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Nº 1947 - Ano 42
04.07.2016

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Em evento, pesquisadores vão compartilhar avanços e lançar rede latino-americana de pesquisa na área de imunologia das mucosas

Hugo Rafael

O crescimento científico na área da imunologia de mucosas e a inserção das pesquisas desenvolvidas no Brasil e em outros países da América Latina serão discutidos em evento que ocorre na quinta, 7, e na sexta, 8, no auditório da Reitoria, campus Pampulha, em Belo Horizonte. A segunda edição do Workshop de Imunologia das Mucosas (2nd Workshop on Mucosal Immunology), que reunirá pesquisadores da América Latina, do Reino Unido e dos Estados Unidos, vai evidenciar a amplitude dos temas que compõem a área. As palestras, ministradas em inglês, são abertas ao público.

A professora Ana Maria Caetano de Faria, do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), explica que a área permaneceu à margem, por muito tempo, no campo da imunologia, responsável por explicar o conjunto dos mecanismos de defesa do organismo contra agentes infecciosos. Desde 2000, a pesquisa em imunologia de mucosas tem registrado avanços significativos, destaca a pesquisadora, que desenvolve trabalhos nessa área há mais de 20 anos.

"Esse crescimento é resultado de várias descobertas surpreendentes nos últimos anos sobre o papel da microbiota – bactérias existentes no corpo humano – e dos componentes da dieta na saúde das pessoas e na homeostase [equilíbrio biológico] do corpo humano e da mucosa intestinal", justifica a professora, que integra o comitê organizador do evento, formado também pelos professores Fernando Chirdo e Guillermo Docena, da Universidade de La Plata (Argentina).

O avanço das pesquisas na área, segundo Ana Faria, também evidenciou a influência dessa microbiota, composta de aproximadamente 100 trilhões de bactérias, no organismo humano e em doenças intestinais inflamatórias, crônicas degenerativas e autoimunes, além de diabetes e alergias. "Temos mais bactérias no corpo que células eucariotas, e nosso organismo mantém convivência muito pacífica com elas, que são responsáveis, inclusive, por metabolizar algumas vitaminas que não conseguimos", explica.

Ana Faria destaca que esse progresso foi possibilitado pelo surgimento de novas tecnologias que influenciaram o avanço das metodologias de isolamento, identificação e caracterização dessas bactérias. "Esses avanços ajudaram a demonstrar a função dessas bactérias e a simbiose delas com o corpo, ou seja, a forma como interagem em equilíbrio com o organismo humano. Isso resultou numa grande quantidade de trabalhos, demonstrando a influência da microbiota na saúde", contextualiza.

Segundo a professora, o avanço dos estudos e pesquisas também contempla análises sobre o desequilíbrio da microbiota e dos efeitos da nutrição no sistema imune. "Essa disbiose ocorre o tempo todo, causada, por exemplo, pelo uso de antibióticos, que, ao combater bactérias causadoras de infecções, eliminam também algumas que são benéficas ao corpo. Após o uso de um antibiótico, há uma mudança significativa da microbiota intestinal. Essa alteração também pode ser causada pela alimentação: quem consome alimentos industrializados, por exemplo, tem uma microbiota totalmente diferente da de quem consome alimentos naturais", enfatiza Ana Faria.

Os trabalhos desenvolvidos no Brasil, em especial na UFMG, ocupam lugar de destaque na América Latina. No Laboratório de Imunobiologia do ICB, coordenado por Ana Faria, têm sido desenvolvidas pesquisas que avaliam o potencial de medicamentos desenvolvidos com probióticos, micro-organismos vivos pertencentes à mucosa intestinal que podem gerar benefícios ao organismo humano.

Rede latino-americana

No sábado, 9, será realizada a primeira reunião, exclusiva para convidados, do Latin-American Group of Mucosal Immunology (Lamig), cujo objetivo é estruturar a rede latino-americana, aumentando a inserção das pesquisas desenvolvidas na América Latina no cenário internacional. De acordo com Ana Faria, a ideia de criar essa rede existe desde 2005 e surgiu em um dos congressos da Associação Latino-americana de Imunologia (Alai), que ocorre de dois em dois anos.

"A Sociedade Internacional de Imunologia de Mucosas (SMI) apoiou a proposta de criar um grupo latino-americano, dada a pouca representação da América Latina na entidade, na qual ainda prevalece a presença de pesquisadores europeus. Acreditamos que podemos estabelecer importantes cooperações. Além de trabalharmos com metabolismo, dieta e microbiota, desenvolvemos pesquisas avançadas sobre infecções intestinais", informa.

Programação

Os dois primeiros dias serão ocupados pela apresentação dos trabalhos de 17 pesquisadores do Brasil e de outros sete países latino-americanos. A programação inclui quatro grandes simpósios sobre alergia e inflamação, resposta imune e inflamação em locais de mucosa, regulação e tolerância, vacinas e imunologia. A programação pode ser consultada no site.

O evento conta com apoio da Sociedade Internacional de Imunologia de Mucosas (SMI), que estará representada pelos pesquisadores Kevin Maloy (Oxford University, Reino Unido) e Daniel Mucida (Rockefeller University, EUA). A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), a Fapemig e a Pró-reitoria de Extensão também patrocinam a atividade. Outros parceiros são Nutricium, Biox, Sanbio, Parisi e Conselho Regional de Nutricionistas da 9ª Região – Minas Gerais.