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ATRAÇÃO DO 36° FESTIVAL DE INVERNO DA UFMG ESTÁ EM FASE DE PRODUÇÃO
25/07/03
Carlos Eduardo Freitas

Uma das atrações do 36° Festival de Inverno da UFMG, a ser realizado em julho de 2004, já está sendo produzida, em Diamantina, sob a direção-geral de Fabrício Fernandino, coordenador desse que é o mais tradicional festival universitário do país. O trabalho, um vídeo de cerca de 10 minutos de duração, em formato digital, intitulado Odongo- o mensageiro do tambor, faz referência ao nome de infância do protagonista da produção, Sabá, um emblemático morador de rua de Diamantina, que, aos 11 anos de idade, deixou a Etiópia e veio parar nas terras brasileiras.

"A idéia de produzir este vídeo existe há três anos e nasceu de uma conversa bastante afetiva que tive com Sabá, durante o Festival de Inverno de 2000", afirma Fernandino, que resolveu captar a essência mais humana desse personagem que chama a atenção de turistas e moradores da região.

O vídeo, produto de uma extensa pesquisa sobre a história pessoal e o sentido da vida do protagonista, será todo filmado em Diamantina, cidade que ele escolheu para passar os últimos anos de sua existência.

Fabrício Fernandino aponta que seria fácil explorar a figura do louco de rua ou enfocar o aspecto mais bizarro da existência de Sabá, entretanto, para o coordenador do 35° Festival de Inverno da UFMG, "o vídeo deve resgatar sua identidade primordial, enfatizando os seus valores éticos e religiosos perdidos no tempo".

"Não temos compromisso com o gênero documentário, apesar do vídeo ser um registro da personalidade e da mensagem que Sabá tem a nos transmitir", explica a produtora Luciana Tanure, a primeira pessoa a encampar o projeto, que, hoje, envolve uma série de profissionais.

Sabá

Os olhares mais atentos que caminham pelo centro histórico da cidade vão perceber, além da arquitetura e das montanhas de rara beleza, um senhor com vestimentas que fazem referência à cultura africana, um bongô entre as pernas e muitas histórias para contar.

Sabá, o etíope que saiu de sua terra natal, de navio, há mais de 40 anos, esconde muitos mistérios e inquietações expressas nas lágrimas que escorrem vez ou outra em sua face e pela sensação de bondade que transmite a quem pára e o conhece mais de perto. "São justamente essas questões que vamos abordar no vídeo. Ainda temos um longo trabalho pela frente", garante Fabrício Fernandino.

 


DANÇA DIMANTINENSE ENCERRA O FESTIVAL
25/07/03
Ana Fazito

O 35o Festival de Inverno da UFMG fecha seu calendário de eventos com o espetáculo de dança O Sertão Que Nos Rodeia. Bem ao clima do último módulo do Festival, voltado para a valorização da cultura de Diamantina, o espetáculo apresenta um perfil de possibilidades da nova dança da região. Coordenado pelo bailarino e professor de dança Robson Dayrell, O Sertão Que Nos Rodeia é um apanhado do que está sendo desenvolvido no Estúdio Pró-Dança de Diamantina.

Dayrell adianta que o espetáculo terá quatro momentos. No primeiro deles O Altar os dançarinos irão representar com a música de Lobo de Mesquita, um concerto para vozes e cordas. Depois é a vez do quarto movimento de Hidrofoles com música de Jan Adan Reinchar. Música esta tocada por Elisa Freixo no órgão da Catedral de Mariana. A capoeira só como dança está no terceiro momento do espetáculo. Jogos Corporais é o nome dessa parte que será apresentada pela primeira vez. Uma iniciativa do Estúdio Pró-Dança que adotou o grupo Oficina da Capoeira.

O quarto momento é o que dá nome ao espetáculo. "Diamantina está rodeada pelo sertão, mas não tem características de um, por isso o nome O Sertão Que Nos Rodeia", explica Dayrell. "Essa parte é o primeiro movimento de uma dança que ainda está em elaboração", diz.

Para o bailarino a cultura de Diamantina ainda está muito ligada ao século XIX, mas existe um movimento de artistas, no qual ele se inclui, com pretensões de buscar uma nova estética para a cidade. "Estamos procurando uma leitura de nossa cultura para o século XXI, mas sem deixar de lado nossas raízes e o Estúdio Pró-Dança trabalha nesta linha", conclui Dayrell.

 

 

MÚSICA PARA O FESTIVAL
25/07/03
Carlos Eduardo Freitas

O módulo Jornada do Futuro acontece durante a última semana do Festival de Inverno da UFMG, de 21 a 25 de julho, atendendo a crianças e professores da rede pública de Diamantina. Dentre as oficinas que fazem parte da programação, duas são dedicadas à música, aproveitando os talentos e a infra-estrutura do Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita.


A Professora Maria Luisa com seus alunos no conservatório

Iniciação musical através do lúdico é ministrada pela professora Cristiany Láuar, historiadora com formação técnica em flauta doce pelo mesmo conservatório que recebe a oficina e onde ministra, regularmente, aulas de música. Segundo a professora, "o objetivo principal da oficina é transmitir às crianças noções básicas de ritmo e pulsação, além de trabalhar com os parâmetros do som: timbre, intensidade, duração e altura".

A oficina O brinquedo e o jogo na conquista da linguagem musical, ministrada por Maria Luisa Neves, professora do Conservatório Estadual de Música Lobo de Mesquita há 7 anos e graduanda de piano pelo Conservatório Brasileiro de música do Rio de Janeiro, pretende levar a música por meio de jogos, do resgate de brincadeiras tradicionais, como Escravos de Jó e Ciranda, e de novas brincadeiras, como Carambola, em se trabalham os versos que compõem o universo das próprias crianças.

