História
SOBRE O CCULT
Linha do tempo
No final do século XIX, mais precisamente em 12 de dezembro de 1897, Vila Rica, atual município de Ouro Preto, deixou de ser a capital de Minas Gerais para dar lugar à recém-inaugurada “Cidade de Minas”. Naquela época foi um alvoroço para escolher o local da nova capital, houve muitos protestos e um clima de tensão e intriga política contaminou o estado. O então presidente do governo, Afonso Pena, escolheu Arraial do Curral del Rei, hoje Belo Horizonte, como sede na nova capital mineira.
Os trabalhos de construção foram iniciados pela Comissão Construtora da Nova Capital, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis, que projetou Belo Horizonte, a primeira cidade brasileira moderna planejada. O projeto foi inspirado nas mais modernas cidades do mundo, como Paris e Washington.
A Praça da Liberdade, o Palácio do Governo, as Secretarias de Estado, o Parque Municipal e a Praça da Estação foram os primeiros locais a serem construídos, além das ruas projetadas para oferecer mobilidade urbana aos moradores da época, como a Avenida Afonso Pena, Rua da Bahia e Avenida do Comércio, hoje Avenida Santos Dumont. Honrados com a chegada do inventor do avião e do relógio de pulso à capital, em 1903, foi realizada uma homenagem ao ilustre mineiro Alberto Santos Dumont, mudando o nome da Rua do Comércio para Avenida Santos Dumont.
O português Antônio Maria Antunes, proprietário do Hotel Antunes, em Ouro Preto, mudou-se para a capital na intenção de construir um novo hotel. O projeto foi concebido pelo arquiteto Silas Raposo, em resposta à crescente demanda por hotéis que abrigassem a circulação de pessoas que chegavam à Estação Central da Cidade, principal porta de entrada da capital.
Idealizado em 1899, em frente à estação ferroviária, na Avenida do Comércio com Rua da Bahia (Lotes 1, 2, 7 e 9, Quarteirão 20, 1ª Seção Urbana), o imponente sobrado em estilo eclético, com predominância de elementos neoclássicos, foi concebido como símbolo de prosperidade e de boas-vindas aos visitantes e novos moradores da cidade.
Foi a primeira construção no hipercentro de Belo Horizonte, quando a cidade ainda dava início ao processo de urbanização, mas devido aos altos investimentos e tendo em vista a arquitetura grandiosa do prédio, o empresário não conseguiu concluir a edificação e, antes mesmo da finalização da obra, vendeu o imóvel para o governo do estado de Minas Gerais, por intermédio do então governador Francisco Antônio de Sales.
Finalizadas as obras do imóvel, o governo do estado instalou no local o quartel do 2º Batalhão de Brigada Policial do Estado de Minas Gerais e o prédio foi adaptado para acolher a sede do Corpo de Tropa.
As obras de adaptação foram executadas pelo engenheiro Honório Soares do Couto e, em 14 de julho de 1906, foram oficialmente dadas como encerradas, quando então foi inaugurado o edifício. A força pública permaneceu no local pelo período de cinco anos e depois foi transferida para Juiz de Fora.
Até 1911 o imóvel sediou também a Junta Comercial de Minas Gerais e o Registro Militar do Ministério da Guerra, quando então cedeu o espaço para a instalação da recém-criada Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte.
Para atender às finalidades da nova ocupação do edifício, tornou-se necessária mais uma reforma e o engenheiro Honório Soares do Couto, com o auxílio do pintor espanhol Emílio Gomes Regatas, foi novamente responsável pela obra.
As aulas da Escola de Engenharia começaram em 08 de abril de 1912.
O prédio passou a fazer parte do acervo patrimonial da Universidade de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por ocasião de sua fundação, no ano de 1927, à qual a escola foi vinculada e neste local permaneceu apenas o Instituto de Eletrotécnica da Escola de Engenharia.
O nome dado ao edifício, Alcindo da Silva Vieira, está ligado a esse momento da história, pois faz menção a um dos diretores da escola e reitor da Universidade.
Alcindo da Silva Vieira formou-se em Engenharia Civil e de Minas pela Escola de Minas de Ouro Preto. Ocupou o cargo de engenheiro da então Secretaria da Agricultura e Obras Públicas e realizou importantes obras em todo o estado de Minas Gerais.
