Tendência

Elas vão, voltam e teimam em ficar

ANA RITA ARAÚJO

Doenças que deveriam ter sido extintas no século passado continuam a desafiar a medicina; novas enfermidades surgem a partir de fenômenos recentes como as mudanças climáticas

Corria o mês de novembro de 1904, e a cidade do Rio de Janeiro viveu o que a imprensa da época chamou de “a mais terrível das revoltas populares da República”. A decisão do jovem médico sanitarista Oswaldo Cruz de livrar a cidade da varíola, por meio de campanha massiva de vacinação, foi o estopim para que cerca de três mil pessoas tombassem bondes, arrancassem trilhos e destruíssem o calçamento das ruas.

Alguns anos depois, a vacina se tornaria o sonho dourado da humanidade. No final da década de 1970, as sociedades industrializadas anunciaram que até o ano 2000 teriam o controle de todas as doenças infecciosas, por meio da imunização ou de tratamento. Quase uma década depois da data prevista, constata-se agora que grande parte das doenças que se queria erradicar não se extinguiram no século 20. Ao lado das tecnologias avançadas que ampliam o conhecimento sobre o corpo humano, o passado marca presença por meio do elevado número de casos de leishmaniose, hanseníase, dengue, malária, tuberculose, cólera e febre amarela urbana.

Redistribuição espacial

O futuro que hoje os especialistas conseguem projetar não é tão diferente do que já se conhece; deve trazer, como principal novidade, a redistribuição espacial de algumas doenças, que começam a chegar a ambientes impensáveis há algumas décadas. Exemplo disso é a ocorrência, na Escandinávia, de um tipo de encefalite transmitida por carrapatos. A doença, que existia na Europa Central, tem se deslocado mais para o Norte, porque os invernos estão menos rigorosos e as condições climáticas típicas da primavera, mais duradouras. “Com isso, os carrapatos têm sofrido migração latitudinal, daí a ocorrência de casos de encefalite a dois mil metros de altura, o que nunca tinha acontecido”, informa o pesquisador Ulisses Confalonieri, que há 11 anos integra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Médico e veterinário, Confalonieri é vinculado à Fiocruz e há um ano foi admitido como professor da Escola de Veterinária da UFMG.

Segundo ele, as novas condições de surgimento desse tipo de encefalite e de uma doença africana de ruminantes detectada em grandes altitudes na Europa compõem um quadro de três situações que evidenciam o impacto do aquecimento global na saúde humana. Elas foram identificadas pelo Comitê de Saúde do IPCC, que avaliou 510 trabalhos científicos publicados entre 2001 e 2007. Os dois outros indícios são a onda de calor que matou cerca de 35 mil pessoas na Europa em 2003 e o aumento de pólen na atmosfera, também no continente europeu, com a conseqüente elevação da incidência de alergias. “O pólen surge na primavera, que agora está se antecipando em duas ou três semanas, em vários países”, explica o pesquisador. Ele destaca que a temperatura de solo terrestre naquele continente aumentou três graus em 40 anos. “Isso está mudando, de forma inequívoca, as condições ambientais e os sistemas naturais”, completa.

Disfunções letais

Para os padrões dos trópicos, a onda de calor que castigou a Europa em 2003 não parece nada assustadora. Mas, como explica Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, professor de Fisiologia do Exercício da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG, as ondas de calor são definidas no Hemisfério Norte como três dias consecutivos de temperatura média, à sombra, superior a 32º C. “Não há conceito equivalente e específico para o Hemisfério Sul, onde a predominância da quantidade de água oceânica sobre o solo continental é responsável pela maior estabilidade da temperatura e dos climas”, diz o pesquisador, que também é médico coordenador clínico do Centro de Referência em Neurofibromatose do Hospital das Clínicas da UFMG.

