Nas obras de Augusto Fonseca, o geometrismo da linha e do desenho confronta o gestual, revelando a impermanência do tangível

Nas obras de Augusto Fonseca, o geometrismo da linha e do desenho confronta o gestual, revelando a impermanência do tangível

O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual ‘Impalpável Concreto’, do artista visual Augusto Fonseca. A mostra reúne pinturas que exploram arquétipos da figura humana e da arquitetura, representadas como estruturas geométricas entrelaçadas em um aglomerado de formas, aludindo à vida na cidade caótica. O evento acontece no dia 10 de outubro de 2025, sexta-feira, às 19 horas. As obras poderão ser vistas até 23 de novembro de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação livre.

Impalpável Concreto – por Augusto Fonseca

O prêmio concedido à obra ‘Unidade Tripartida’, de Max Bill, na Bienal de São Paulo de 1951, foi um indicador do entusiasmo brasileiro pelos postulados racionalistas da arte concreta. Esse entusiasmo disseminou entre os artistas do país uma tendência geométrica evidente, acompanhada dos conceitos construtivos a ela subjacentes.

Os anos 1960, por sua vez, marcaram um certo esgotamento do período moderno nas artes visuais brasileiras, o que desencadeou uma série de procedimentos que romperam com o racionalismo característico dessa vertente. Pode-se observar que os artistas da época perceberam as realizações da abstração não apenas como uma questão formal, mas também conceitual, inaugurando um novo espaço que podia ser experimentado de maneira sensorial, corporal e cinestésica.

Re-sensibilizar a arte não significou apenas confrontar uma estética tida como ultrapassada e hermética. Nos anos 1960, o objeto de arte se desmaterializou progressivamente, emergindo em performances, body art e arte conceitual. Nos anos 1980, contudo, a materialidade retornou com intensidade, pulsando em pinturas, objetos e instalações.

Essa inconcretude que atravessou as novas formas de fazer arte ampliou nossa percepção da mutabilidade: a estabilidade cedeu espaço à ação, ao rastro, à cor, à gravidade — à própria materialidade impregnada nas obras, revelando o mundo em constante transformação.

‘Impalpável Concreto’ busca construir e desconstruir, por meio de estruturas ordenadas e matérias difusas, a imagem de uma cidade que transcende sua simples semelhança com o real. A figura humana geometrizada, inicialmente moldada em padrões pré-estabelecidos, é corrompida e fundida em um conjunto de outras formas, ruídos e atritos surgidos da ocupação dos espaços.

Essas ‘cidades habitantes’ propõem um jogo interminável de alegorias e aproximações, funcionando como Eros e Caos: forças opostas e complementares. O geometrismo, sustentado pela linha e pelo desenho, contrapõe-se ao gesto livre, traduzindo a impermanência do tangível e representando o incessante trabalho de construção e desconstrução. Nessas cidades, o passado permanece visível enquanto o futuro se insinua, redesenhando-se constantemente.

Sobre o artista

Augusto Fonseca – artista, pesquisador e curador formado pela Escola de Belas Artes da UFMG e mestre em dimensões teóricas e práticas da produção artística pela UEMG. Realizou diversas exposições individuais, dentre elas: ‘Tudo é Eco no Universo’, na Casa Fiat de Cultura (2019); ‘Estratégias do Mercado’, no BDMG Cultural (2019); ‘Walk me Home’, no Museu Inimá de Paula (2015); ‘O Falso Espelho’, na Galeria de Arte da COPASA (2013) e ‘Outras Cidades Invisíveis’, na galeria de arte da CEMIG (2009). Das exposições coletivas, destacam-se: ‘Pintura Mineira – Recorte’, no Espaço Cultural Vallourec; ‘Novos, Novíssimos, Seminovos’, na Galeria Lemos de Sá (2018), 44º Salão de Arte Luiz Sacilotto (2016), ‘60×20’ na Galeria de Arte da CEMIG (2012), 9° Salão de Artes Visuais de Guarulhos (2009) e Fundação de Arte de Ouro Preto-FAOP (2008). Participou da Comissão de Seleção e Organização da 5ª e da 6ª edição do programa Bolsa Pampulha e do projeto Telas Urbanas. Como curador, idealizou e organizou a exposição ‘Sobre o que se Desenha’, no Museu de Arte da Pampulha (2015); fez curadoria das exposições ‘Pintura em Diálogo’, no BDMG Cultural (2017); ‘Hiato’, de Marco Tulio Resende, na Galeria da Escola Guignard (2022) e foi curador assistente na exposição ‘Arte e Política no Acervo do MAP’, realizada no SESC Palladium (2016). É servidor na Fundação Municipal de Cultural e autor do livro ‘Desenho Mineiro: Narrativa, Identidade e Contemporaneidade’ (editora C/arte).

Exposição ‘Impalpável Concreto’ – Augusto Fonseca
Abertura: 10 de outubro de 2025 | às 19h
Visitação: até o dia 23/11/2025
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Sala Ana Horta
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita

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