"Um ponto que une as duas oficinas é a fabricação de instrumentos de percussão a partir de sucata", afirma a pianista, que pretende despertar a criatividade e a musicalidade nas crianças a partir da confecção dos instrumentos.

Segundo Láuar, as duas oficinas têm objetivos comuns. "O que as diferencia são a tônica em canções e um aprofundamento maior, no caso da oficina que eu ministro, e um trabalho maior com jogos e brincadeiras na oficina da Maria Luisa Neves", explica a flautista.

 


AS ESTÓRIAS DA HISTÓRICA DIAMANTINA
24/07/03
Ana Fazito


Otávio desenha seu filme

As estórias e lendas de Diamantina e região são recontadas pelas professoras Lúcia Vera do Nascimento e Jamile Pires nas duas oficinas de literatura que acontecem na Jornada do Futuro, até a sexta-feira, dia 25. Em Prosear com Estórias e Contação de Estórias, as crianças de escolas públicas da cidade têm a oportunidade de entrar em contato, pela primeira vez, com a história da localidade através de seus contos e populares.

A professora Jamile, na oficina Contação de Estórias, não se restringiu a contar as estórias dentro da sala de aula. Depois de apresentar aos meninos alguns contos e ouvir o que eles traziam de casa, Jamile os levou aos locais onde supostamente aconteceram aqueles fatos. "O que as crianças ouviram foi muito interessante e o fato de visitarem os cenários dos contos os fizeram me perguntar se realmente eram lendas, e não realidade", disse a professora. Nesta oficina os meninos também escreveram suas próprias lendas, ou seja, impressões do que ouviram. "É um exercício de escrita literária também", conclui Jamile.

Prosear com Estórias é a oficina na qual Lúcia Vera apresenta a seus alunos um pouco da história de Diamantina, seu folclore, universo literário e lirismo. Em um primeiro momento, depois de ouvirem a professora, os alunos construíram uma televisão de papel onde irão passar os "filmes" que desenharam. O resultado será mostrado ao final do curso, na sexta-feira. Junto com as imagens, os meninos também irão narrar os contos que escolheram. Entre eles estão o conto do Acaba Mundo, Acayaca, Padre Brasão e do Negro Isidoro (texto no box).

Otávio Augusto Ferreira, um sorridente menino que participa da oficina de Lúcia Vera, ao montar seu "filme" sobre a lenda das Mercês, fala da experiência impressionante de conhecer estórias sobre a sua cidade. "Ela era uma moça que se apaixonou por um cavaleiro e eles resolveram se casar. Depois de preparar todos os festejos do casamento, ela não se casou, porque o noivo desapareceu", conta Otávio. "Aqui é bom porque a gente brinca, aprende, pinta, colori, faz arte e ainda chega em casa e conta as estórias para os pais".

     
 

O Tesouro de Isidoro, o Garimpeiro

O escravo Isidoro tinha belo porte físico e inegáveis qualidades morais. Acusado de mineração furtiva e contrabando de diamantes, "em prejuízo da Coroa Portuguesa", confiscaram-no de Frei Rangel, seu senhor, e foi condenado a trabalhar como galé, nos serviços da extração. Mas uma noite, apesar da vigilância dos capitães-do-mato, o negro Isidoro conseguiu fugir.

Livre, ele alcançou as serras que circundavam os vales e entregou-se à mineração do diamante. Os dias foram passando e o escravo fugido foi-se cercando de outros companheiros, até constituir um verdadeiro quilombo fortificado, onde toda a produção da extração de diamantes era empregada na manutenção do Arraial. Sonhava, Isidoro, com a formação de um reduto negro nas margens do Jequitinhonha, sonhando também com a libertação de todos os de sua raça.

Um dia, um traidor conduziu as tropas do Intendente Câmara até o grotão onde Isidoro se escondera e de onde se preparava para ir ao Arraial com três chifres cheios de ouro e diamantes. Atacado de surpresa, lutou desesperadamente. Mas foi atingido por diversos tiros; e a escorrer o sangue, foi conduzido preso para o Tijuco. Resistiu a vários dias de tortura, mas não agüentou e morreu.

A serra onde Isidoro construía o seu esconderijo, tem hoje o nome de Serra do Isidoro.

Provavelmente, lá se encontram escondidos, nalguma furna, os três chifres cheios de ouro e diamantes. A Gruta do Isidoro, como o povo chama, nas margens do Jequitinhonha, continua a desafiar a coragem de muitos aventureiros que, inutilmente, nela tem-se esforçado por penetrar.

 
     


CORTEJO MARCA ENCERRAMENTO DA JORNADA DO FUTURO
24/07/03
Mariana Paulino


Birutas que vão ser usadas no desfile de encerramento da Jornada do Futuro

Sai da Escola Estadual Leopoldo Miranda, amanhã, às 16 horas, um cortejo com os participantes das oficinas de artes cênicas, artes-plásticas, artes visuais, literatura e música do terceiro e último módulo do 35º Festival de Inverno da UFMG, Jornada do Futuro. O cortejo, espécie de desfile que vai até a rua da Quitanda, exibindo o que foi produzido nos cursos por crianças entre sete e 14 anos, marca o fim das atividades que movimentaram Diamantina.

