Obras de Alexandre Menezes contam histórias das cidades mineiras

Obras de Alexandre Menezes contam histórias das cidades mineiras

O Centro Cultural UFMG convida para a abertura da exposição individual ‘Sobre torres, janelas e memória’, do arquiteto, desenhista, artista plástico e professor Alexandre Menezes. A mostra reúne pinturas que fazem uma homenagem a Minas Gerais através de um olhar voltado para a arquitetura, em uma releitura de torres, janelas e memórias mineiras. O evento acontece no dia 06 de dezembro de 2024, sexta-feira, às 19 horas. As obras poderão ser vistas até 02 de fevereiro de 2025. A entrada é gratuita e tem classificação livre.

A exposição – por Alexandre Menezes

A exposição ‘Sobre torres, janelas e memória’ é uma homenagem a Minas Gerais, que busca através de um olhar voltado para arquitetura, uma releitura de torres, janelas e memórias mineiras. São muitas as arquiteturas, torres e janelas que, de alguma maneira, pertencem e contam histórias das cidades mineiras.

Atrás de uma aparente desordem formal, as pinturas escondem uma relação entre intuição e razão, improviso e raciocínio, ludicidade e disciplina. O rigor da observação, que registra torres, janelas e memórias, se expande na vitalidade da pintura, criando um inédito equilíbrio entre perspectivas e gestualidades espontâneas. As manchas soltas, livres e irregulares convivem com linhas precisas, rápidas e concisas. Desta relação surgem as pinturas, com gestos largos e pingos velozes.

Estes procedimentos, aparentemente opostos, podem ser entendidos como uma tentativa de pintar não somente o mundo visível, mas também as memórias, as histórias, o vento, o som, o cheiro, a cidade e a vida, com todo seu aspecto simbólico. Desta forma, a exposição ‘Sobre torres, janelas e memória’ ganha existência.

Sobre torres, janelas e memória – por Celina Borges Lemos

Alexandre Menezes, arquiteto, desenhista, artista plástico e professor, iniciou sua brilhante e plural carreira ainda muito jovem. Os primeiros sinais, deste rico caminho como pintor, se manifestam na sua vida ainda estudante. Ao concluir a Faculdade de Arquitetura, sua sensibilidade artística se aprimorou, por integrar o ato de desenhar, ao dom de pintar. Por esse arcabouço instigante, o ato de pintar ganhou solidez e qualidade ao cursar também a Escola de Belas Artes.

Destas passagens nasce este artista marcado pela permanente inspiração, mas também pela necessidade de transmitir e compartilhar suas descobertas através do ensinar. E sua carreira se multiplica, quer seja no compartilhamento dos saberes e das vivências junto aos seus alunos e alunas, quer seja por essa capacidade de originar, manusear, desenhar, compor, traçar, cortar, colorir.

Nestas excepcionais obras da exposição, o talento do artista parece orbitar por um espaço narrador e prospectante, composto por algumas facetas: a da arquitetura, dos objetos, detalhes, arremates; e o das luzes, tonalidades, sombras e rugosidades. Pela matéria da tela sobrevivem o lugar do real e a ficção plástica do artista voraz, irreverente. Algumas criações artísticas do século passado, analisadas por Clement Greenberg, se aproximam dos detalhes presentes nas suas pinturas: contrário a uma ilusão das coisas, Alexandre Menezes oferece a “ilusão das modalidades”, ou seja, aquela em que a matéria é corpórea e às vezes incorpórea, sem peso e existe apenas oticamente como uma miragem.

Nas “Torres”, prevalece o domínio tátil, disposto numa ordem da tectônica moldada, artisticamente, pelos memoráveis artífices e arquitetos fazedores de expressão, e da eternização de suas obras. Eles contribuem para modificar o estado de paisagem, até então predominantemente natural, através da inserção do elemento artificial, o das torres sineiras dos lendários templos ouro-pretanos em Minas Gerais. Fiel aos detalhes e elementos que compõem a estética barroca e rococó do período, o pintor performa, através dos traços e cores, a originalidade primitiva da pedra, da argamassa pintada e da sinuosidade do volume cristalino, este por sinal, o ponto de luz fundador das telas. Neste tectônico moldado e configurado numa estética singular, as pinceladas difusas sobrepõem à matéria equilibrada da construtividade, e esses estilhaços irreverentes alçam o domínio ótico.

Sobre as “Janelas”, o artista cria um elemento lúdico na composição e inverte o estado da imagem. Atribui importância bem menor ao tátil e tenta delinear quase tudo a duas dimensões, e esta planaridade bidimensional testa nossa sensibilidade como observadores. As pinceladas irregulares, profusas definem uma sobre textura, um detalhe rugoso e primitivo. E nessa saga, intenta atribuir um original sentido à matéria do tectônico, moldado, edificado e colorido das janelas e suas molduras esquadrias, bandeiras, vergas e sobre vergas, então elaboradas engenhosamente pelos antigos e memoráveis artífices e arquitetos. Ele deixa visível a sua tentativa de superar uma segmentação entre o primeiro plano e o fundo, e por nesta postura, adota o contraste de tons e das texturas, para delinear uma profundidade e, simultaneamente, uma ambiguidade entre o tático e o ótico.

Sobre a “Memória”, o nosso artista, como arquiteto procura sensibilizar, ressemantizar o legado secular, que tem como síntese dessa rememoração as cidades erigidas em torno do século dezoito em Minas. Cidades estas legendas, que guardam um longo passado pleno de identidades e lembranças. São as arquiteturas, seus detalhes, seus estados de paisagem que representam e abrigam um verdadeiro “palácio de memórias”. A exposição ‘Sobre torres, janelas e memória’, de Alexandre Menezes, representa mais um ato, um luminoso gesto do artista, que se configura, simboliza permanece e partilha. Algo próprio da sua alargada generosidade presente em tudo que ele cria e faz.

Celina Borges Lemos é Professora Titular da Escola de Arquitetura da UFMG.

Sobre o artista

Alexandre Menezes é natural de Belo Horizonte, onde se formou em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix e em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, na qual teve a oportunidade de estudar com Amilcar de Castro, Álvaro Apocalypse, José Alberto Nemer, Mário Zavagli, Sandra Bianchi, entre outros grandes artistas mineiros. Desde cedo manifestou interesse pelo desenho e pintura, assim como pelo ato de ensinar. Foi professor nos cursos de Arquitetura e Urbanismo do Izabela Hendrix (1987 até 2000), da Universidade FUMEC (1990 até 2018), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1994 até 2020) e atualmente é Professor Associado na Escola de Arquitetura da UFMG, sempre trabalhando com desenho e processo criativo. Possui Mestrado em Arquitetura pela UFMG e Doutorado (PhD) pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra, onde morou de 2001 até 2005. Desde 1982 expõe seus trabalhos em mostras coletivas e individuais, assim como em salões de arte no Brasil e no exterior.

Exposição ‘Sobre torres, janelas e memória’ – Alexandre Menezes
Abertura: 06 de dezembro de 2024 | às 19h
Visitação: até o dia 02/02/2025
Terças a sextas: 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados: 9h às 17h
Sala Ana Horta
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita

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Lembre-se: é recomendável o uso de máscara nos espaços do Centro Cultural UFMG mesmo para imunizados