Foi professor, diretor da Escola de Engenharia e reitor da UFMG. Participou ativamente da Comissão de Planos de Construção da Cidade Universitária. Faleceu em 1945, em Belo Horizonte.
Em 1981, o Instituto de Eletrotécnica foi transferido para uma nova edificação nas imediações do edifício Alcindo da Silva Vieira, deixando o imóvel desativado, recebendo os maus-tratos do tempo e o olhar de desprezo dos transeuntes da época. Nesse mesmo ano, a ideia de transformar o prédio em uma “Casa da Cultura da UFMG” vinha sendo estudada por grupos de trabalho e comissões da universidade. A criação do Centro Cultural UFMG foi aprovada pelo Conselho de Extensão em 1985, sendo oficialmente instituído em 1986, vinculado à Pró-reitoria de Extensão.
A transformação do belíssimo prédio da antiga Escola de Engenharia em Centro Cultural foi muito desejada pela Universidade, que iniciou as obras de reforma em 1987, surpreendendo a população com a boa notícia. Ao receber as primeiras restaurações em sua fachada, o sobrado, até então abandonado, começou a recuperar a imponência e beleza que ostentava no início do século XX. A boa notícia era que a cidade, tão carente de espaços culturais, ganharia um local de divulgação e incentivo às expressões culturais, em suas diversas manifestações.
Em 1988 o casarão foi tombado como patrimônio histórico pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) – integrando o Conjunto Paisagístico e Arquitetônico da Praça Rui Barbosa – Praça da Estação, importante corredor cultural de Belo Horizonte. Esse fato trouxe reconhecimento de seu inegável valor histórico e arquitetônico, além da constatação de ser portador de forte referência à identidade da cidade de Belo Horizonte.
Finalmente, no dia 22 de abril de 1989, o Centro Cultural UFMG foi inaugurado, tornando realidade um antigo sonho da universidade. A inauguração foi amplamente divulgada pelos jornais da época. O Reitor em exercício, professor Cid Veloso, participou da cerimônia de abertura realizando o descerramento da placa, juntamente com o primeiro diretor da casa, professor João Baptista Magro Filho. Aviões da Força Aérea espalharam balões, pinturas e poesias de artistas mineiros na área central da cidade e as ruas da Bahia e Guaicurus ficaram interditadas para a realização dos eventos de festividade.
Exposições de pinturas, esculturas e fotografias foram abertas à visitação, houve exibição de mostra internacional de vídeo, apresentação do coral Ars Nova e Orquestra da Escola de Música da UFMG, performance de artistas, carro-biblioteca, espetáculo teatral de rua, show de música popular e barraquinhas de salgados e bebidas fizeram parte da programação de estreia.
Em novembro de 1994 a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte publicou uma Certidão de Registro de Tombamento incluindo o Centro Cultural UFMG (fachada e volume) como bem cultural do Conjunto Urbano Rua dos Caetés e Adjacências. (Lei Municipal 3.802/1984 – Organiza a Proteção do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte).
O ano de 2006 marcou o centenário de construção do prédio que abriga o Centro Cultural UFMG e, entre 2012 e 2013, o sobrado passou por uma revitalização envolvendo a fachada, telhado, portas, janelas, escada, pisos de madeira, parte estrutural elétrica e hidráulica, iluminação dos espaços de exposições e apresentações, além da pintura do prédio.
Em 2019 o Centro Cultural UFMG completou sua terceira década. Ao longo de 30 anos, abrigou projetos e eventos memoráveis que contribuíram e contribuem com o fortalecimento da cultura na capital mineira. Este espaço respeitável da Universidade se destaca pelo valor histórico, artístico, cultural e de desenvolvimento do estudo e da pesquisa.
A diversidade de ideias delineia um ambiente eclético, que não estabelece limite de idade, cor, sexo ou classe social, ampliando atividades que visam à produção, expressão e fruição da arte e da cultura, em estreitamento entre universidade e sociedade.
Da performance à tipografia, do cinema à exposição, da música à escultura, do teatro à pintura, da fotografia à dança, da poesia à experimentação, continuamente acolhendo as mais variadas linguagens e manifestações, que transformam o local em uma forte referência cultural e artística de Belo Horizonte.
Esta galeria, que conta parte da história da constituição do Centro Cultural UFMG, é uma reprodução de exposição permanente do órgão, lançada em 2019, dentro das atividades comemorativas de seus 30 anos.
Os créditos do trabalho podem ser consultados na imagem.