No oitavo episódio do Podcast Leituras conversamos com Nilma Lino Gomes, autora de vários livros sobre questões raciais, dentre eles “A mulher negra que vi de perto”, “Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”, “Para entender o negro no Brasil de hoje”, em parceria com o Prof. Dr. Kabengele Munanga e “O movimento negro educador”.

Natural de Belo Horizonte, a escritora compartilha sua trajetória como mulher negra, professora e educadora, que luta incansavelmente contra o racismo.

Seu primeiro contato com a sala de aula foi ainda no magistério, através de um estágio, quando teve a oportunidade de acompanhar uma excelente professora em uma turma que reunia crianças com dificuldades de aprendizagem.

A forma como via essas crianças desenvolvendo a encantou, àquelas que a escola não dava credibilidade, presenciando um trabalho com seriedade, comprometimento e ética, que possibilitou reconhecer e valorizar o potencial de cada uma delas, contribuindo para a mudança de suas trajetórias.

Lutas sociais
Quando Nilma começou a atuar como professora o universo foi se abrindo a sua frente e o contato com o movimento negro e os estudantes negros na universidade serviu para se questionar em relação ao seu processo de construção como mulher negra e professora.

Foi então que decidiu que uma de suas contribuições na sociedade e no campo da educação seria com a formação de professores e professoras, sempre vinculada às lutas sociais de combate ao racismo – do movimento negro, de mulheres negras, quilombolas, juventude negra – reforçando a mudança de uma sociedade que possui uma estrutura tão racista e patriarcal.

Segundo a educadora, quando há pessoas negras na educação, principalmente na educação pública, já é uma forma de resistência e de combate ao racismo, ainda que parte dessa população negra acesse a educação em função de uma política pública de ações afirmativas, como a modalidade das cotas nas universidades e instituições federais, por exemplo.

“O racismo sempre tenta encucar na sociedade uma narrativa e uma forma de olhar que nos colocam nesse lugar da inferioridade e da baixa capacidade e potencialidade intelectual. Para o racismo nós não somos sujeitos de conhecimento”, diz Lino. E completa: “então, quando ocupamos esse lugar do saber, da escola e da educação, rompemos com essa ideia e com a estrutura do racismo”.

Percurso
Nilma possui um longo percurso de luta contra o racismo, foi reitora pró-tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) entre 2013 e 2014, sendo a primeira mulher negra a ocupar esse cargo em uma universidade federal brasileira.

Foi também ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos no governo da presidenta Dilma Rousseff entre 2015 e 2016.

A professora descreve que de lá pra cá vivenciamos uma ideologia de destruição das políticas de igualdade racial e também das políticas sociais no Brasil, de modo geral.

Esse retrocesso culminou na extinção do ministério citado acima, significando o fim do orçamento para as políticas de igualdade racial no Brasil, sem contar os ataques às universidades, à educação e à ciência. “É uma tentativa de institucionalização do racismo no Brasil, mesmo com uma Constituição que atesta que ele é um crime inafiançável e imprescritível”.

No podcast, Nilma aborda algumas de suas obras literárias, indica livros que considera importantes para conhecer a literatura negra e explica como essa literatura de autoria negra pode contribuir na formação das crianças, no resgate da Cosmogonia Africana, na construção da identidade étnica e de uma sociedade mais igualitária e, principalmente, no combate ao racismo.

Ouça o podcast na íntegra e conheça um pouco mais sobre a luta da escritora por equidade racial:

Conheça o trabalho de Nilma Lino Gomes em: www.instagram.com/nilmalino13/ e https://pt-br.facebook.com/nilmalinogomes.

Podcast Leituras
Uma vez por mês no Spotify do Centro Cultural UFMG