atuação como escritor pode incorporar simultaneamente uma ação no espaço público?". Assim, está posto tema recorrente no século 20: o caráter político das artes. Para Montaury, em um novo contexto, contemporâneo, "a arte política desdobra-se também na política das artes".

Livro: O intelectual e o espaço público
Organizadores: Izabel Margato e Renato Cordeiro Gomes
Editora UFMG
337 páginas / R$ 62 (preço de capa)