Professor Evandro José Lemos da Cunha

Gestão de 1980 a 1982 e de 1994 a 1998

O Prof. Evandro José Lemos da Cunha foi Pró-Reitor de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais de 1980 a 1982, durante a gestão do Reitor Celso de Vasconcelos Pinheiro. Atuou como Pró-reitor também no período de 1994 a 1998, durante a gestão do Reitor Tomaz Aroldo da Mota Santos. O Prof. Evandro possui graduação em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1975) e Doutorado em Artes pela Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é professor Associado IV, da Universidade Federal de Minas Gerais, Coordenador do Curso de Especialização em Ensino de Artes Visuais a Distância da Escola de Belas Artes – UFMG, oferecido pela Universidade Aberta do Brasil – UAB em parceria com o Centro de Apoio à Educação a Distância – CAED/UFMG; Coordenador do Laboratório de Artes e Tecnologias para a Educação – INNOVATIO e Coordenador de Extensão do Centro de Apoio à Educação a Distância – CAED/ UFMG. Tem experiência e atua na área de Artes, como gestor cultural, pesquisador, realizador, produtor, diretor, com ênfase em Roteiro e Direção Cinematográficos, atuando principalmente nos seguintes áreas: cinema, artes audiovisuais, documentários, cinema de animação e desenvolvimento de tecnologias de arte para a Educação, neste item atuando principalmente como pesquisador e coordenador para produção de material instrucional em Ensino a Distância. Linhas de Pesquisa: Cinema, Audiovisual, Ensino de Artes e Educação a Distância.                    Texto informado no lattes.

Cevex: A proposta de organização e implementação do Cevex nasce vinculada ao desafio das comemorações dos 90 anos da UFMG. Pensamos que um exercício muito importante é o levantamento da memória, da história da extensão em nossa universidade. Diante disso, propusemos um projeto de pesquisa, que possibilitou o levantamento de informações e construímos uma linha do tempo, analisamos documentos, atas, aqueles documentos mais formais… Interessados em uma história mais institucional da extensão. E agora a gente está entrando em uma fase de conversar com as pessoas, ex-pró-reitores e pró-reitoras, professores e professoras, estudantes, comunidades parceiras.…

Prof. Evandro: Mais humana!

Cevex: Exato. Então estamos conversando com todos os ex pró-reitores. No momento decidimos começar com os pró-reitores. Vamos entrevistar também os pró-reitores e pró-reitoras adjuntos/as.

Prof. Evandro: Exatamente. Os adjuntos são importantes, não é porque você é adjunta, não. Quem foi adjunto comigo foi o professor Walter Mota e ele contribuiu muito.

Cevex: Sim e aí, depois, como eu estava dizendo, a ideia é conversar com a comunidade, com as comunidades parceiras, com os estudantes que tiveram a experiência de extensão na sua formação, para contemplar um pouco essa diversidade de vozes, de perspectivas e de áreas também, porque a instituição acaba marcando áreas muito diversas. Então esse é o espírito. Você foi pró-reitor de extensão em 1980 e 1982…

Prof. Evandro: Das antigas, né? (Risos)

Cevex: Então, queremos começar um pouco por aí. Você poderia contar um pouco do seu percurso de atuação e de seu envolvimento com a extensão? Como aparece a extensão em sua trajetória, na sua história? Depois queremos ouvir mais diretamente sobre o momento em que você foi pró-reitor por aqui.

Prof. Evandro: Eu entrei na universidade, fiz concurso para a Escola de Belas Artes na área de cinema, eu sou professor da área de cinema, em 1976. Então eu entrei, eu era professor… Eu tinha acabado de me formar, era professor da Universidade Católica. Aí, eu fiz um concurso aqui e entrei para a universidade nesse período da década de 70. Quer dizer, durante esse período que eu entrei, eu logo depois fui chefe de departamento…

