‘Zé’: Rafael Conde fala sobre o seu novo filme em episódio de podcast

‘Zé’: Rafael Conde fala sobre o seu novo filme em episódio de podcast

O décimo oitavo episódio do Corredor Cultural 174 Podcast, produzido pelo Centro Cultural UFMG, traz um bate-papo com Rafael Conde, cineasta, escritor e professor da Escola de Belas Artes da UFMG. Ao longo de sua carreira foi diretor de teatro, coordenador do Cine Humberto Mauro e do setor de cinema da Fundação Clóvis Salgado. Seus filmes receberam diversos prêmios nacionais e internacionais. Recentemente lançou seu terceiro longa-metragem, ‘Zé’, que conta a história de José Carlos Novais da Mata Machado, líder do movimento estudantil assassinado pelo regime militar em 1973, em cartaz em algumas salas de cinema pelo país.

No podcast, Rafael recorda sua trajetória acadêmica, iniciada aos 17 anos no curso de economia pela UFMG, nos anos 80, período em que já existia um cineclube na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE). “Eu já gostava muito de cinema e aconteceu essa coincidência, porque quando eu entrei, lá nos anos 80, já tinha um cineclube na FACE”, relembra. Ele conta que adentrou ao movimento cineclubista e, logo após se formar na graduação, foi fazer mestrado em cinema na Universidade de São Paulo (USP), começou a trabalhar diretamente na área, nunca exercendo a economia.

Segundo o cineasta, era uma época muito difícil para o cinema. “Não é como a gente faz cinema hoje, que a gente pega um celular e sai filmando. Em Belo Horizonte não tinha câmera de cinema, você ia fazer um filme e tinha que ter um mínimo de dinheiro para trazer uma câmera, você tinha que comprar o negativo, tinha que revelar o negativo”, relata. Nesse cenário, Rafael Conde escolheu seguir a carreira acadêmica como forma de exercer a profissão, entrando para a UFMG como professor do curso de cinema da Escola de Belas Artes, nos anos 90, onde permanece até hoje.

Nesse meio tempo, fez doutorado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), com bolsa sanduíche em Performance Studies na NYU Tisch School of the Arts. “Como meu trabalho é cinema, captação direta, esse trabalho com ator, aproveitei para fazer o doutorado em artes cênicas justamente para estudar o ator, a presença do ator, mais especificamente no filme, e também para poder traçar um paralelo entre o teatro e o cinema e seguir meu estudo por aí”, explica. Posteriormente realizou pós-doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Rafael diz que a produção de cinema em Belo Horizonte é muito forte hoje em dia em razão da acessibilidade e da tecnologia, não só de produção, mas de distribuição e de exibição, e que essa capacidade de produzir cresceu muito com a internet e as plataformas de streaming. “Hoje você tem a possibilidade de fazer um filme não só de baixo orçamento, mas um filme sem orçamento. Tem uma moçada que junta, faz seus filmes, posta, cria canal no YouTube, circula, vai pra festival, edita no celular”, descreve. Além disso, Conde informa que existem os editais de fomento voltados para o segmento do audiovisual.

Recentemente Conde estreou o seu novo longa-metragem, ‘Zé’, produção baseada em fatos reais que conta a história de José Carlos Novais da Mata Machado, aluno da Faculdade de Direito da UFMG e uma das principais lideranças do movimento estudantil de Minas Gerais durante a ditadura. O roteiro foi inspirado no livro-reportagem do jornalista Samarone Lima, publicado em 1998, sobre essa narrativa verídica do referido estudante e seus companheiros de luta contra o regime militar.

O diretor recorda como foi atravessado por essa história, que há 20 anos ele vinha trabalhando o roteiro. “Quando eu entro na UFMG e tinha essa questão do movimento cineclubista, era o tempo da abertura política. Essa história era falada, conhecida, mas não muito explicada. A gente ouvia falar dessa história em partes, uma história muito complexa e que atingiu a vida de vários estudantes, professores e membros, por exemplo, da comunidade”, diz. “Eu ganhei esse livro de amigos e falei ‘nossa, isso tem tudo a ver com o que eu estou fazendo agora’, essa questão do movimento estudantil e eu fiquei muito interessado. Eu estava com um filme anterior, o ‘Samba-Canção’ no festival de Rotterdam, e ganhei um suporte para poder desenvolver o projeto. O filme demorou 20 anos e esses 20 anos eu vinha trabalhando o roteiro e, claro, fiz outros filmes nesse meio tempo, e aconteceu do filme ser viabilizado agora”, complementa.

Coincidentemente a este momento de estreia do filme, a UFMG concedeu diplomas de conclusão de curso póstumos a quatro estudantes que perderam a vida na luta contra a ditadura, dentre eles a José Carlos Novais da Mata Machado, com o propósito de promover uma reparação histórica àqueles que tiveram suas vidas e atividades impactadas por ações do regime militar. Mais um motivo para as pessoas assistirem ‘Zé’, conhecerem esse recorte da história e compreenderem como essa questão da repressão, do fascismo e da censura impactou nas relações e trouxe prejuízos à liberdade, à democracia e à educação.

Ouça o podcast na íntegra e saiba mais sobre o processo de criação e produção do filme que narra a trama desse jovem que desafiou a ditadura: https://bit.ly/482kL5Z

Acompanhe o trabalho de Rafael Conde no Instagram.

Corredor Cultural 174 Podcast é um projeto que disponibiliza mensalmente no Spotify conversas com artistas, músicos, escritores, cineastas, agentes culturais e demais pessoas que pensam, respiram e produzem cultura. “Corredor”, pelo fato do Centro Cultural UFMG estar situado no corredor cultural Praça da Estação e também no sentido de espaço de passagem, onde transitam ideias, movimentos e expressões artísticas em Belo Horizonte. “Cultural”, pois a temática será sempre cultura e “174” é o número de localização da instituição na Avenida Santos Dumont.

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