As universidades federais brasileiras têm sido protagonistas de um importante movimento nacional de fortalecimento das políticas culturais e das instâncias de gestão e produção cultural nas universidades públicas, reconhecendo o seu importante papel na construção de uma agenda transversal de políticas públicas.
Em artigo conjunto escrito por UFRJ, UFJF e UFMG para o 3º. Congresso Latino-americano de Gestão Cultural, os dirigentes de cultura apontam que, de forma articulada, as universidades refletem sobre como as políticas culturais institucionais podem ser respostas aos desafios que afetam o Brasil e a América Latina a partir das transformações aceleradas de nossas sociedades contemporâneas no campo cultural. Na era da convergência digital e da economia cultural-cognitiva e atencional, o campo cultural ocupa lugar estratégico nos projetos de sociedade em disputa. Nossas instituições públicas de ensino superior vêm paulatinamente reconhecendo o papel reservado a elas nesse contexto e vêm estruturando uma nova governança para a área da cultura que reflete sua necessária centralidade e transversalidade nos projetos acadêmicos.
O processo em curso ancora-se nos princípios da cultura como direito constitucional e no reconhecimento da universidade como uma instituição de ensino, pesquisa, extensão e cultura, que opera com uma nova compreensão do lugar da cultura na universidade e do lugar da universidade no campo cultural. As mudanças configuram-se através do fortalecimento da institucionalidade dos setores culturais das universidades, que se inserem na estrutura organizacional como Pró-reitorias de Cultura ou Pró-Reitorias de Extensão e Cultura (aproximadamente 60% das universidades federais brasileiras) e instituem políticas e planos plurianuais institucionais de cultura.
Em comum, nossas universidades são responsáveis pela gestão de importantes espaços culturais e museus, apresentam políticas estruturadas de amplo alcance acadêmico, desenvolvem relevantes programas, projetos e ações de grande alcance para o público de suas comunidades internas e externas, respondendo à importância estratégica do campo cultural na contemporaneidade e em seu papel central nos projetos acadêmicos das universidades contemporâneas.
Entre as premissas compartilhadas estão a afirmação da cultura como direito do cidadão, a compreensão da universidade como espaço de cultura, o reconhecimento da dimensão acadêmica do campo cultural, a perspectiva da transversalidade da cultura, a necessidade da institucionalização da cultura no organograma das universidades através de estruturas de gestão, políticas e planos de cultura e o fortalecimento dos departamentos de artes e culturas já existentes nas instituições.
Nesta 57ª. edição do Festival de Inverno da UFMG, olhamos em perspectiva os avanços do campo cultural nas nossas universidades, colocando em foco a UFMG e os 3 anos da criação de sua Pró-reitoria de Cultura, a partir de resolução de 2 de junho de 2022. Essa longa história atravessa os 100 anos da Escola de Música da UFMG, os 99 anos do Conservatório, os 57 anos do Festival de Inverno, os 36 anos do Centro Cultural, os 15 anos do Espaço do Conhecimento, entre tantos espaços culturais, museus, programas e projetos. Nossas redes de cultura nas universidades são celebradas também pela parceria com os Festivais da UFOP e UFSJ, com o Fórum de Gestão Cultural das Instituições Públicas de Ensino Superior (Forcult), com os projetos de alcance nacional e internacional, com o MINC e seus Comitês de Cultura e com os agentes culturais dos Pontos de Cultura. Nos somamos aos congressos nacionais de dança, história e psicologia, em uma partilha artística-cultural. Exposições reúnem em diversos espaços a memória da UFMG (Centenária), os saberes indígenas em curadoria do Espaço do Conhecimento (Mundos Indígenas) e apresentam um Museu Casa Padre Toledo renovado (Tiradentes Passado Presente), em sua missão de ser um Museu da cidade de Tiradentes.
Transversal no tempo, no território, nas ações; estabelecendo redes de partilha, criação e projetos; o Festival de Inverno da UFMG confirma sua vocação de tomar a história como plataforma para tecer o presente e projetar o futuro.