Comecei a me envolver com a área de extensão através de um projeto que existia na década de 1970 que se chamava Projeto Metropolitano. Esse projeto é um projeto que tinha uma atividade da universidade na área metropolitana, de desenvolvimento social basicamente, que envolvia todas as áreas da universidade na época. Esse projeto trabalhava principalmente com áreas pobres da cidade e a gente desenvolvia uma série de projetos.  Nós tínhamos na época, tinha conseguido através da Fundação Nacional de Artes, no caso da escola, uma bolsa, que era uma bolsa para o Brasil todo chamada Bolsa Trabalho Arte. Uma bolsa que era de disponibilidade da atuação da área de arte junto com a área social, quer dizer, do desenvolvimento da área de arte. Então, nesse Projeto Metropolitano, nessa época, nós criamos dois polos de desenvolvimento cultural, um em Lagoa Santa e outro em Sabará que chamavam Núcleos de Arte e Criatividade. Então, esses núcleos atuavam, não só a área de artes, mas algumas outras áreas da universidade se envolviam nisso, em um desenvolvimento… Lembro da área de comunicação, tinha um trabalho um pouco integrado, nessa época a gente chamava de integração, não existiam ainda palavras chiques para descrever integração… (Risos).

Eu comecei um trabalho grande nessa parte do Metropolitano, gostava muito, desenvolvia muito, a gente desenvolvia cineclubes, atividades, oficinas. Era uma situação muito rica, na época que não tinha quase nada desse tipo de trabalho. Então, eu comecei um envolvimento muito grande com a extensão a partir desse trabalho. Então, eu fui para representação no Conselho de Extensão da universidade, representação da Escola de Belas Artes da área de extensão. Os Conselhos, eles tinham, acho que 15 representantes, um de cada unidade, compunham o Conselho de Extensão. O Conselho de Extensão em determinado momento, quando acabava o mandato dos pró-reitores, eles votavam uma lista tríplice para a escolha do reitor e do seu pró-reitor. Então, o cargo de pró-reitor… depois veio há mudar nos anos pra frente, que é uma escolha direta do reitor, né… Quer dizer, era uma escolha do reitor passando pelo crivo de uma eleição interna, que era uma lista tríplice eleita secretamente, e tal. Então, em uma dessas mudanças eu entrei lá na lista tríplice, e aí, em 1980, o reitor, o professor Celso Pinheiro, ele escolheu esse menino para mexer com esse trem de extensão. (Risos).

Nessa época a universidade tinha, vamos dizer, a pró-reitoria de extensão, ela tinha basicamente começado, eu não sei muito precisar, mas talvez aí na década de 70, final da década de 60, e ela estava começando uma série de atividades. Já tinha algumas coisas muito importantes sendo colocadas, muito provavelmente o envolvimento da área cultural da universidade já era muito forte nessa época pelo Festival de Inverno em Ouro Preto que começou em 73, acho, o primeiro festival. As datas eu posso dar umas enganadas porque eu não sou muito bom de datas. O festival era mais ou menos um carro chefe importante da atividade de extensão universitária, e realmente colocava a universidade federal em um certo topo de mídia, de desenvolvimento da área de extensão durante um bom período.

Mas nessa época mesmo, nós ativamos mais ainda o Projeto Metropolitano, eu já vinha desse projeto, acreditava muito nele… Então, nós criamos vários pólos de desenvolvimento em outras áreas e vários projetos também, que eram basicamente disponibilizar resultados sociais de projeto de pesquisa da universidade. Lembro tínhamos o Projeto Confort, que começa nessa época, e era um projeto com questões de nutrição, de áreas muito pobres, enfim, mas que era também uma preocupação muito grande de desenvolvimento de projetos que tivessem a ver; que hoje se chama, mas na época, não; sustentabilidade, que pudesse ter uma sustentação dentro daquilo que propunha. Tinha proposta, por exemplo, de criação de coelhos, que era uma coisa muito interessante durante um tempo, umas propostas de alimentação junto a algumas favelas. Tinha essa questão dos pequenos animais… Eu teria que realmente pegar da época esses projetos todos pra gente lembrar, pra que eu lembrasse né, de todos os projetos que a gente já desenvolveu. E criamos também, já nessa época, começamos a pensar dentro do conselho, quer dizer, essa preocupação que tem até hoje de institucionalizar mais os trabalhos de extensão dentro da universidade. Já andou muito, melhorou muito, mas na época era praticamente…

A extensão era ligada a essa questão um pouco, das pessoas que se envolviam, um pouco na sua demanda pessoal de se envolver com uma atividade. Era uma coisa um pouco, vamos dizer assim, um pouco religiosa…

Cevex: Assistencialista…

Prof. Evandro: Assistencialista, quer dizer, essas pessoas que se preocupavam com o desenvolvimento social, quer dizer… Tenho que lembrar que isso era na época, na década que eu estou falando já era um pouco menor. Por que na década de 70 vai dar esse contexto ditatorial muito severo, e ao mesmo tempo a extensão, ela não tinha muito o formato de cumprir. Nós éramos muito incomodados com essa parte um pouco assistencial, também, que vinha já de certa atuação da extensão, da qual talvez fugisse um pouco o próprio Festival de Inverno, que não tinha muito essa conotação, mas as outras tinham um pouco. Já estávamos preocupados com isso, e começamos então a fazer certo envolvimento mais pontual das unidades em torno da extensão que foi com a criação dos Centros de Extensão. Quer dizer, através das unidades podemos agilizar uma correlação de trabalho que pudesse envolver mais a unidades como unidade.

