Transversalidade ampliada

Novos percursos formativos oferecem disciplinas de relações étnico-raciais e divulgação científica

Ana Rita Araújo

As formações transversais, conjuntos de disciplinas tematicamente articuladas que resultam em uma competência específica, acabam de ganhar mais dois percursos que abrangem as temáticas das relações étnico-raciais e da divulgação científica. Nos próximos dias 23 e 24, alunos veteranos de graduação podem fazer matrícula, por meio do Sistema Acadêmico de Graduação (Siga), nas disciplinas oferecidas nas três opções de formação transversal – incluindo a de Saberes Tradicionais, aberta no primeiro semestre do ano passado.

Carta da Pró-reitoria de Graduação encaminhada aos estudantes no último dia 4 explica que as formações transversais são atividades acadêmicas que abordam temáticas de interesse geral "visando incentivar a formação de espírito crítico e de visão aprofundada em relação às grandes questões do país e da humanidade". As disciplinas de cada formação, que compõem um minicurrículo, são prioritariamente de caráter inter, intra e transdisciplinar. Oferecidas para estudantes de todos os cursos de graduação da UFMG, também podem ser cursadas na modalidade de formação livre.

De acordo com o reitor Jaime Ramírez, é intenção da Universidade ampliar, cada vez mais, a oferta dessa modalidade, composta de conjuntos de disciplinas que possibilitam aos alunos desenvolver um percurso ou uma complementação da sua carga horária, que foge ao formato tradicional. "Esse novo modelo, que não tem um olhar exclusivamente disciplinar e perpassa as unidades acadêmicas, vai contribuir para melhorar a formação dos nossos alunos", enfatiza o reitor. Informações detalhadas sobre as formações transversais estão disponíveis no endereço.

Relações étnico-raciais

Segundo a professora Shirley Miranda, que coordena o Programa Ações Afirmativas em parceria com o professor Rodrigo Ednilson de Jesus, a Formação Transversal em Relações Étnico-Raciais, História Africana e Cultura Afro-Brasileira, que agora passa a ser ofertada, começou a ser discutida em 2013, em virtude dos dez anos de promulgação da Lei 10.639/03, que determina o ensino de História da África, cultura africana e afro-brasileira no currículo da educação básica. "Em nosso entendimento, essa lei não abrange apenas a formação de professores, pois a temática das relações étnico-raciais deve fazer parte de toda a formação do ensino superior", justifica.

Para Rodrigo Ednilson, o processo de democratização da Universidade não se restringe a uma representação numérica – especialmente no momento em que a implantação da Lei de Cotas foi concluída. "Trata-se da participação efetiva na fruição e na produção do conhecimento, por essa parcela da população que passou a ter acesso à Universidade", enfatiza. A intenção é que outras perspectivas de análise da sociedade brasileira também ganhem força e presença na formação dos estudantes da graduação. "Não podemos ter uma ciência monorracial", completa Shirley Moreira.

Ela destaca que esse grupo de disciplinas oferecidas a alunos de todos os cursos também vai atender às demandas do processo de avaliação, que analisa se essa temática consta dos currículos. "Outra vantagem é que esse tipo de oferta altera a composição dos conteúdos dos cursos, sem necessariamente mexer com a estrutura curricular", completa.

Divulgação científica

A Formação Transversal em Divulgação Científica foi idealizada para preparar os estudantes para traduzir – para não especialistas – o conhecimento científico com o qual trabalham. Do ponto de vista prático, exemplifica Sérgio Cirino, diretor de Produção Científica da Pró-reitoria de Pesquisa, "é necessário falar dos conteúdos de modo flexível, adaptando os diferentes discursos a cada tipo de interlocutor, tanto na área acadêmica quanto fora. Um engenheiro, por exemplo, vai precisar conversar com gestores públicos ou empresários para apresentar projetos". Para oferecer essa formação, a comissão que montou o percurso planejou disciplinas – a redação é um exemplo – com professores de diferentes áreas e múltiplos aspectos da comunicação científica e processos mais subjetivos que capacitem o aluno a identificar seu interlocutor e a escolher seu discurso ou canal de comunicação.

A ementa da formação explica que o intuito é "contribuir para a democratização do conhecimento, para a formação de profissionais mais conscientes, críticos, engajados, participantes da C&T, e também para despertar ou resgatar nos estudantes o interesse e o encantamento pela ciência". O documento enfatiza que a comunicação pública da ciência e da tecnologia tem sido reconhecida como uma necessidade para os acadêmicos. O documento pondera que, nas diversas profissões, saber comunicar-se com a sociedade, com o público ou com o paciente "tem-se tornado uma habilidade reconhecidamente importante, tanto para efetivar, legitimar, ter apoio e/ou dar visibilidade ao trabalho, como também para prestar conta à sociedade de recursos públicos destinados a projetos". Ainda segundo a comissão que elaborou o percurso, o objetivo não é formar profissionais técnicos em divulgação científica, mas despertar interesse dos estudantes pela área, de modo que muitos deles venham a exercer essa atividade.