Movimento ‘Praia da Estação’ é tema de novo episódio de podcast do Centro Cultural UFMG

Movimento ‘Praia da Estação’ é tema de novo episódio de podcast do Centro Cultural UFMG

O segundo episódio da série ‘Corredor Cultural Praça da Estação’ traz um bate-papo sobre o movimento ‘Praia da Estação’ e sua importância como espaço de luta e debate pelo uso da cidade de Belo Horizonte.

A fotógrafa, arquiteta e urbanista Priscila Musa e o antropólogo, folião, congadeiro e ativista social Rafa Barros são os convidados para essa conversa.

Unidos ao movimento, que teve início em 2010, os ‘banhistas’ integraram o protesto contra a proibição da prefeitura de realizar eventos em praças públicas da capital mineira. O ato ganhou força e contribuiu para a formação de outras iniciativas centradas na ocupação do espaço público.

Grande vazio

Priscila Musa/Arquivo pessoal

No podcast, Priscila descreve que sempre sentiu a Praça da Estação como um grande vazio, pois costumava circular pelo centro da capital como transeunte, sem visualizar o espaço como uma área potencial de ocupação e de práticas políticas culturais antes da ‘Praia’.

Em contrapartida, Rafael tem memórias afetivas e subjetivas da praça, pois por muitas vezes ela foi lugar de chegada e de conexão com a cidade, pelo fato de não ser natural de BH. Além disso, ele viveu no local experiências intensas com o Festival Internacional de Teatro, Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT BH), dentre outras manifestações artísticas e também políticas.

Proibição

Rafa Barros/Arquivo pessoal

Barros recorda que a ‘Praia’ surge depois de um decreto assinado pelo ex-prefeito Márcio Lacerda, em dezembro de 2009, proibindo a realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação. Ele contextualiza que, naquela época, as pessoas não tinham tanta intensidade de conexão como têm hoje com as redes sociais e aplicativos de troca de mensagens.

“Dessa forma, a notícia demorou a chegar e circular na cidade e eles impulsionaram sua propagação, principalmente, através de e-mails, assim como a convocatória para debater e discutir o que poderia ser feito contra essa arbitrariedade”, relata.

Primeiro chamado

Via blog Praça Livre

A partir desse encontro na Praça da Estação, que foi extremamente pequeno, deu-se inicio a articulação de instigar, imageticamente, a cidade de Belo Horizonte através de um protesto estético que transformasse a praça em praia.

Dessa reunião surgiu o chamado para a primeira ‘Praia da Estação’, que aconteceu em 16 de janeiro de 2010, e desse ato nasceu o blog Praça Livre BH, onde as pronunciações e os textos manifestos começaram a ser difundidos.

Segundo o antropólogo, “a ‘Praia’ foi palco de confluência da praia carnaval, da praia Fora Lacerda, da praia movimento Nova Cena, da praia Conselho Municipal de Cultura, da praia Pop Rua, da praia Ocupações Urbanas, uma grande zona de lutas, protestos e reivindicações”.

Ocupação

Divulgação/Qu4rto Studio/Acervo Belotur

Priscila observa que são poucas as pessoas que cruzam o meio da praça, uma vez que a ocupação acontece nas laterais, se transformando em um lugar ensolarado e de difícil ocupação cotidiana.

Ela afirma que a ‘Praia’ é uma ação que vem ocupar exatamente esse espaço árido da centralidade da praça, através de um movimento festivo que joga com o imaginário e com a sensibilidade da ausência de praia em Minas Gerais.

“Essa ação cria uma praia no meio de uma praça, e cria não só isso, ela cria uma faixa de areia, a praia de cimento da lúdica revolução, como fala o Graveola, que potencializa vários movimentos sociais, cria um espaço de encontro de pessoas e agentes diferentes, de classes sociais diferentes, de espaços e lugares da cidade diferentes”, diz Musa.

Inspiração

Via Facebook de Mov. Fora Lacerda

A fotógrafa acrescenta que a praça tem um potencial catártico que criou outras movimentações na cidade e que podem se desdobrar futuramente. Vários movimentos, que seguem até mesmo para a institucionalidade, estão ancorados nessa praia de cimento.

“Foi ali que a gente se encontrou e foi ali que a gente começou a imaginar outras formas de ocupar a cidade”. Ela relembra que a ‘Praia’ explodiu, foi se diversificando e “nunca foi tão negra, tão gay, tão LGBTQIA+, tão feminina, tão periférica, tão favelada e com uma potencialidade enorme”.

Rafael Barros diz que a praia se tornou tão grande e tão forte, que esse imaginário atravessou uma década e ainda continua existindo enquanto um signo disruptivo de um ideário de cidade, de uma imagem política, de um método de elaboração de contestação, que sempre se manteve com a possibilidade de apropriação e reinvenção, de uma forma muito espontânea e desprendida.

Ouça e compartilhe

Ouça o podcast na íntegra e conheça um pouco mais sobre a trajetória do movimento ‘Praia da Estação’, suas narrativas, resistências e multiterritorialidade:

[Esse podcast foi gravado no dia 6 de outubro de 2022]

Corredor Cultural 174 Podcast

Corredor Cultural 174 Podcast é um projeto que disponibiliza mensalmente no Spotify conversas com artistas, músicos, escritores, cineastas, agentes culturais e demais pessoas que pensam, respiram e produzem cultura. ‘Corredor’, pelo fato do Centro Cultural UFMG estar situado no corredor cultural Praça da Estação e também no sentido de espaço de passagem, onde transitam ideias, movimentos e expressões artísticas em Belo Horizonte. ‘Cultural’, pois a temática será sempre cultura e ‘174’ é o número de localização da instituição na Avenida Santos Dumont.