Nessa época também foi quando a gente fez o primeiro convênio com a Fundep, a Fundep também era muito jovem, uma fundação muito jovem nessa época, e a gente fez o primeiro convênio com a Fundep, era o presidente o professor Otávio Elísio. Em relação à questão de cursos, da fomentação de cursos, e isso foi uma situação que pegou muito dentro das unidades, porque várias unidades começaram a ofertar cursos de extensão. Os cursos, alguns deles com certo apelo, vamos dizer assim, de venda, de retorno financeiro e tudo, quer dizer, isso começou isso. Ao mesmo tempo, nessa época, pela legislação, os cursos de atualização, de aperfeiçoamento e de especialização eram da área de extensão, depois que a especialização vai para área da pós-graduação, mas nessa época, muito desses cursos eram desse formato. Isso deu certa solidez à ação da extensão com relação às unidades, que eram um pouco dissociadas, ao não ser uma unidade ou outra, que já tinham um pouco, principalmente as das áreas de ciências agrárias e veterinária, e tudo.

A Emater que já tinha essa questão da extensão na área de saúde, já começando aí também nessa época… começou essa discussão e dentro dessa discussão de como ter a extensão de forma mais institucionalizada dentro da universidade, que foi a do Internato Rural. Eu participei de várias reuniões como pró-reitor nesse primeiro momento da instalação do Internato Rural, que é uma experiência muito bem vista, não só bem vista, de bons resultados dentro da universidade. Mesmo o Cipmoi, que tem uma origem um pouco antes, mas que é da formação de mão de obra, também voltada à formação dos pedreiros, mestres de obras. E começamos também nesse período, um pouco, o Programa de Alfabetização, que a universidade participava, então, foi um período muito rico. Além, obviamente, que eu sendo da área cultural tive um envolvimento muito grande, até mesmo como coordenador geral do Festival do Inverno nesse período, e fui coordenador do Festival de Inverno, acho que por uns dezoito anos. (Risos) Vocês não tinham nascido.

Cevex: Na minha formação em Psicologia na UFMg tive aula com professores que participaram do Projeto Metropolitano.

Prof. Evandro: Foi um período muito rico! E nessa época também de 82 era uma preocupação também, quer dizer, da atuação da universidade com relação à cidade de Belo Horizonte. Então, eu fiz uma proposta ao reitor e ele falou “Você tá maluco?” Que era fazer o Centro Cultural da Universidade, que era na verdade, Centro Cultural, não, era um centro de referência cultural e de extensão da universidade. Seria o que a Unicamp veio criar bem depois, a Escola de Extensão. Que foi até um projeto de quando eu fui pró-reitor a segunda vez eu tentei criar, mas fizeram o projeto um pouco errado na minha concepção que é do Conservatório da Universidade, que era a ocupação do Conservatório como Escola de Extensão da universidade.

Cevex: Isso é outro enfoque, não é?

Prof. Evandro: Outro enfoque, outra coisa. Aí, o Centro Cultural, a Escola de Engenharia ainda funcionava inclusive no prédio onde é hoje o Centro Cultural e tal, e eu lembro de vários debates que tive lá com a Congregação da Engenharia para a área cultural. E isso foi preciso na época da vinda do secretário de cultura, que não tinha o Ministério ainda era a Secretaria de Cultura, que o governo agora tentou refazer de novo. Mas aí, o secretário veio e falou “Nós vamos dar todo apoio, e tal”. Aí, teve toda uma troca de interesse e nós conseguimos, anos depois vai ser instalado o Centro Cultural. Começa e depois ele vai ser institucionalizado, já na gestão do professor Cid e tudo, mas começa nesse período. Então, foi um período curto, claro que depois desse período eu continuei coordenando, obviamente, as atividades de extensão dentro da Escola de Belas Artes, mas sendo coordenador geral então do Festival de Inverno na sua itinerância, que é outro projeto que, eu não sei se vocês vão pegar uma coisa específica… Até tem um filme sobre os 40 anos de Festival  que eu poderia mandar para vocês, que conta toda a história. É um filme com os coordenadores do Festival falando do Festival em seus 40 anos.