Antes disso, na sala de aula da escola estadual Leopoldo Miranda, os alunos das oficinas de literatura Prosear com Estórias e Contação de Estórias vão revelar um pouco do mundo mágico que envolve as lendas e tradições orais da cidade histórica. Eles vão contar alguns dos "causos" que trabalharam com as professoras Lúcia Valéria do Nascimento e Jamile Pires Souto, como A Lenda da Acayaca, O Milagre da gameleira, A Noiva das Mercês e os contos sobre Chica da Silva. Depois, as crianças vão sair pelas ruas da cidade.

Fantasias

Na oficina Sacra-Folclórica, do artista plástico Marcelo Brant, foram criados imensos bonecos de jornal e outros materiais recicláveis, máscaras e birutas gigantes, além dos adereços e figurinos para o desfile. Os alunos de Adriana Brant produziram dois extensos painéis: um pintado com arabescos e outros ícones e formas da cidade de Diamantina, em cores da terra e azul, o outro, com animais que vivem no imaginário da garotada.

O bailarino e coreógrafo Robson Dayrell comanda a turma com quem desenvolveu, na oficina Jogos Corporais, movimentos de dança para improvisação na hora do desfile. As câmeras fotográficas do tipo PinHole dos alunos da oficina de Eustáquio Neves, bem como as fotos que eles tiraram e revelaram, e os desenhos produzidos no computador nas aulas de Pintura no Computador, também poderão ser conferidos no cortejo.

As oficinas de música – Iniciação musical através do lúdico e O Brinquedo e o jogo na conquista da linguagem musical – dão o tom ao desfile. Vestidas com figurinos feitos de materiais recicláveis, confeccionadas por eles mesmos, os músicos mirins vão tocar, com instrumentos de sucata, a música típica do Vale do Jequitinhonha, Boi Janeiro.

 


FESTIVAL TRANSFORMA LIXO EM ARTE
24/07/03
Carlos Eduardo Freitas

O artista plástico, Marcelo Brant, ministra a oficina Sacra-Folclórica, durante o último módulo do 35° Festival de Inverno da UFMG, intitulado Jornada do Futuro. Natural de Diamantina, Brant, auto-didata que pesquisa a cultura de Minas Gerais, é um artista que rompeu as barreiras de sua cidade natal, expondo em todas as regiões do estado e conseguindo visibilidade nacional ao contribuir com os cenários da novela Irmãos Coragem, da Rede Globo de Televisão.

Em sua oficina, sucata, embalagens vazias e todo tipo de material que é o lixo da comunidade torna-se arte nas mãos de alunos e professores da rede pública de Diamantina. Segundo o artista, "a opção por utilizar sucata é extremamente consciente, já que esse é um material com custo zero, o que contorna a situação de precariedade financeira enfrentada pelas escolas públicas".

Com 21 anos de experiência na área de artes plásticas, Brant ministra, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, cursos de atualização para professores da rede pública estadual de Minas Gerais em cidades de pequeno, médio e grande porte. "Quando fui convidado para participar do Festival de Inverno da UFMG, fiquei muito contente com a possibilidade de trabalhar também com professores, já que eles serão agentes multiplicadores, permitindo a continuidade do trabalho que realizamos nessa semana", garante o artista plástico.

O produto final das dez oficinas para crianças e adolescentes nas áreas de artes cênicas, artes plásticas, literatura e cultura, artes visuais e música, que terminam hoje, será exibido no fim da tarde, pelas ruas do centro histórico de Diamantina.

Exposição

Marcelo Brant participou da mostra coletiva Artistas no Festival, que aconteceu no Mercado Velho de Diamantina. Ele montou um verdadeiro santuário com bandeiras e estandartes. As obras, que fazem referências ao sagrado e à cultura popular do Vale do Jequitinhonha, expressam o que há de mais rico em Minas Gerais. "Em Caminho de Todos os Santos, nome com o qual batizei a obra exposta no Festival, divido espaço com grandes artistas que eu sempre admirei, e isso é motivo de orgulho para mim", conta o artista

 


PROFESSORES DIAMANTINENSES SE ENGAJAM EM PROJETO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA
23/07/03
Ana Fazito

 

Oficina Cores do Tempo, da artista plástica diamantinense Adriana Reis

Nesta época do ano, as professoras e os alunos da rede pública na cidade de Diamantina normalmente estariam de férias. Mas, em uma iniciativa inédita da coordenação do 35º Festival de Inverno da UFMG, a terceira semana desta edição está totalmente dedicada a eles. Com aulas nas áreas de artes cênicas, artes plásticas, artes visuais e música, que acontecem de manhã e de tarde, estudantes e professores participam da Jornada do Futuro. Uma novidade que prioriza a inclusão social e artísticas dos mesmos na cultura da cidade e também a educação continuada, que esses professores de encarregarão de praticar dentro de suas escolas.

Segundo Fabrício Fernandino, coordenador do Festival, essa idéia é transformadora desde sua origem. "Me juntei com os artista de Diamantina e começamos a elaborar o projeto", disse Fabrício. São dez oficinas com artistas da cidade e temas ligados à cultura da região. "É um Festival de Diamantina para Diamantina". Ainda segundo Fabrício, "a Jornada do Futuro é uma forma de se promover a cidadania e a consciência dessa cultura tão viva e peculiar".

O projeto reúne na Escola Estadual Leopoldo Miranda e no Conservatório Lobo de Mesquita aproximadamente 200 crianças e 20 professores. As crianças foram indicadas de acordo com suas habilidades natas, pelas dez escolas que participam da Jornada. "O Festival abre um espaço para a formação de profissionais, pois as escolas também escolheram cinco de seus professores para atuarem como mentores no projeto. Eles são a interface pedagógica entre o artista e a criança", explica Fernandino.

