História do bloco Então, Brilha! é destaque de podcast do Centro Cultural UFMG

História do bloco Então, Brilha! é destaque de podcast do Centro Cultural UFMG

No décimo episódio do Podcast Recitais os convidados para o bate-papo são Geison Almeida (Jasão) e Rubens Aredes, integrantes do Então, Brilha!, um dos primeiros blocos que ocupou as ruas de Belo Horizonte e contribuiu para o renascimento do carnaval na capital mineira.

O cortejo arrasta uma multidão pelo baixo centro da cidade e levanta a bandeira da diversidade, da igualdade e da liberdade, reforçando o apoio à causa LGBTQIA+, à população negra, o movimento feminista e à classe trabalhadora.

Gente é para brilhar

Crias da UFMG, Jasão e Rubens contam como surgiu a ideia do Então, Brilha!, criado em 2010, inspirado em um verso do poeta russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930): “Brilhar para sempre,/ brilhar como um farol,/ brilhar com brilho eterno./ Gente é pra brilhar/ que tudo o mais vá para o inferno./ Este é o meu slogan/ e o do sol.” (“A extraordinária aventura vivida por Vladimir Maiakóvski no verão na Datcha”).

O lema do bloco – Gente é pra brilhar – foi extraído da referida poesia, que desde então é proclamada para dar início ao cortejo. A tradição é sair com o nascer do sol, aos sábados de carnaval, em frente ao Hotel Brilhante, na Rua dos Guaicurus, partindo ao encontro da Praia da Estação, movimento que iniciou na mesma época e traz, também, um clima carnavalesco.

A escolha do local de concentração foi intencional, já que o nome do bloco faz um trocadilho com o nome do hotel, mas com o aumento exponencial de foliões o cortejo teve que migrar seu percurso para os arredores da zona boêmia da cidade.

Nos últimos desfiles, antes da pandemia, o bloco concentrou na Avenida do Contorno, altura com Rua Curitiba, e fez um trajeto em direção a Avenida dos Andradas, que dá acesso ao destino final, a Praça da Estação.

Arquivo/Bloco Então, Brilha!

Crescimento

O bloco foi crescendo ao mesmo tempo em que o carnaval de rua de BH foi tomando corpo e se tornou um dos maiores e mais esperados da folia.

Esse crescimento também envolveu uma série de fatores, dentre eles a politização dos espaços públicos e o direito à cidade, despertando nas pessoas o interesse em ocupar esses locais com a diversidade.

Segundo Jasão, “esse movimento social tende a crescer e, mais que isso, tende a mudar de uma forma muito profunda e lúdica, dentro de uma perspectiva que queremos mostrar, que a cultura vale muito mais que um mero produto empresarial”.

Projetos

Além do bloco de carnaval, recentemente foi criada a Associação Cultural Então, Brilha!, que surgiu da necessidade de organizar todas as atividades ligadas ao bloco, para além do carnaval.

Ao longo da história, segundo Aredes, o bloco já desenvolveu inúmeros projetos socioeducativos, dentre eles a Escola Brilhante de Artes, em 2019, que ofereceu oficinas de canto e percussão para algumas comunidades de BH e Raposos, onde se estabeleceu relações de trocas culturais, sociais e de saberes.

“Na verdade a gente mais aprendeu do que ensinou, para ser bem sincero. Dessas oficinas vieram novos integrantes para compor o cortejo do Então, Brilha!, na bateria e no naipe de vozes e, se não fosse esse tipo de oficina, talvez essas pessoas nem viriam e isso é muito bonito”, diz Rubens.

Pandemia

Em memória a Rua dos Guaicurus e, sobretudo, as suas trabalhadoras, ao longo de 2020 o Então, Brilha! distribuiu, semanalmente, cestas de alimentos em gratidão a tudo que lhes foi oferecido, simbolicamente, e por toda a magia que o bloco viveu nesse espaço durante muitos carnavais.

Em razão da pandemia, as profissionais do sexo tiveram seus trabalhos afetados e essa foi uma forma de amenizar e devolver tudo que o bloco recebeu de sustento no local. A ideia é que essas ações sejam perenes, com a Associação, e desenvolva muitas práticas voltadas para o campo da cultura, principalmente.

A pandemia impactou muito a cultura brasileira, que já vem sofrendo ataques bem antes do distanciamento social. Nesse cenário, o Então, Brilha! sentiu os impactos desse desmonte, ficando impossibilitado de realizar oficinas, participar de editais para realizar mais projetos, efetuar shows e outras atividades.

É um momento delicado, pois os blocos sobrevivem do próprio carnaval e há dois anos essa festa popular está impedida de acontecer.

Carnaval privatizado

Certamente não será fácil retomar os ensaios e ocupar as ruas, até porque se vive um momento das festas fechadas, com controle de público e cartão de vacina.

“O carnaval privatizado passou a ser entendido como o único possível e a gente se questiona até onde é, de fato, o único possível? Até onde é, de fato, interesse?”, questiona Rubens. E completa: “à medida que esse modelo de carnaval prospera, cresce e ganha espaço, concomitantemente esse modelo democrático, aberto e de rua perde espaço”.

Conheça trabalho de Então, Brilha! em: Facebook, Instagram, YouTube e Spotify.

Ouça o podcast na íntegra e saiba um pouco mais sobre a trajetória e perspectivas do bloco:

Podcast Recitais

O Podcast Recitais é um projeto do Centro Cultural UFMG que pretende disponibilizar mensalmente no Spotify conteúdos em áudio relacionados à música.

A proposta surgiu para ampliar a programação online do espaço, oferecer ao público da internet uma discussão sobre o universo musical, além de dar visibilidade aos artistas, que estão tendo que encontrar formas de se reinventar neste momento de distanciamento social.

Os convidados apresentam  seus trabalhos autorais, sejam os que estão começando sua trajetória nos palcos e até mesmo os já consagrados.