Cevex: Você nos conta um pouco desses anos, um momento de desafios, momento de institucionalização da extensão. Enfatizando a necessidade de criar processos, lugares…

Prof. Evandro: Nós andamos aos poucos…

Cevex: Mas pelo o que você relatou havia uma preocupação. Naquele momento, quais eram as concepções de extensão, como a comunidade percebia a extensão? Era algo muito difundido? Era algo que precisava de fato ser fomentado? Você relatou que havia uma posição, talvez, daqueles mais engajados… Não existia tanto uma política de extensão mais clara… Se você pudesse falar um pouco sobre isso…

Prof. Evandro: Nessa década de 80 vai ser uma preocupação. Inclusive depois os outros pró-reitores que vierem aqui vão um pouco talvez complementar isso. Vai ser muito uma preocupação do professor Geraldo Guedes, vai ser enfim, de uma série de outras pessoas que vem depois, depois da minha atuação na extensão. Essa coisa de que vem depois de mim é meio prepotente… (Risos). A concepção que tínhamos, um pouco, quer dizer a universidade… Claro que nós tínhamos uma concepção um pouco mais, vamos dizer assim, as pessoas que atuavam na área da extensão tinham uma concepção um pouco mais avançada do que era extensão, mas para o grande número da universidade, a extensão efetivamente era uma área complementar, era uma área que não tinha, vamos dizer assim, uma legitimidade de ensino e nem tanto de pesquisa. Era uma área que era um pouco marginalizada dentro da universidade, um pouco e ainda é até hoje. E era uma área que não se associava com uma área de crescimento da universidade, Era uma linha de trabalho que era muito de realização de projetos, mas a construção desses projetos na verdade, ela possibilitou um respeito à extensão que foi indo crescendo. Quer dizer, em um primeiro momento o grande projeto de extensão respeitado era o Festival de Inverno por que ele tinha uma abrangência externa muito grande. Depois quando começamos a associar a questão, isso não foi planejado, foi um pouco por acaso, associar os projetos de pesquisa à atividade de extensão. Isso mais tarde, na segunda vez que eu fui pró-reitor, a gente vai trabalhar isso no Polo de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha, que começa na minha segunda gestão, que nós vamos trabalhar essa disponibilização de resultados sociais de projeto de pesquisa, quer dizer, aí já é em um outro âmbito, mas isso já começa um pouco, esses projetos que eu citei, eram projetos efetivamente de pesquisa, já o Confort é um projeto forte até hoje, eu não sei muito como é que está, mas enfim, mas eram essas situações na qual você trazia essas outras áreas de conhecimento para a extensão universitária.

A extensão era tida como como, não sei se pelo Festival, mas muito como uma coisa da área cultural da universidade, era o braço cultural da universidade, que fazia exposições, que fazia determinadas atividade culturais, fazia cursos. E também a linha de cursos, a linha de cursos, mesmo quando começa o convênio com a Fundep, tinha os cursos pagos da universidade que vai ser uma novidade, mas com muita resistência dentro da universidade. Ele também inaugura uma situação um pouco mais sólida de diálogo com as unidades, então acho que isso vai mudando um pouco a concepção de extensão.

Não havia, na verdade, um retrato conceitual nessa época da extensão muito definido, porque ele estava em construção também, quer dizer, embora você já tivesse livros de Paulo Freire que se dedicava um pouco à isso, um ou outro livro que ainda são referências até hoje dá concepção de extensão, mas ao mesmo tempo isso não era uma situação conceitual, vamos dizer assim, de determinação política ou mesmo da reitoria. A reitoria era “A extensão é extensão. Manda lá para a extensão.” (Risos). O cara queria fazer alguma coisa “Manda lá para a extensão.” Então, não tinha muito isso, isso depois vai se dando, vai crescendo, que é esse crescimento, vamos dizer assim, tanto conceitual e também da própria atividade extensionista que vai adquirindo outro contorno, outra importância dentro da universidade.