Ele explica que há uma diferença entre os efeitos agudos do calor e os efeitos do lento aumento na temperatura causada pelo aquecimento global. Durante uma onda súbita de calor, indivíduos que apresentam limitações para dissipar seu calor corporal (desidratados, não aclimatados, que usam medicamentos, doentes, idosos, bebês) ou que exercem atividades como exercícios e trabalhos braçais podem aumentar sua temperatura interna, especialmente a cerebral, o que pode produzir algumas disfunções letais se não revertidas a tempo. “Inicialmente, ocorrem dor de cabeça, tontura, mudança de humor, cansaço, câimbras e, se progredir a hipertermia, confusão mental, coma e estado de choque”, descreve o professor Luiz Oswaldo. E completa: “O estado de choque (insuficiência circulatória geral aguda), causado pelo excesso de calor corporal, é extremamente grave, com mortalidade superior a 50% dos casos, resultando em seqüelas freqüentes naqueles que sobrevivem”.

Segundo ele, as vítimas preferenciais são os idosos, os incapacitados de se hidratarem ou se locomoverem autonomamente – crianças, doentes e prisioneiros, por exemplo –, os trabalhadores em ambientes quentes e úmidos, os militares e atletas não aclimatados. Por outro lado, o impacto do aquecimento lento do planeta decorre das alterações climáticas, que mudam o ambiente ecológico para os seres humanos, e não do aumento de sua temperatura corporal.

Em mutação

Para Manoel Otávio da Costa Rocha, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, entre as doenças que tendem a surgir no futuro estão as arboviroses, transmitidas por artrópodes como os mosquitos. “Existem várias viroses das quais a população nem ouve falar, como algumas febres hemorrágicas da Amazônia. São doenças novas? Para o conhecimento do homem, muitas vezes, sim”, opina o professor. Ele argumenta que uma enfermidade circunscrita a um espaço geográfico menor passa a ser reconhecida quando muda a interação do homem com o ambiente, com agentes infecciosos e hospedeiros ou quando surgem novas tecnologias de diagnóstico e interesse social em sua divulgação.

Ele ressalta que a eclosão dessas doenças em novas regiões do planeta está vinculada a fenômenos essencialmente contemporâneos, como a alta mobilidade do ser humano, devido aos modernos meios de transporte e a convulsões sociais; a ocupação cada vez maior de áreas antes desabitadas; e a mutação genética dos microorganismos. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Infectologia e Medicina Tropical da UFMG, Manoel Otávio destaca que o ambiente é mutável e depende das relações sociais, do processo de ocupação dos espaços e do modo de produção. “Um elemento muito forte hoje é a dinâmica das populações”, diz, ao citar como exemplo os refugiados, que podem contrair doenças por não terem tido experiências com determinados ambientes que lhes proporcionassem imunidade, ou levar aos novos locais vírus aos quais já se adaptaram. “Na medida em que a sociedade interage de formas diferentes, criam-se novas possibilidades, e podem surgir as chamadas doenças emergentes. Há também as reemergentes, que estavam desaparecidas e ressurgem quando mudam o ambiente ou as circunstâncias”, comenta. Ao fazer referência à poliomielite, à varíola e à rubéola no Brasil, Manoel Otávio adverte: “Elas virtualmente não existem, mas se a vacinação não for mantida a população vai se tornando vulnerável e elas podem ressurgir”.

Sobre a resistência das doenças aos antibióticos, o professor explica que muitos vírus têm, em seu genoma, uma área altamente variável. “Quando há uma pressão farmacológica ou imunológica, eles reagem, sofrem alterações genéticas e formam um conjunto chamado de quasiespécies.”
Além do uso indiscriminado de antibióticos – prática freqüente em nosso meio até mesmo sem prescrição adequada e que leva a uma seleção de germes resistentes na própria flora do paciente –, outra conduta que favorece o surgimento de patógenos resistentes é a não-adesão ao tratamento. “Como diversos microorganismos são muito mutáveis, o paciente precisa usar os medicamentos continuamente. Caso contrário, vem a resistência”, adverte Manoel Otávio.

