Eduardo Magalhães Ribeiro, do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG.
Foto: Taniara Damascena – IEAT/UFMG

Primeiro professor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG a realizar residência no IEAT, o professor Eduardo Magalhães Ribeiro participou, no dia 23 de abril de 2025, do segundo encontro da Mostra de Residentes IEAT 2025, realizada na Unidade Administrativa 3 da UFMG.

Abordando o projeto de pesquisa “Agricultura familiar, águas e secas nos semiáridos de Minas Gerais”, o professor Eduardo Ribeiro destacou, em sua apresentação, vários dados que tratam de mudanças ocorridas no semiárido mineiro ao longo de dois séculos, passando pelos primeiros registros de ocorrências de secas na região até o momento atual, que revela aumento da área de semiárido em Minas Gerais, como resultado de deslocamento no estado do norte para o sul.

Eduardo Ribeiro iniciou sua apresentação enfatizando a necessidade de refletir sobre: “o que é o semiárido?” Buscando lançar luz sobre essa pergunta, ele destacou que o semiárido deve ser pensado a partir da sua diversidade, destacando a variedade ambiental e cultural desse clima, os diversos povos que o habitam e as práticas econômicas, culturais e ambientais adaptadas que nele emergem, incluindo a agricultura familiar tradicional e os sistemas próprios de manejo da água nessa região.

Ao longo de sua exposição, Eduardo Ribeiro apresentou um mapa com os deslocamentos de populações rurais, derivados de secas, desde fins do século XIX, mostrando sua importância para a formação demográfica e cultural do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha. Ao longo de dois séculos, foi registrada, ao menos, uma seca forte por década.

Na sequência, o professor Eduardo Ribeiro falou sobre a chamada “grande seca”, registrada entre 2011 e 2019 no semiárido, reconhecida como a mais duradoura da história do Brasil, com efeitos sobre a população das áreas rurais, a produção e o abastecimento de água. Contudo, segundo ele, embora essa seca tenha sido severa, não foram registrados casos de fome, conflitos ou deslocamentos populacionais durante sua ocorrência. Por isso, foi apelidada de “seca gorda” por agricultores do Norte de Minas Gerais, já que, durante esse período, conseguiram manter condições de vida satisfatórias, com acesso à água, alimentos e trabalho. Essa situação, considerada por ele como um dos maiores avanços sociais da história da República no enfrentamento das secas, sendo um desafio enfrentado pelos governos brasileiros desde pelo menos 1877, foi, contudo, pouco discutida e, menos ainda, festejada.

Para finalizar sua apresentação, o professor Eduardo Ribeiro apresentou alguns dados que evidenciam avanços, nos últimos vinte anos, tanto no abastecimento de água quanto na qualidade de vida das pessoas que moram nas áreas rurais do semiárido. Segundo Eduardo Ribeiro, a segurança na “quadra de secas”, que agora é possível para as famílias rurais, se deve ao crescimento da organização das comunidades rurais, à descentralização dos investimentos públicos, ao crescimento das rendas, à expansão dos mercados locais e, sobretudo, à continuidade dos programas públicos para o semiárido no período 1998/2015. Nestes se incluem, por exemplo, programas de abastecimento de águas, distribuição de energia, previdência social e complementação de renda. Além disso, as famílias rurais passaram a adotar duas estratégias muito importantes para conviver com as secas: a diversificação de fontes de abastecimento e a multiplicação da capacidade de armazenagem. Desse modo, conseguem gerir a oferta de água de forma autônoma e descentralizada.

“Foi esse conjunto de novidades que garantiu para as populações dessas regiões atravessarem o período de grande seca sem maiores dificuldades, como falta de água e de alimentos, sem necessidade de se deslocar para outras regiões”, ressaltou.

Contudo, segundo ele, há dois agravantes que precisam ser observados para o futuro. O primeiro é o aspecto político, relacionado à continuidade de políticas públicas voltadas para o semiárido, pois um governante pode, a seu critério, cortar programas, limitar a evolução das transferências, centralizar iniciativas públicas. O segundo risco é ambiental, que inviabiliza a manutenção, em longo prazo, das chamadas fontes de “águas produzidas”, como poços artesianos e adução de águas de rios que estão morrendo. “A utilização desenfreada de poços artesianos como solução para o abastecimento de água potável pode se tornar um problema grave no futuro. É preciso lembrar que essas fontes se esgotam, e se não forem protegidas, podem desaparecer, pois não há qualquer garantia de sua continuidade”, finalizou Eduardo Ribeiro.