Dia Nacional do Surdo – Entrevista com Barbara Silva, bolsista de acessibilidade do Espaço – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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“Meu sonho é ter acessibilidade da comunicação,  com a Libras acessível em todos os vídeos, nos museus, cinemas, teatros sem depender de intérprete”, revela Bárbara Silva 

No Dia Nacional dos Surdos, confira entrevista com a  bolsista de acessibilidade do Espaço do Conhecimento UFMG 

 

26 de setembro de 2o22

 

Em Setembro, o Espaço do Conhecimento UFMG dedica parte de suas atividades à reflexão sobre o Setembro Surdo. Nesta ocasião, ao celebrar o Dia Nacional dos Surdos e o Dia Internacional da Língua de Sinais (26), reconhecemos que a data é um marco importante nas conquistas da comunidade surda. Por outro lado, o momento nos relembra os diversos desafios para a inclusão e ainda “esbarra” nos rótulos impostos pela sociedade com uma visão restrita sobre a surdez. Datas como esta são muito importantes para estarmos atentos todos os dias. Com o objetivo de compartilhar mais conhecimento sobre a realidade das pessoas surdas, produzimos uma entrevista mais que especial contando parte da história de Bárbara Silva. 

 

Ela é estudante do 7º  período de Letras-Libras na UFMG e bolsista no museu desde o ano de 2020 (pelo Programa de Apoio a Inclusão e Promoção à Acessibilidade PIPA – UFMG).  Natural de Belo Horizonte (MG), é surda desde criança. Aos 29 anos, Bárbara assume o protagonismo de sua trajetória e com muita disposição e um largo sorriso no rosto, ao compartilhar conosco  como as pessoas surdas enfrentam um cotidiano cheio de barreiras. Confira nosso bate papo na íntegra. 

 

Espaço do Conhecimento: Qual é a sua opinião sobre o Setembro Azul? Você acha que ele é importante, por que? 

 

Bárbara Silva: Tem pontos de vista diferentes sobre o setembro azul, mas no meu ponto de vista ele é muito importante porque a gente lembra as histórias tristes, o preconceito que  a nossa  comunidade sofreu  desde a época do nazismo … por exemplo, o Azul vem das faixas que eram colocadas no braço das  pessoas com deficiência nesse período.  Então não tinha essa valorização de surdos enquanto seres humanos e para mim temos  que relembrar esses acontecimentos para que a história não se repita. É importante pra gente valorizar que nós somos surdos. Não é só um dia, não é só dia 26 que é o dia do surdo, são todos os dias. Essa data serve  para conscientizar as pessoas sobre a importância da cultura surda, sobre a necessidade de  empatia… Os ouvintes  precisam saber que todos os dias os surdos sofrem com as barreiras enfrentadas na sociedade e que a gente precisa de valorização da nossa cultura e identidade. 

 

Espaço do Conhecimento: Quais são as principais dificuldades enfrentadas por uma pessoa surda hoje no Brasil? 

 

Bárbara Silva: Nós  temos muita dificuldade com acessibilidade. Por exemplo, nos hospitais, os surdos enfrentam muitas barreiras de comunicação. Às vezes não conseguimos  escrever e aí não tem um profissional para interpretar Libras… em muitos lugares. Ainda falta muita acessibilidade. A Libras ainda não chegou em todos os espaços públicos para os surdos conseguirem ter acesso. É  preciso ter pessoas surdas em todos os espaços, para que exista o reconhecimento dos surdos que frequentam esses ambientes, assim haverá um sentimento de pertencimento e identidade. Isso fortalece a nossa cultura, a representatividade né? Igual os representantes negros, indígenas e de pessoas com deficiência e etc. 

 

Espaço do Conhecimento: Quando você chega em um posto de saúde, como consegue dizer o que está sentindo? Como essa comunicação se dá em um exemplo bem básico do dia a dia, comprar um pão, ir à farmácia? 

 

Bárbara Silva: Então, com algumas pessoas eu consigo me comunicar. Mas eu fico pensando nas pessoas que não sabem português, e aí precisam se comunicar através de gestos. Nossa, é muito complicado. Precisam usar gestos, para poder mostrar o que está acontecendo, o que está sentindo. Eu já vi isso acontecer várias vezes. Quando eu sinto dificuldade de comunicar, faço a leitura labial, eu falo, mas tem gente que não tem isso. Tem surdos que se comunicam apenas pela língua de sinais, então não tem essas outras possibilidades. Hoje, nós temos os aplicativos  no celular que ajudam na comunicação, um exemplo é o Hand Talk, mesmo assim ainda é uma comunicação com muitas barreiras.  

 

Espaço do Conhecimento: Como você avalia as ações de inclusão de pessoas surdas no Espaço do Conhecimento, e na UFMG também?

