(Sara Rojo: mais força para entender o presente. Foto: Foca Lisboa / UFMG)

Textos teatrais, filmes documentários e livros que tratam dos recentes períodos autoritários em três países do Cone Sul foram o material de trabalho de professores e alunos do minicurso Poéticas de transformação: criação e resistência no teatro e no cinema na Argentina, no Brasil e no Chile. Sara Rojo, da Faculdade de Letras da UFMG, mostrou aos participantes como a arte refletiu o contexto político marcado por censura e violência e como a produção artística foi influenciada por ele.

Após apresentar um breve histórico das ditaduras e suas práticas, a professora exibiu trechos de filmes e coordenou debate sobre aspectos como o enfoque das obras, o papel dos narradores e os mecanismos de exposição das diferentes realidades.

“As conversas foram muito produtivas. Os participantes reconheceram sua ignorância sobre muito do que aconteceu nesses países, se expuseram à dor de conhecer a história e se sentem mais fortes para entender o presente”, explica a chilena Sara Rojo, que ainda vivia em seu país quando o general Augusto Pinochet tomou o poder, em 1973.  “A educação foi censurada, e tínhamos que procurar clandestinamente a produção política de Pablo Neruda”, exemplifica a pesquisadora, doutora pela State University of New York, com pós-doutorados pela Universidad de Chile e pela Università degli Studi di Bologna (Itália).

Na película
Em La ciudad de los fotógrafos, de 2006, Sebastián Moreno discute o dilema ético – fotografar ou participar diretamente? – dos profissionais chilenos que se dedicaram a registrar em imagens fatos e dramas relacionados à situação política. Aunque que me cueste la vida (2008), de Silvia Maturana e Pablo Espejo, contém as imagens da morte um cinegrafista, feitas pelo próprio, durante enfrentamento com o exército chileno pouco antes da derrubada de Salvador Allende.

Um dos filmes brasileiros discutidos no minicurso foi Memória para uso diário, de Beth Formaggini, que documenta o esforço do grupo Tortura Nunca Mais, com ênfase na busca de uma mulher por evidência da morte de seu marido pelo regime militar iniciado em 1964, no Brasil. Outras obras contam histórias como a de militantes exilados na Europa que deixaram seus filhos em Cuba para voltar ao Chile e combater a ditadura e a das famosas “mães da Plaza de Mayo”, cujos filhos foram “desaparecidos” pelos governos militares na Argentina.

A turma também fez leituras dramáticas e análises conjuntas das peças Hechos consumados, de Juan Radrigan (Chile), Del sol naciente, de Griselda Gambaro (Argentina), e A mais-valia vai acabar, de Oduvaldo Viana Filho (Brasil). No caso de Vianinha, o espetáculo, que marcou a abertura do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE, foi montado antes do golpe civil-militar e reuniu grandes públicos. Mas as peças argentina e chilena, produzidas já sob censura, tiveram produções modestas e públicos pequenos.

“Grande parte das obras que mostramos nesta semana refletem a necessidade de revelar e lembrar os fatos para que eles não se repitam. Sinto que essa preocupação ainda é mais clara no Chile e na Argentina que aqui no Brasil”, conclui Sara Rojo.