Desenhos de Rafael Fernandes Alves investigam as representações do corpo e suas transformações
O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual ‘Desenhos Inconjuntos’, do desenhista e educador Rafael Fernandes Alves. A mostra reúne desenhos que exploram as representações do corpo e suas transformações, compondo uma constelação de imagens em diálogo e tensão em torno do sonho, do selvagem e do cosmos. O evento acontece no dia 14 de novembro de 2025, sexta-feira, às 19 horas. As obras poderão ser vistas até 11 de janeiro de 2026. A entrada é gratuita e tem classificação indicativa de 12 anos.
Desenhos Inconjuntos – por Rafael Fernandes Alves
Apesar de serem formadas por estrelas com bilhões de anos de existência, as constelações são criações humanas. Fomos nós, humanos, que, ao olhar para a vastidão infinita do universo em noites escuras, imaginamos que o que estava lá em cima nos dizia respeito. Do ponto de vista terrestre, astros a anos-luz de distância pareciam se agrupar para revelar algo a nós. Ali vimos seres fantásticos, animais, deuses, personagens. Criamos histórias. Era como se tudo que existisse no espaço sideral fosse, de alguma forma, sobre nós. Fosse nosso. Atribuímos sentido a um universo impessoal e distante.
Aparentemente, há um paradoxo implícito no nome dado à exposição Desenhos Inconjuntos, pois, embora agrupe os desenhos sob um único título, sugere simultaneamente que essas obras não formam um conjunto coeso. Inexistente nos dicionários de língua portuguesa, o termo inconjunto é um neologismo criado por Fernando Pessoa, através do seu heterônimo Alberto Caeiro, provavelmente derivado do inglês inconjunct, para nomear sua obra Poemas Inconjuntos.
Se o termo conjunção é utilizado na astronomia para se referir à aparente proximidade de dois ou mais corpos celestes, quando observados da Terra, podemos inferir que a inconjunção indicaria um distanciamento também aparente. São como astros transitando em diferentes órbitas e com trajetos distintos à primeira vista, mas que podem parecer próximos a partir de uma mudança de perspectiva.
A exposição toma de empréstimo o termo criado pelo poeta português para se referir às obras apresentadas como fragmentos de uma linha de pensamento e investigação, destacando suas singularidades sem deixar de insinuar as conexões latentes entre elas. Assim, o título busca enfatizar o caráter experimental, processual e eternamente inconclusivo dessas investigações em curso.
Entre os pontos de convergência e tensão das imagens, há o tema recorrente do corpo e suas transformações. As obras apresentadas na exposição representam figuras que transitam livremente entre o bestial e o divino, o terrestre e o celestial. São personagens de uma narrativa circular, assim como a dos mitos, que se revela pouco a pouco em cada um dos desenhos.
Assim como as figuras das constelações, esses seres também habitam o vazio. Sem as limitações de um cenário representado ou a ilusão de um espaço definido, permanecem suspensos no branco do papel. Flutuam, como os astros, livres para ocupar qualquer lugar no espaço-tempo infinito da imaginação.
Desenhar é expressão e apreensão do universo exterior e interior, um diálogo constante entre o que se vê e o que se imagina, entre a observação, o gesto e o sonho. Essas imagens indagam sobre a própria existência humana, cuja consciência só podemos experimentar dentro do espaço restrito conferido pelas bordas da nossa própria pele, como expresso por Alberto Caeiro: “Sim: existo dentro do meu corpo”.
Sobre o artista
Rafael Fernandes Alves é desenhista e educador. Através do desenho, investiga as transformações de corpos humanos, animais, minerais e celestes. Em suas obras, utiliza pastel seco, guache e caneta sobre papel, com uma paleta de cores dominada por tons de azul e vermelho.
A partir do uso de espelhos e referências fotográficas, o artista incorpora seu próprio corpo em grande parte de suas criações. No entanto, essa prática de auto-observação não se restringe à lógica do autorretrato, ela se desloca em direção à figura do ator, que performa identidades e transita por múltiplos papéis.
Nos desenhos, surgem corpos que frequentemente ultrapassam as possibilidades anatômicas e os limites do mundo ordinário, reforçando o estudo do corpo como forma e espaço de construção de significados. São seres reconfigurados e híbridos que refletem seu interesse nas tensões e dicotomias entre o humano e o animal, o sagrado e o profano, o civilizado e o selvagem.
Movido pelo desejo de construir uma mitologia própria, o artista funde referências visuais de múltiplas iconografias a fragmentos de memória e narrativa pessoal, tecendo um imaginário de caráter sincrético.
Rafael Fernandes Alves foi premiado em 2020 pelo edital de emergência ‘Arte como Respiro’, do Itaú Cultural, e recebeu menção honrosa no 43º Salão de Arte Contemporânea de Franca. Realizou as exposições individuais ‘O corpo que tenho’ (BDMG Cultural, 2024) e ‘as coisas que ainda não sucederam’ (Centro Cultural da UFSJ, São João del-Rei, 2023). Em 2021, participou da Residência Artística do CEFART – Palácio das Artes.
Exposição ‘Desenhos Inconjuntos’ – Rafael Fernandes Alves
Abertura: 14 de novembro de 2025 | às 19h
Visitação: até o dia 11/01/2026
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Grande Galeria
Classificação indicativa: 12 anos
Entrada gratuita