 

Bárbara Silva: Eu comecei no curso de  Letras Português, já tinha inclusão e eu ficava meio perdida, porque eram todos ouvintes e eu era a única surda.  Tinha uma pessoa da sala com interesse em Libras e começou a conversar comigo, depois ela mudou de curso. Mas quando eu fui pro Letras-Libras, onde todos sabem Libras… nossa! Foi muito mais tranquilo pra mim. Eu consigo me comunicar com os professores, com os colegas… mas na sociedade realmente é muito difícil. No Espaço do Conhecimento UFMG, algumas pessoas têm interesse pela Libras e  estão  aprendendo a se comunicar comigo no cotidiano das atividades e nos momentos de formação da equipe. 

 

Espaço do Conhecimento: Para você que também sabe Português, o aprendizado de Libras está no mesmo nível de dificuldade para pessoas que não sabem Libras? 

 

Bárbara Silva: Sim. Assim como qualquer língua, é muito difícil aprender. A pessoa precisa ter paciência pra caminhar do básico e depois ir desenvolvendo. É impossível ela se tornar um profissional, por exemplo, e saber a língua profundamente de forma rápida,  precisa ter paciência e entender que há dificuldades, como qualquer outra língua.

 

Espaço do Conhecimento: Há mais pessoas com esse interesse de aprender Libras, e se comunicar com as pessoas surdas? 

 

Bárbara Silva: Eu acho que tem muita gente hoje  com   interesse em aprender. Por exemplo, eu com a Dinalva (Intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG),  nós ministramos  oficinas  formativas com a equipe do museu toda quinta-feira, e todo mundo tem interesse  em aprender. É muito legal que a gente oferece esse conteúdo e as pessoas vão aprendendo, vão se esforçando para se comunicar .

 

Espaço do Conhecimento: E o atendimento público de pessoas surdas aqui no museu. Foi mais do que o que você esperava no dia a dia?

 

Bárbara Silva: A gente recebe surdos, amigos, da Dinalva (Intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG), por exemplo, porque a Dinalva tem o Instagram que ela divulga as programações, então as pessoas acabam vindo com frequência participar das atividades. É muito bom. 

 

Espaço do Conhecimento: Para termos uma vivência mais inclusiva de pessoas surdas, você acha que ainda falta muito para a gente chegar lá? Quanto tempo você vislumbra para essa comunicação se dar de uma maneira mais fluida com menos dificuldade em questões básicas

 

Bárbara Silva: Pra mim ainda falta muito pra melhorar. Meu sonho é conseguir a acessibilidade da comunicação. Ver a Libras em todos os vídeos, nos museus, cinemas, teatros ter acessibilidade… não precisar depender do intérprete para conseguir chegar em todos os espaços e estabelecer a comunicação.

 

Quer ​fazer parte da mudança? D​esc​ub​r​a​ a história da Libras e a importância desta Língua​. Leia um dos textos escritos por Bárbara e demais autores no​ ​Blog do Espaço! 

 

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O Espaço do Conhecimento UFMG, por meio da Fundação de Apoio da UFMG (Fundep), estimula a construção de um olhar crítico acerca da produção de saberes. No museu, a programação diversificada inclui exposições, cursos, oficinas, apresentações culturais, palestras e debates. O Espaço integra a Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult) e integra o Circuito Liberdade. É amparado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com patrocínio do Instituto Unimed-BH, viabilizado por mais de 5,2 mil médicos cooperados e colaboradores e da Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig.

Sobre o Instituto Unimed-BH

Associação sem fins lucrativos, o Instituto Unimed-BH, desde 2003, desenvolve projetos socioculturais e ambientais visando à formação da cidadania, estimular o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, fomentar a economia criativa, valorizar espaços públicos e o meio ambiente. Ao longo de sua história, o Instituto destinou cerca de R$155 milhões por meio das Leis municipal e federal de Incentivo à Cultura, fundos do Idoso e da Infância e Adolescência, com o apoio de mais de 5,2 mil médicos cooperados e colaboradores da Unimed-BH. No último ano, mais de 6,5 mil postos de trabalho foram gerados e 4,8 milhões de pessoas foram alcançadas por meio de projetos em cinco linhas de atuação: Comunidade, Voluntariado, Meio Ambiente, Adoção de Espaços Públicos e Cultura, que estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Acesse www.institutounimedbh.com.br e saiba mais.

 

Sobre a Cemig

A Cemig é a maior incentivadora de cultura em Minas Gerais e uma das maiores do país, investindo em projetos culturais, esportivos e sociais, por meio das leis de dedução fiscal estadual e federal; preservando o patrimônio, a memória e a identidade dos mineiros. Além de incentivar produtores e artistas, o apoio da Cemig traz benefícios diretos à população, que passa a ter acesso aos bens culturais de maneira mais segura e democrática. A experimentação também está aliada ao negócio da empresa que, além de trabalhar com fontes de energia limpas e de matrizes energéticas sustentáveis, busca continuamente a inovação, aliada à pesquisa e ao desenvolvimento.