Interação

Para as professoras Nara Lúcia Caldeira, Margareth Fernandes e Geralda do Rosário, essa iniciativa possibilita uma aproximação maior entre o que está acontecendo no Festival de Inverno e os moradores de Diamantina, "relação que estava se perdendo", segundo elas. As professoras acreditam ser um ganho pessoal muito grande estar junto com seu aluno, em um momento cultural. De manhã elas aprendem como levar a arte à Escola em que trabalham e de tarde atuam como monitoras nas oficinas. "É uma troca de experiências entre artistas, professores, crianças e também entre as diferentes escolas", dizem.

Fabrício Fernandino acredita que o trabalho de integração entre a cidade e o Festival está apenas começando e que projetos como a Jornada do Futuro possibilitam desdobramentos posteriores dentro das escolas. "Este é o papel da Universidade – informar e promover o desenvolvimento da cultura. E o Festival de Inverno se presta a essa ação com excelência de qualidade e ousadia na elaboração", finaliza.

 


ADRIANA REIS ENSINA A ARTE QUE VEM DA TERRA
23/07/03
Mariana Paulino

 

A artista diamantinense Adriana Reis em sua oficina, no Festival de Inverno

A oficina Cores do Tempo, ministrada pela artista-plástica Adriana Reis, inspira-se na terra para desenvolver, em crianças de sete a 14 anos, o gosto pela arte e pela paisagem natural e urbana de Diamantina. “Nós saímos pelas ruas observando os ícones, os desenhos e as cores, em atenção especial aos detalhes da arquitetura da cidade”, relata Adriana. O resultado já pode ser conferido em uma grande painel, pintado a partir dos elementos observados. Florálias, placas e arabescos em tons ocre, vermelho terra, preto, marron e azul compõem o trabalho.

“Eles aprenderam a fazer a tinta xadrez e a preparar o suporte. Os que diziam ‘não sei desenhar’ se viram diante de novas possibilidades”, afirma a artista, que além de despertar as crianças para o potencial expressivo da pintura, também explica técnicas artísticas às professoras da cidade que participam da oficina como monitoras. “Espero que, a partir desta iniciativa do Festival, as escolas públicas se sensibilizem e passem a oferecer aulas de arte”, destaca.

O aluno da Escola Estadual Professora Gabriela Neves, Bruno Ferreira, de 13 anos, está achando a oficina “o maior barato”. Ele conta que sempre gostou de pintar em casa, mas não tinha coragem se dedicar às artes. “Eu tinha vergonha e agora vejo que sou capaz”. Do alto de seus 11 anos, Franciely Dias já tem um olhar diferente sobre a cidade em que vive. “Eu acho muito interessante os eventos, as igrejas, os casarões e as formas nas janelas de Diamantina”, observa.

Cidade natal

A artista-plástica Adriana Reis nasceu em Diamantina mas teve sua formação em Belo Horizonte, onde participou de salões, exposições individuais e coletivas e recebeu vários prêmios. Depois de 15 anos na capital mineira, Adriana voltou a morar em Diamantina, onde dá aulas de artes. “Eu comecei a trabalhar com cerâmica e depois passei os tons do barro para a minha pintura”, explica. Temas rupestres, mandalas e ícones das cidades históricas, em tons de terra, são a prova da influência de Diamantina em suas obras. “Aqui, eu voltei a trabalhar com pigmentos naturais”.

 


OFICINA PINTURA NO COMPUTADOR APROXIMA ALUNOS E PROFESSORES DO MUNDO DIGITAL
23/07/03
Carlos Eduardo Freitas


Alunos se exercitam na oficina Pintura no Computador

A oficina Pintura no computador, destinada a professores e alunos da rede pública de Diamantina, é uma das oferecidas pela Jornada do futuro, último módulo do 35º Festival de Inverno da UFMG. No primeiro dia do curso, as crianças realizaram desenhos à mão e, a partir do segundo encontro, já tiveram contato com o Paint Brush, um programa básico para desenho no computador. “Os próximos passos serão introduzir os alunos no universo do Corel Drawn, produzindo desenhos de objetos cotidianos, trazidos de suas casa”, explica o professor da oficina, Carlos Adriano, que é técnico em Publicidade e Propaganda pelo Instituto de Arte e Projeto (Inap).

O publicitário, que já cursou serigrafia e desenho artístico em oficinas do Festival de Inverno da UFMG, hoje utiliza seus conhecimentos para iniciar as crianças no computador e no desenho. “É muito gratificante transmitir os conhecimentos adquiridos no Festival às novas gerações e aos educadores, aprimorando seus trabalhos ou iniciando-os nas novas tecnologias”, afirma o professor, que, desde 1995, utiliza o computador como o instrumento de trabalho e ensino.

Habilidades

Com experiência em ministrar aulas para o público infantil, Adriano procura potencializar as habilidades de cada um e trabalha a auto-estima dos participantes. “Em parceria com a Fundação Municipal do Bem-Estar do Menor (Fumbem), tive a oportunidade de ensinar crianças carentes de Diamantina a produzir máscaras de papel marchê e vi a importância dessas oficinas para elevar a auto-estima das crianças”, afirma. Adriano viu o resultado do trabalho servir de adereço para o tradicional bloco carnavalesco Rato Seco, durante desfile para milhares de foliões que visitam Diamantina nessa época do ano.

Ao ministrar aulas no Festival, frequentadas também por professores do ensino fundamental da região, Adriano espera que eles possam potencializar sua produção, da mesma forma que ele o fez quando passou a dominar o computador. “Desde que deixei o lápis e o papel descansarem, aumentei minha capacidade de trabalho”, afirma o publicitário. Ele está ensinando os professores inscritos em seu curso a utilizarem o Corel Drawn na confecção de material didático.