O envelhecimento da população – fenômeno típico das sociedades contemporâneas – também impacta a saúde humana, já que o espectro das doenças é mutável nessa situação. “Na época de Alexandre {Macedônia, 356 a.C a 323 a.C} viviam-se 35 ou 37 anos. No início do século 20, a média era de 50 anos. Hoje, uma pessoa de 70 anos é absolutamente ativa. Dizem que o ser humano é projetado para viver mais de 100 anos e acredito nisso. Mas com a senescência do organismo, e especialmente das defesas orgânicas, surgem condições para o aparecimento de mais doenças”, alerta o professor Manoel Otávio.

Mundo obesogênico

Outro componente moderno que afeta diretamente a saúde são os hábitos de vida. “Vivemos em um ambiente obesogênico, isto é, que induz à obesidade”, define a professora Aline Cristine Souza Lopes, do curso de Nutrição da UFMG. A receita para esse tipo de ambiente é simples e utilizada pela grande maioria da população: vida sedentária e alto consumo de alimentos industrializados. “Passamos a tomar muito refrigerante dietético, a comer mais fora de casa e a viver em ambientes com ar refrigerado, que causam infecções. São alterações que interferem nas condições de equilíbrio e saúde”, comenta o professor Manoel Otávio da Costa Rocha.

Com relação aos adoçantes artificiais, Aline Lopes reconhece que atualmente eles são de grande valia para diabéticos. “Mas a ciência é cíclica e, como os estudos ainda não são conclusivos, pode ser que daqui a 10 ou 20 anos se descubra que eles provocam efeitos deletérios ao organismo.” A margarina, exemplifica ela, apresentada anos atrás como “a grande solução”, hoje é vista como vilã por conter gordura trans, elaborada a partir da hidrogenização de gordura vegetal.

A gordura trans, aliás, tem sido apontada como um dos elementos alimentícios mais comprometedores para a saúde humana. Agora a indústria de alimentos tem a obrigatoriedade legal de indicar no rótulo se o alimento contém ou não este ingrediente. “Isso tende a levar o consumidor a procurar alimentos mais saudáveis, e a indústria a buscar outras formas de produzi-los”, acredita a professora Ann Kristine Jansen, também do curso de Nutrição, ao ressaltar que a chamada fast food contém muita gordura trans, “que é pior para a saúde do que a gordura saturada”.

Mas Ann Kristine Jansen informa que, “a princípio, não há nenhum hábito alimentar que, por si só, provoque doenças, a não ser o não alimentar-se”. Segundo ela, mesmo o alto consumo de gordura animal, por exemplo, não obrigatoriamente provoca doenças. “Uma série de fatores predispõe o indivíduo a adoecer. O que conta de fato é o estilo de vida, que inclui hábitos alimentares, atividade física, trabalho, lazer, consumo de bebidas alcoólicas e uso de cigarro, entre outros. Trata-se de algo complexo, que não resulta de uma única causa”, afirma, ao destacar a importância dos estilos alimentares saudáveis, que previnem doenças e devem ser adotados a partir de dois anos de vida.

Mediterrâneo e polar

Segundo Maria Isabel Toulson Davisson Correia, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, pesquisas mostram a forte associação entre bons hábitos alimentares e a prevenção de algumas enfermidades, como é o caso das populações do Mediterrâneo, que sofrem menos com diabetes, hipertensão, obesidade e dislipidemias, assim como os esquimós, que comem muito peixe e têm menos doenças cardiovasculares. Editora latino-americana da revista Nutrition e integrante do conselho editorial de outras publicações de alcance internacional na área, a professora faz coro com suas colegas do curso de Nutrição, ao condenar o sedentarismo e o comodismo modernos: “É a lei do imediatismo, não se raciocina que o que se come hoje irá impactar amanhã. E chegamos ao cúmulo de o indivíduo sequer ter que rodar a manivela da janela do carro, pois ela já é automática. Isso sem falar no controle remoto da televisão”.