Cevex: Bem, entre esses desafios da institucionalização que você pontua, às vezes a extensão era vista algo menor dentro da universidade… Como você vê esse desafio de articular isso em pesquisa e extensão? Você falou um pouco. mas para você, qual é a importância disso? E segundo, para isso se concretizar de fato, o que deve acontecer?

Prof. Evandro: Acho que o grande desafio de articulação disso, é que realmente tem que ser uma articulação na relação de ensino, de pesquisa e extensão que tenha essa compreensão da disponibilidade social da universidade. Quer dizer, isso ainda é o foco que se tem, conceitual na área de extensão. Então, eu acho, e não sei muito se vou estar certo nisso, mas eu acho que você concretizar essa integração através de projetos específicos é o caminho efetivamente. Isso eu estou dizendo por que é um caminho que, aí a gente está falando de duas épocas, estou falando de uma coisa de dez anos depois que eu vou ser pró-reitor novamente, quer dizer, não tendo parado, claro, por dez anos! Ainda mais onde, e aí tem uma situação já muito diferente que é o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão, que eu fui presidente do fórum por vários períodos… E na época em que eu estava na presidência do fórum nós propomos o Plano Nacional de Extensão. E o Plano Nacional de Extensão basicamente carregava essa linha conceitual que era da junção com as áreas de pesquisa e ensino da universidade, mas através de projetos e financiamentos específicos. Então isso vai abrir o que hoje é o… Como é Pbext? Pbext?

Cevex: Pbext – Programa de Fomento de Bolsas de Extensão para Programas e Projetos de Extensão.

Prof. Evandro: Proext! Desculpa. O Proext. O Pbext ele vem surgindo um pouco depois. Então, isso possibilitou certo horizonte para que crescesse as atividades de extensão com os projetos que fossem passíveis de serem avaliados.  Por que um dos grandes problemas que se tinha na universidade, e que se tem ainda, é a avaliação dos processos de extensão. Até nessa segunda vez também que eu fui da pró-reitoria junto com o professor Walter Mota e nós criamos o programa de avaliação de extensão da universidade. Já incipiente, ainda não tínhamos nem internet na década de 90, isso em 98. Estava começando a internet, mas já conseguíamos estruturar uma forma para que pudéssemos ter parâmetros de avaliação dentro dos projetos. Então isso depois vai ter também outro conhecimento…

Primeiro: a extensão tem esse lado de resultados, de prática e tem esse lado pra ter essa unidade com a pesquisa e com o ensino. Ela tem que partir de uma certa prática que possa nortear a ação da universidade. Então, a extensão tem que ser concreta, ela é concreta. Ela tem esse lado que às vezes diferencia um pouco de objetos de pesquisa, mas ela em si…Ela por essa prática, eu acho que ela tem tantas possibilidades, e ela tem efetivamente uma importância muito grande. Uma universidade que não tem extensão é efetivamente uma universidade incompleta.

Cevex: Você falou um pouco do Fórum dos Pró-reitores, o processo institucional…

Prof. Evandro: Então, o Fórum ele deve ser da década de 90, início dos anos 90. No fim da década de 80, início dos anos 90 há essa necessidade das universidade públicas de se juntarem em torno da discussão da questão da extensão, tinha já outros fóruns, claro, funcionando muito bem como a de graduação, de pós graduação e que tinha um recorte um pouco diferente, eram fóruns que também  incorporavam as universidades católicas e algumas universidades privadas. Privadas eu não sei, mas o nosso sempre teve uma pressão muito grande da iniciativa privada de entrar no fórum também, mas sempre foi e até hoje acho que ainda é barrado. E tinha as católicas que eu acho que já são…

Cevex: Não.

Prof. Evandro: Não… Não entraram também. Mas foi uma pressão muito grande que se tinha na época de que entrasse. Como tem uma especificidade do ensino público gratuito para a atividade de extensão, quer dizer, efetivamente é difícil de misturar as duas situações, né, porque são interesses muito diversos. Então, o fórum vai ser importantíssimo para a extensão, porque ele vai ser determinante em certo reconhecimento institucional significativo por parte não só do Ministério da Educação, mas de outras áreas governamentais. Então, ele cria uma solidez de ação, através de mecanismos de possibilidades de financiamentos da extensão universitária e que é muito concreto.