A iniciativa do 35º Festival de Inverno da UFMG e da Prefeitura Municipal de Diamantina de estender as oficinas do módulo Jornada do Futuro para professores da rede pública vai ao encontro das expectativas de Carlos Adriano e dos próprios educadores. “É bom perceber o quanto os professores têm sede de conhecimento e disposição para aplicar as informações apreendidas no Festival de Inverno”, afirma o especialista.

 


 

EUSTÁQUILO NEVES MOSTRA EM OFICINA QUE FOTOGRAFIA PODE SER SIMPLES
23/07/03
Ana Fazito


O fotógrafo Eustáquio Neves exibe suas "câmeras" de PinHole.

O fotógrafo mineiro Eustáquio Neves já teve suas obras expostas em vários cantos do mundo, é reconhecido internacionalmente e, segundo palavras do artista, por seu quase único e diferente estilo de trabalhar a fotografia. Nasceu em Juatuba, mas já morou em Belo Horizonte, Góias, onde começou a profissão, São Paulo, e agora está vivendo em Diamantina, lugar onde ministra, esta semana, uma oficina no 35º Festival de Inverno da UFMG para meninos e meninas de escola pública.

Autodidata, o fotógrafo apresenta em sua obra uma preocupação com o social e o político. Na verdade, ele acredita ser difícil fazer arte desvinculada da política. Trabalhos como a exposição Translado do Corpo, que narra a captura e venda dos escravos negros na época da colônia, resgata suas origens, ainda que essa não seja a principal preocupação do artista quando aborda a questão negra. “A questão do negro vivo literalmente na pele, e porque não usar da arte para falar disso?”, indaga.

Eustáquio diz não ter uma técnica definida, “o trabalho é que pede o que deve ser feito. Para se chegar ao final imaginado, às vezes, tenho que inventar procedimentos, ou resgatar outros”. Temáticas como o futebol, a confusão das cidades grandes e mulheres nuas já foram abordadas pelo artista, que admite não andar com a câmera na mão. “Não tenho nenhuma preocupação com a velocidade de trabalho, preciso de um tempo para repensar a produção de cada obra que idealizo, o que pode durar mais de um ano”, diz.

De Minas para o mundo

Menino simples, do interior de Minas, Eustáquio Neves estudou química em Belo Horizonte, mas decidiu não trabalhar com essa disciplina. Na década de 80, foi trabalhar em uma mineradora em Goiás e, com o primeiro salário, comprou sua primeira câmera fotográfica. Começou fazendo um mapeamento fotográfico do local onde morava, que viraram cartões postais. “Era uma fonte extra de renda”, lembra Eustáquio.

Depois, os amigos começaram a pedir a ele para fotografar casamentos, nascimentos de filhos e batizados. “Quando eu não sabia fazer algum trabalho, consultava um manual prático de fotografia e fazia o que estava lá. Então aprendi o fazer fotográfico sem vícios e contaminações de professores, daí meu trabalho ser considerado tão peculiar”.

A fotografia como expressão artística começou quando, em 1991, depois de um longo período engavetando seus experimentos, resolveu participar de um concurso em Belo Horizonte. “Mandei três imagens para esse concurso, duas delas receberam menção honrosa e a outra o primeiro lugar”, diz. O resultado foi um curso de fotografia autoral com Eduardo Castanho em um Festival de Inverno, como prêmio do concurso, e a descoberta que fazia fotografia de autor.

O Festival

No ano seguinte, também no Festival de Inverno, Eustáquio apresentou uma proposta verbal de exposição para a então coordenadora da área de artes visuais, Beatriz Dantas. O projeto foi aprovado dez dias antes de começar o evento. “Corri para o laboratório com uma caixa de negativos na mão, sem ter idéia do que fazer”, lembra. “O tema do Festival era o meio ambiente, então a exposição se chamou O Homem, a Indústria e o Meio Ambiente”. Foi sua primeira exposição individual, depois o artista não parou mais.

Este ano no Festival, Eustáquio Neves não está expondo nem fazendo curso, mas como professor de uma oficina diferente das que já havia ministrado. Os alunos são estudantes de escolas públicas de Diamantina, com condições iguais ou parecidas às dele quando criança. “É uma oportunidade de eu contribuir para a difusão da arte”, diz Eustáquio, que acrescenta: “Com essa oficina, Artes e Manhas da Lata – PinHole, posso mostrar, de uma forma lúdica, que a fotografia pode ser simples.

PinHole (buraco de agulha) é uma técnica rudimentar de se fotografar, que não usa nenhum equipamento convencional, somente uma caixa de sapato vazia ou uma lata de leite em pó. Os alunos constróem suas câmeras, fotografam e ainda acompanham a revelação feita por Eustáquio. “É aprender a enxergar, formar a imagem e educar o olhar”, completa.

 


LIVRARIA TEM ENCONTRO MARCADO COM ARTISTAS ESTA SEMANA
22/07/03
Ana Fazito

A Livraria e Café Espaço B, de Diamantina, através de iniciativa própria, promove nesta última semana de Festival de Inverno um bate-papo sobre poesia, história, cinema e Vesperata. É o Café com Letras, evento que reúne, até sexta-feira, a partir das 18 horas, artistas da região de Diamantina e outras cidades. Os convidados vão mostrar suas obras e debatê-las com o público, acompanhados por uma boa xícara de café.

A iniciativa, que começou nesta segunda-feira, dia 21, teve como primeiro convidado o poeta e psicanalista de Belo Horizonte, Max Moreira. Em uma noite de autógrafos, Max mostrou aos diamantinenses seu livro Alarido e falou da importância de eventos dessa natureza. "A gente entende que a questão da qualidade de uma obra não está ligada, necessariamente, ao valor de mercado que ela tem, por isso esse tipo de iniciativa valoriza o trabalho do escritor", disse Max.