O sedentarismo é tão maléfico que obesos ativos tendem a estar menos expostos a riscos de saúde que magros sedentários. Outro hábito lamentável, apontado pela professora Aline Cristine Souza Lopes, é a substituição da água por refrigerantes ou sucos artificiais. “Refrigerante não é água e, mesmo os dietéticos, devem ser consumidos com parcimônia”, adverte, ao informar que entre a população de baixa renda é alto o consumo de sucos artificiais, que contêm muito açúcar. O ideal é a ingestão de dois a três litros de água por dia, quantidade que pode ser complementada de preferência com sucos naturais.

O futuro não será nada saudável, se mantidos os atuais hábitos de vida, acredita Ann Kristine Jansen. “Em curto prazo, não haverá uma mudança no perfil das doenças, mas sim o crescimento da incidência das doenças cardiovasculares, câncer e diabetes (e as complicações do diabetes), que são as que mais matam hoje”, vaticina. Isabel Correia também informa que a obesidade e outras doenças crônicas não-transmissíveis, como diabetes e hipertensão arterial, estão em curva ascendente. Apesar deste quadro, Ann Kristine Jansen é otimista: “A espécie humana tem que sobreviver, e alguma coisa deve ocorrer para garantir essa sobrevivência, como a mudança de hábitos que já se observa em alguns grupos populacionais”. Segundo ela, a obesidade parou de aumentar entre as mulheres de classe social elevada. “Embora entre os homens deste grupo social a obesidade ainda seja crescente, percebem-se sinais de que mudanças ocorrerão em curto prazo”, diz.

Integrante do projeto Academias da Cidade, iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte da qual o curso de Nutrição da UFMG é parceiro, a professora Aline Lopes também acredita que é possível conscientizar a sociedade e ajudá-la a recuperar hábitos saudáveis. “No projeto Academias, as pessoas chegam espontaneamente ou encaminhadas pelo serviço de saúde e recebem orientação nutricional e apoio para desenvolver atividades físicas”, explica. Outra iniciativa importante, na opinião da professora, é o projeto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de regular a propaganda de alimentos que possam oferecer algum risco à saúde. A proposta, apoiada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), argumenta que o excesso de propaganda faz com que o alimento se torne um atrativo, principalmente para crianças e adolescentes, que, induzidos ao consumo de alimentos prejudiciais, estão cada vez mais expostos a doenças como a obesidade.

Reeducação alimentar

É consenso entre os especialistas que grandes quantidades de verduras, frutas e legumes devem ser ingeridas diariamente. “Estima-se em cinco porções (ou 400 gramas) por dia. Mas também é fundamental que haja variedade entre um dia e outro”, ensina Ann Kristine Jansen, ao dizer que não é recomendável substituir esses alimentos por cápsulas de vitaminas. Ela adverte ainda que legumes e frutas nunca devem ser lavados com esponja e sabão: “A esponja pode estar contaminada e o sabão contém soda. Deve-se apenas esfregar a fruta, com as mãos, sob água corrente. Em alguns casos, recomenda-se não consumir com casca, que retém agrotóxicos”, explica. Para a professora, o ideal seria que a população tivesse mais acesso a alimentos orgânicos, a preços baixos. “É importante criar na sociedade a consciência dessa necessidade, o que vai levar ao crescimento da demanda e, conseqüentemente, da produção”, afirma.

Mais do que disseminar o conhecimento, é preciso ajudar o consumidor a vencer a pressão social que o leva a ingerir alimentos em excesso, acredita a professora Aline Cristine Souza Lopes. Para isso, especialistas em nutrição têm procurado estimular algumas estratégias simples de reeducação alimentar, como separar, a cada refeição, a quantidade certa de alimento que se quer comer.