Esqueci de falar, na década de 80, um desses financiamentos que vem sendo feito um pouco na década de 60 e 70 é o Projeto Rondon, que já estava terminando na época que eu entrei, já era uma situação na qual já se começava a construir a saída do sistema da ditadura. O Projeto Rondon era muito ligado à uma certa concepção assistencialista da universidade que tentam se recuperar, provavelmente, as reformas governamentais do atual governo, eles devem querer recuperar essa ideia de universidade ser assistencial nas áreas pobres, que é muito complicado a discussão disso, explicar para as pessoas que não é bem isso e que a universidade já faz isso. Mas isso era um mecanismo de financiamento, então a universidade foi tendo que substituir esse mecanismo de financiamento.

E nesse decorrer de tempos aí, estou falando de várias crises, várias crises financeiras que a universidade sofreu, mas levantando, outras arrebentam, outras voltam… E aí, eu acho que o fórum vem estabelecer, não é bem um discurso, ele vem estabelecer um formato para a extensão universitária que dá credibilidade e dá respeito à extensão. É uma coisa muito importante e que depois o fórum vai entendendo isso. Nisso eu participei. O fórum teve diálogos muito difíceis, eu fui presidente na época do Fernando Henrique, eram diálogos complicadíssimos que se tinha com o MEC, mas conseguimos estabelecer o Plano Nacional de Extensão. Depois de muita luta, mas associando a outros ministérios, conseguimos alguns… direitos humanos tinha um na secretária e acabou vindo para trabalhar isso, educação à distância que depois vai dar na Secretaria de Educação a Distância que era uma coisa incipiente também na época, a área de saúde. Então eu lembro que quando formatamos o Plano nós fizemos um seminário em Brasília que foi com todo mundo, conseguimos essa integração de várias áreas e pessoas que foram. Então começou a mudar muito, mesmo em uma situação adversa, conseguiu-se mudar muito o discurso. Obviamente depois há uma situação do governo Lula que é muito mais aberta. Eu já não participava mais também, já eram outros pró-reitores e eu não sei muito bem como é que se deu essa história, quer dizer, saber eu sei, mas deixe eles falarem. (Risos)

Cevex: Evandro, você falou uma coisa interessante – que a universidade sem extensão seria uma universidade incompleta. Vamos falar um pouquinho sobre isso. Com o que a extensão contribui, especialmente para a universidade pública concretizar a sua função pública como instituição?

Prof. Evandro: O primeiro ponto é que extensão significa renovação. Acho que na medida em que você tem que criar diálogo, o diálogo ele pressupõe você se renovar para poder dialogar, conversar essa coisa toda e tal. Então, a extensão ela sempre, dependendo de uma universidade ou do formato, mas no caso específico da UFMG, ela sempre teve uma situação de diálogo e de busca da renovação. Quer dizer, todos esses projetos, se a gente começar a ler as atas, se eu começar a ler o meu currículo, pelo menos identificando determinadas coisas, são projetos renovadores, são projetos que vão possibilitar um diálogo completamente diferente da universidade para a sociedade.

Quando você pega, por exemplo, talvez um projeto um pouco ícone, pelo menos em sua concepção inicial de desenvolvimento, o Polo de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha. O que era a concepção disso? A concepção era… A universidade já tinha muitas atividades no Polo do Jequetinhonha, muitas atividades de pesquisa que tem solução social. O que era um problema? Isso estar disperso e isso não ter financiamento, essa inovação. Então, quando você pega uma situação de penúria, de situação social como a do Vale… Você ir lá em termos assistenciais vai mudar pouquíssimo. Você ir com determinadas concepções da área da pesquisa comprovadamente e colocar isso em um formato que é possível você, sei lá, fazer uma atuação, por exemplo, na questão do clima, na questão do meio ambiente, quer dizer, você tem uma ação da universidade que é uma ação de extensão, mas que elas se completam. Uma universidade é incompleta por quê? Você pega uma universidade boa, privada e ela não tem extensão, então ela é incompleta porque ela não tem diálogo, não tem renovação, ela não tem inventividade. É a extensão que traz isso, a extensão é a área da universidade que possibilita reinventarmos a universidade.

Cevex: Muito bom, muito bom, mesmo. Nós estamos chegando aí nos 90 anos e diante dessa data comemorativa, que você deseja o que você vislumbra para a extensão… para os próximos 90 anos da nossa universidade?