Em parceria com outros quatro poetas independentes, Max criou na capital mineira, em 2002, o selo Anome, editora efêmera que lançou os livros desses artistas, incluindo Alarido. Produção intimista, o livro não se atém a uma temática única, mas evoca a memória. "Nós, reunidos, ganhamos maior poder de barganha, em um mercado restrito como é o de Minas Gerais", constatou Max.

Na terça-feira, o café será regado a conversas sobre a sétima arte. Milton Leite, dono do antigo cinema de Diamantina, levará alguns projetores antigos para o Espaço B e falará sobre as experiências vividas na única sala da cidade . Ele irá contar estórias sobre o que acontecia no cinema, os filmes que eram sucesso e ainda irá projetar, no formato 8mm, alguns filmes antigos para o público.

Fotografias de Chichico Alkmim

Quarta-feira é dia do historiador Kiko Alkmim fazer um Retrato Retocado de seu avô Chichico Alkmim, um dos maiores fotógrafos de Diamantina. Irmão de José Maria Alkmim, Chichico foi redescoberto por seu neto, nos porões de sua antiga casa, na década de 80, durante o 23o Festival de Inverno. São mais de cinco mil negativos, que hoje estão aos cuidados do Centro de Memória da Fafidia, mas que foram recuperadas pela UFMG. "Essa também é uma oportunidade de agradecer ao Festival, foi através dele que conseguimos um financiamento da Universidade para a recuperação dos negativos e a retirada deles do porão da casa de Chichico", diz Kiko.

O historiador irá falar e mostrar, através de slides, sobre o que está retratado nas fotografias de Chichico, como as paisagens de Diamantina e região, mas principalmente as fotos em estúdio. "São homens, mulheres, grupo de pessoas e crianças, ele fotografou de tudo", constata Kiko, "até crianças mortas em caixões, série que entitulamos Anjinhos".

A polêmica história da Vesperata

Uma conversa franca sobre a origem e a história da Vesperata é o que os clientes do Espaço B podem aguardar para a noite de quinta-feira. Os professores Antônio Carlos Fernandes e Wander Conceição, autores de La Mezza Notte (A Mesma Nota), livro que traça o caminho da Vesperata até os dias de hoje, contradizem o ex-secretário de cultura de Diamantina, Herildo Nascimento, o qual se considera criador dessa tradição. Eles vão falar um pouco sobre o que descobriram sobre a Vesperata para escrever o livro.

O último dia será um Encontro de Poesia com Anibal Freire. O poeta de Salinas, cidade do norte de Minas, não irá falar somente de sua obra, mas das obras de vários artistas da região de Salinas, que hoje em dia já constituem um movimento.

 


DANÇA NO FESTIVAL É INSTRUMENTO DE INCLUSÃO
22/07/2002
Carlos Eduardo Freitas


Robson Dayrell e seus alunos na oficina de dança do Festival de Inverno

O 35º Festival de Inverno da UFMG tem seu último módulo, que acontece de 21 a 25 de julho, voltado para a valorização da cultura e dos talentos de Diamantina, cidade que o abriga. Nessa perspectiva de integração com a comunidade local, o coreógrafo, bailarino e professor de dança Robson Dayrell foi convidado a ministrar a oficina Jogos Corporais, que pretende iniciar crianças, adolescentes e professores da rede pública na prática da dança.

Segundo Dayrell, que integrou por 15 anos o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo se apresentado em teatros do Brasil e do exterior, em países como Chile e Alemanha, a base da oficina é trabalhar o conceito de que todo movimento consciente torna-se dança. “A partir dessa máxima, trabalhamos ritmo, pulsação e a contagem do tempo musical para organizar de forma harmônica o conjunto dos participantes”, explica o dançarino.

Na oficina, os recursos áudio-visuais tornam-se instrumentos de ensino. “Gravar e transmitir os movimentos corporais realizados pelos alunos é uma forma de torná-los conscientes dos próprios gestos”, garante Dayrell, que também se preocupa com a auto-estima dos estudantes. ”Um dos principais objetivos do curso é ter um caráter lúdico, aumentando a auto-estima dos participantes e despertando o potencial artístico de cada um deles”, afirma o coreógrafo.

Dança em Diamantina

À frente do Estúdio Pró-dança, onde ensina e pesquisa a cultura regional, Dayrell já acumula experiência no trabalho com crianças carentes. “Em parceria com a prefeitura municipal de Diamantina, ensino 22 crianças, entre 9 e 11 anos, com o objetivo de transformá-las em multiplicadoras da arte da dança e, futuramente, criar a Companhia de Dança de Diamantina”, afirma o coreógrafo.

Após mais de 20 anos longe da cidade, Dayrell voltou há cinco para difundir a dança e cita o escritor russo Leon Tólstoi para explicar seu retorno, “Pinte o seu quintal e ele se tornará universal”. “Quando Tolstoi dizia isso, ele defendia que os conhecimentos acumulados em qualquer parte do mundo fossem usados para enriquecer sua própria terra. É isso o que estou fazendo aqui em Diamantina”, garante Robson Dayrell, do alto de seus mais de 30 anos de carreira como bailarino e coreógrafo.