Estresse, o mediador

O ritmo de vida atual impõe cobranças que, com freqüência, levam o ser humano a adoecer, tornando cada vez mais tênues os limites entre os males físicos e os psicogênicos. “O estresse é, comprovadamente, importante na geração de doenças”, alerta o médico João Gabriel Marques Fonseca, professor da Faculdade de Medicina e da Escola de Música da UFMG. Segundo ele, uma extensa lista de enfermidades é mediada pelo estresse, como doenças cardíacas, alguns tipos de câncer, algumas alergias, as doenças auto-imunes – entre as quais artrite reumatóide e lupus –, a hipertensão arterial e os transtornos depressivos e ansiosos. Atualmente um número crescente de crianças apresenta doenças relacionadas ao estresse. “Crianças sob estresse prolongado não conseguem construir referências existenciais sólidas e por isso sofrem muito”, afirma o professor, que faz parte do corpo clínico do Serviço de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da UFMG.

O professor acredita que o estresse seja uma condição multifatorial com determinantes físicos, comportamentais, ambientais, sociais e culturais. “Um dos fatores ambientais que contribuem para o estresse é a grande densidade populacional, especialmente em áreas urbanisticamente desorganizadas, o que estimula a violência”, informa. Ele compara as muitas cidades atuais com mais de um milhão de habitantes à Roma de 200 d.C, extremamente populosa e violenta. E classifica o estresse como uma das três condições paradigmáticas do século 21. “Em todas as épocas há doenças que caracterizam determinado momento histórico, como foi a lepra na Idade Média e a tuberculose no século 19”, afirma.

A facilidade de deslocamento de grande número de pessoas é outro aspecto da vida contemporânea que não pode ser esquecido quando se pensa na perspectiva das doenças do futuro. “O aumento das doenças transmissíveis ‘a grande distância’ é um dos temores da medicina deste século”, comenta João Gabriel Marques Fonseca.

Competição e mal-estar

Para a professora e psicanalista Ângela Vorcaro, coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada do Departamento de Psicologia, da Fafich, a competição que caracteriza a sociedade capitalista produz estresse e influencia fortemente o aparecimento de doenças. “A pessoa se perturba com o risco de não ser a melhor, por isso vive com a sensação de impotência e em busca de superação, o que gera intenso mal-estar”, descreve a pesquisadora. “O corpo é o lugar onde isso aparece em forma de enfermidades”, completa.

Além das pressões decorrentes da competitividade, o homem contemporâneo teme sofrer em demasia e, estimulado pela indústria farmacêutica, se anestesia com medicamentos. O medo da dor tem levado, contraditoriamente, a um amplo espectro de angústias e de fobias sociais, como síndrome do pânico e depressão, situações que podem produzir identificações contagiantes. “É quase uma epidemia”, avalia Ângela Vorcaro.

Em sua opinião, é necessário que se faça “um trabalho clínico individual, escutando as pessoas, não só legitimando o que elas sentem mas também permitindo que elas localizem saídas singulares”. A psicanalista destaca a necessidade de se trabalhar com a “invenção” de cada sujeito diante desse mal-estar – “invenção como construção de alternativas, de possibilidades e lugares de inserção na vida”. Na opinião da professora, o ser humano precisa não apenas perceber a vida como uma escalada de sucessos, mas aprender a contar com as inevitáveis contingências. “Problemas devem ser tratados como modos de aprendizagem e não como tragédias. Assim, não há necessidade de buscar a anestesia”, afirma.

Para minimizar os males que atingem o homem moderno, João Gabriel Marques Fonseca aponta o grande desafio de vencer as desigualdades sociais, seja entre nações ou pessoas. “A exclusão é o fator mais importante de radicalidade, que gera violência”, afirma. E para enfrentar as doenças que decorrem deste quadro, é preciso pensar em algo mais avançado do que a prevenção, ou seja, investir na promoção da saúde. “O dinheiro para financiar o atual sistema acabou. É por isso que surgem ações como o Programa Saúde da Família”, comenta o professor, que condena a divisão entre medicina tradicional e técnicas milenares – e comprovadamente benéficas – como a meditação. “Meditar é tratar-se com custo financeiro zero, e isso tem implicações incômodas, pois aquietar-se é também diminuir o consumo, prática de vida inconveniente para o capitalismo”, afirma.

 


Revista Diversa nº 16
Site desenvolvido pelo Núcleo Web do Centro de Comunicação da UFMG