Prof. Evandro: O único receio que eu tenho da extensão, de um pouco de como ela está caminhando, que eu queria dizer é que ela se burocratize. No dia que a extensão virar uma ação normal e burocratizada da universidade, acho que talvez aí vá acabar um pouco esse sentido da renovação. Então, eu acho que nós temos que caminhar no sentido da institucionalização, mas institucionalizar não significa burocratizar. Porque se você fechar a extensão em certa gaveta do conhecimento na universidade, ela tende a ficar estagnada.  E isso, por exemplo, infelizmente, aconteceu um pouco com a pós-graduação, que hoje tem um mecanismo de avaliação que não estava no contexto da própria universidade, é de um contexto fora, e um contexto que você tem hoje um trabalho universitário muito medido por uma produção, por uma produtividade, que muitas vezes não reflete o que efetivamente a universidade tem capacidade para fazer. Quando eu digo burocratização, burocratizar seria isso. Por que a tendência nossa é de apropriarmos do trabalho da extensão universitário e colocá-lo junto aos outros, mas ela tem que manter essa linha de inventividade, isso é fundamental. Então, eu espero que sinceramente que a extensão não se burocratize. Nem nesses 90 ou 180 anos.

Cevex: Muito bom. Não sei se você gostaria de complementar mais alguma coisa…

Prof. Evandro: Enfatizei mais essa questão conceitual, porque puxar da memória dá muito trabalho…

Cevex: Claro. Tem nos interessado muito pensar nas concepções, os fundamentos. Verificamos que existem perspectivas distintas de extensão, então existe o diálogo, algumas tensões, há até mesmo disputas em alguns momentos… Penso que a ideia de contar essa história e de fazer esse exercício de memória consiste também em resgatar essa diversidade de perspectivas.

Prof. Evandro: Claro. E na verdade tem que ter muito cuidado porque a universidade no fundo é um “elefantão”, é um negócio que dá um passo assim… Quando você vê está voltando para trás em certas coisas… (Risos)

Cevex: É sempre um risco voltar para trás.

Prof. Evandro: É! Não digo tanto, mas a universidade é outra universidade hoje. Eu acho que o Reuni criou outra UFMG, então essa outra UFMG está junto. É por isso que essa questão do resgate histórico é um negócio… É de uma importância enorme esse resgate porque é uma forma de estabelecer isso. Um programa interessante também que a gente criou na época foi o Programa de Cartilhas e é um negócio legal de retomar. Eram cartilhas que justamente deram muita visibilidade à universidade nesse contexto, Estou até ajudando o pessoal do Caed, que esse negócio de educação à distância é o futuro da universidade porque a UFMG vai crescer, mas como? Agora eu estou formatando um programa que é disponibilizar justamente informações, mas aí visando os jovens. Curso pequeno, gameficado, sem tutor, para os jovens.

Cevex; E existem muitos projetos e programas de extensão que trabalham com esse tipo de material.

Prof. Evandro: Eu estou conversando com o pessoal do direito, a profa. Adriana Orsini, porque eu tenho um laboratório também que produz na área audiovisual, na minha área, que chama Innovation. É um laboratório de produção de material. Começou com curso a distância, mas hoje já tem uma demanda. Nós estamos fazendo um trabalho que é justamente… a gente acabou agora. Fizemos um jogo. Um jogo dos direitos humanos dos adolescentes.

Cevex: Conhecemos o jogo. É muito bom!

Prof. Evandro: Fizemos esse jogo e agora estou querendo fazer uma linha de cursos curtos para disponibilizar para os jovens. Por exemplo, direito à cidadania, direito à educação, direito na área da sexualidade, enfim… Então já têm uns dezesseis itens. Nós vamos começar um agora que é faça seu vídeo didático sozinho, como se usa o telefone para fazer um vídeo… E aí, você vai gameficando, vai passando etapas, que é um negócio que os jovens gostam muito, esse desafio de vencer aquela plataforma. Mesmo que não é um game, ou games, porque game é um negócio muito caro, mas é um game de escada… Você está vendo? Já estou eu aí de novo na extensão… (Risos).

 

Entrevista realizada no dia 26/09/2016, às 15:00 horas, Gabinete PROEX- UFMG. Entrevistadora: Professora Claudia Mayorga. Equipe participante:  Gabriela Braga Casali e Thais Lopes Diaz.

 

 

Assista ao vídeo gravado pela Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão da UFMG no dia 1º de setembro de 2017, na inauguração do CEVEX realizada na Sala de Sessões do prédio da Reitoria da UFMG:

 

Veja entrevista com:

Professora Efigênia Ferreira e Ferreira

Veja entrevista com:

Professor Geraldo Luiz Moreira Guedes