 


POEMA-MANIFESTO DÁ FECHO AO FÓRUM INTERNACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA
22/07/03

Reflexões, discussões, polêmicas e questionamentos marcaram o Fórum Internacional de Arte Contemporânea no 35º Festival de Inverno da UFMG. O evento contou com 16 palestras e 16 oficinas, além da presença de artistas e pesquisadores como Olívio Tavares de Araújo, Affonso Romano, Bia Medeiros, Patrícia Hoffbauer, Leda Catunda, Eric Féloneau, Flo Menezes, Edgar Alandia, Margo Glatz, Betty Mindlin, Lucas Bambozzi e Luiz Duva.
Teoria e prática puderam ser vivenciadas durante os seis dias do Fórum.

Ao final do evento, o coordenador geral e professor da Escola de Belas Artes da UFMG, Fabrício Fernandino, divulgou um texto-manifesto, elaborado a partir das reflexões realizadas, que resume o espírito norteador das atividades realizadas durante o Festival. O texto foi trabalhado digitalmente e projetado para as centenas de pessoas que compareceram ao encerramento da oficina do VJ paulista Luiz Duva. Leia-o a seguir:


Arte

Menos revisão e mais ousadia.
Mais coragem e menos comportamento.
Menos referência e mais pesquisa.

Arte, arte, arte... sempre.
A arte nunca morreu e nunca morrerá.

E o artista?
Qual o papel do artista?

É romper,
Quebrar estruturas.
Cabe ao artista embaralhar as cartas do jogo,
E, principalmente cabe ao artista mudar a as regras durante esse jogo.

É necessário mudar sempre...
Dar o salto,
salto cego no vazio.

Arte é sentimento.
Arte é verdade.
É expressão daquilo que nos anima.

A cada artista compete universalizar o seu universo pessoal.
Sua maior contribuição está transformar-se a si mesmo.
Desvelar sua própria experiência de mundo e de vida.
Sentir, sentir e sentir.

Porque, enquanto entes humanos, somos únicos...
Os únicos capazes de pensar e refletir sobre o próprio pensamento.

Pensar, pensar e pensar...
Mais do que isso, materializar o pensamento em sentimento.
De algum modo, obstinados, traduzir o indizível.

Dar o tom ao silêncio.
Colocar palavras no que não se expressa.
Dar forma ao imponderável.
Gesto à imobilidade.

Dar sentido.
E, através do sentir, traduzir a vida.

Dizer não ao sim.
Ao sim conformista.

Negar o caminho mais fácil.

Abrir fronteiras...
Procurar as respostas, onde nem sequer ainda formulamos as perguntas.

Enfim, exercer a arte é uma maneira de traduzir a vida na busca da simplicidade.
Do ser que aspira à felicidade.

Coragem é o que não nos falta.

Diamantina, inverno de 2003

 


 

FESTIVAL DE INVERNO INICIA SEMANA DEDICADA ÀS CRIANÇAS DE DIAMANTINA
20/07/03

Depois de oferecer dois seminários e um Fórum internacional de arte contemporânea, o mais tradicional evento de extensão universitária do país, o Festival de Inverno da UFMG, chega à sua última semana. Com o nome de Jornada do Futuro, o terceiro módulo de atividades trata-se de um projeto pioneiro, nesses 37 anos de história do Festival da UFMG, que tem como objetivo a inclusão social de crianças e adolescentes carentes de Diamantina através da arte. Serão oferecidas dez oficinas, de 21 a 25 de julho, na Escola Estadual Leopoldo Miranda e no Conservatório Lobo de Mesquita.

Ao contrário da maioria dos eventos semelhantes que acontecem por todo o país nessa época do ano, o Festival da UFMG tem se pautado por atividades orientadas para a atualização de estudantes e artistas que já dominam a linguagem fundamental de seu meio de expressão. Esse viés abre espaço para a participação, que tem sido constante, de expoentes nacionais e internacionais da arte e da cultura.

Agora a UFMG abre seu leque de atuação e utiliza a infra-estrutura e a qualificação de seu pessoal em prol de crianças e adolescentes da rede pública da cidade-sede. Cerca de 200 meninos e meninas de 7 a 14 anos terão oportunidade de desenvolver atividades relativas às cinco áreas do Festival: Artes cênicas, Artes plásticas, Artes visuais, Literatura e cultura e Música. "Estamos abrindo espaço para programas que contemplem a inclusão social através da educação continuada", destaca a reitona Ana Lúcia Gazzola.

O coordenador geral do Festival explica como surgiu a idéia da Jornada do Futuro. "Percebemos que existe em Diamantina, cidade de ricas tradições históricas e culturais, uma grande demanda de informação nessas áreas por parte da juventude. Diamantina, contudo, está inserida no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país, onde a exclusão social é um fenômeno ainda mais visível que nas demais regiões brasileiras", diz Fernandino.

Segundo ele, a partir dessa constatação, assim como da existência de inúmeros artistas de excelente nível que militam na cidade, criar dentro do Festival de Inverno um projeto que vinculasse arte, inclusão social e valorização dos talentos locais foi um passo. "Assim surgiu a Jornada do Futuro, projeto que capitaliza o rico material humano de Diamantina e disponibiliza seus conhecimentos para a juventude carente, especialmente os alunos da rede pública estadual e municipal", finaliza.

 


VÍDEO IMPROVISAÇÃO E MÚSICA ELETRÔNICA NO FESTIVAL
19/07/03
Ana Fazito

Imagens editadas ao vivo e muita música eletrônica. Esse é o clima da festa que acontece hoje, sexta-feira, em Diamantina a partir das 23h30 na Praça de Esportes. Como resultado da oficina Vídeo Improvisação: Live Images, o espetáculo é onde os alunos de Luiz Duva se interagem pela primeira vez entre si e com um repertório musical desconhecido por eles, ao mesmo tempo que mostram o que produziram na oficina.

Em 5 telões espalhados pela praça de esportes os trabalhos de improvisação, que usam o vídeo como meio principal, mas não único, serão projetados. No mesmo momento em que se preocupam com a manipulação e direção das imagens que captaram ao longo da oficina, os alunos irão dialogar entre si, através do que será projetado. "A idéia é interagir em tempo real, eles irão travar uma conversa, à qual possa se atribuir um significado", diz du-V-a, codinome de Luiz.

O professor é um VJ dos novos tempos, similar a um DJ que manipula não só som, mas também imagens ao vivo e não um apresentador de video-clipes ao estilo MTV. "O que os alunos aprenderam na oficina não se restringe à desconstrução da narrativa, mas também é o fazer de uma narrativa experimental, é um trabalho de arte conceitual", explica du-V-a que ainda acrescenta "eles através de mixers e softwares fazem uma integração com som e texto".

Na festa, segundo o VJ, vai haver no início um descontrole total, pois é a 1a vez que seus alunos fazem isso, "mas depois eles se encontram". Para Ricardo Cançado, participante da oficina, esse evento não é só uma festa é uma forma de construção audio-visual, o que está se chamando de new cinema. "A imagem já tem uma cara por si só, e o que aprendemos aqui foi criar uma narrativa com essa imagem já captada", diz Cançado.

 


A POÉTICA SUBURBANA EM DIAMANTINA
19/07/03
Mariana Paulino

A oficina Intervenções Suburbanas, da professora da Escola de Belas Artes da UFMG, Maria Angélica Melendi, tem como objetivo interferir no espaço urbano de forma afetiva. Os alunos discutiram o que seria suburbano e o quanto de suburbano há no espaço de Diamantina. "O que há de periférico no centro de Diamantina? Com essa pergunta, levantamos questões de pertencimento, das ligações entre as pessoas e aquele ambiente urbano", explica Melendi. A finalidade de intervenções nesses espaços, como foi proposto na oficina, é a de propiciar uma maior sociabilidade nesses espaços suburbanos, que geralmente são áreas de passagem.

"A periferia sempre sabe onde está o centro, mas o centro nunca sabe onde está a periferia. E este problema acontece em qualquer lugar, até em uma cidade histórica", afirma a professora, destacando que, com as intervenções, eles pretendem chamar a atenção para os detalhes da cidade, para questões periféricas, fazendo com que as pessoas se reconheçam naquela interferência. "A população de Diamantina aceita muito bem nossa intervenção, pois fazemos o contato com delicadeza", completa.

Um mapa da cidade foi utilizado para escolher pontos para as intervenções. Atrás da antiga cadeia, a Catedral e a rua Macau de Baixo foram alguns dos locais escolhidos. O aluno Geraldo Loyola cobriu com renda branca algumas bocas-de-lobo no entorno da Igreja Matriz. Beatriz Medeiros espalhou simpatias para Santo Antônio nos hidrantes da cidade.

Um texto de Saint Hilaire, de 1817, foi a inspiração para o trabalho do estudante de arte da Escola Guignard, Alexis Azevedo. Ele colocou, na porta do Mercado Velho (que no momento abriga a exposição Artistas no Festival), uma placa com o texto que fala das atividades que aconteciam no local. "Quero levar aos moradores uma reflexão sobre papéis institucionais, o que representava o lugar e o que representa hoje; confrontar a idéia de mercado e de galeria", explica Alexis.

As intervenções, que marcam o fim da oficina, poderão ser conferidas nas ruas da cidade pelos que passarem por Diamantina este fim de semana.

 


DIAMANTINA VÊ REUNIÃO DE BAMBAS NO 35º FESTIVAL DE INVERNO DA UFMG
19/07/03

O público que estiver em Diamantina neste domingo, dia 20 de julho, poderá conferir a performance de um dos mais importantes compositores de samba brasileiros. Aos 82 anos, Guilherme de Brito faz única apresentação no 35º Festival de Inverno da UFMG, comemorando o lançamento de seu mais recente álbum solo, A Flor e o Espinho, lançado em maio, pela Lua Discos.

A passagem por Diamantina, uma das cidades mais musicais de Minas Gerais, certamente vai fazer Guilherme se lembrar de Conservatória, casa considerada a capital da seresta em Diamantina. "Lá, várias casas recebem o nome de canções, e eu inclusive vou inaugurar a plaquinha de meu samba, Maria", conta o sambista, que promete um dos melhores shows do Festival.

O show

Formado por três virtuoses – José Paulo Becker (violão), Marcello Gonçalves (violão de sete cordas) e Ronaldo do Bandolim (bandolim), o Trio Madeira Brasil é considerado uma das melhores novidades surgidas no universo da música instrumental na última década.

A base instrumental do show, composta pelo Trio, deixa em primeiro plano a voz enxuta de Guilherme, que aponta as marcas do tempo mas ainda soa firme, lapidada pela vivência seresteira e pela experiência de cantor de rádio nos anos 50.

O velho sambista gostou. "O disco ficou muito bonito. Eles fizeram arranjos diferente, que me deixaram muito feliz. São 15 canções, muitas delas sucessos já interpretados por outras pessoas, que eu queria gravar do meu jeito", conta Guilherme.

No repertório do show, clássicos como A Flor e o Espinho, Pranto do Poeta, O Dono das Calçadas, Folhas Secas, Quando Eu Me Chamar Saudade, Gotas de Luar e um inusitado fado, Distância.

O show de Guilherme de Brito acontece no Teatro do Instituto Casa da Glória, às 20h30, e os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia entrada, estendida a todas as categorias).