Boletim: Estudante-padrão da UFMG não vem da elite econômica

A UFMG acaba de divulgar o censo socioeconômico e étnico dos seus alunos de graduação. O estudo, coordenado pelos professores Mauro Braga e Maria do Carmo de Lacerda Peixoto, revela que 54% dos estudantes não pertencem à elite econômica – sua renda familiar alcança, no máximo, 10 salários-mínimos –, 37% são egressos de escolas públicas e 28% declararam-se negros e pardos, índice que reflete a população negra de Minas Gerais. O estudo, produzido a partir de dados dos vestibulares 2003, 2004 e 2005, está disponível, na íntegra, no portal da UFMG.

Uma Universidade plural

Censo revela que índice de alunos com renda familiar de até 10 mínimos chega a 54%; declaração de raça corresponde ao perfil étnico da população mineira

Diferentemente do que o senso comum já convencionou, o estudante típico da UFMG não pertence às camadas privilegiadas da população e, tampouco, a Universidade exclui negros do seu quadro estudantil. Estudo realizado a partir do Censo socioeconômico e étnico dos estudantes de graduação da UFMG revela que, 54% dos calouros que ingressaram em 2005 possuem renda familiar de até dez salários-míninos. Além disso, 37% são egressos de escolas públicas e 28% declararam-se negros ou pardos, dado que reflete o perfil da população negra de Minas com, no mínimo, 11 anos de escolaridade – pré-requisito para o ingresso no ensino superior.

De acordo com o professor Mauro Braga, coordenador do Centro de Estudos sobre Educação Superior e Políticas Públicas (Cespe), certamente há uma diferença entre os cursos de maior status social, como Medicina, Direito e Arquitetura, e os de menor prestígio, como as licenciaturas, que abrigam cerca de 70% dos estudantes de classes mais baixas. “O índice de alunos de baixa renda cai em cursos como Medicina e aumenta em outros de menor prestígio. Mas ainda assim, em Medicina, por exemplo, mais de 30% de alunos são de famílias com renda de até 10 salários-mínimos. Em Arquitetura, este índice está próximo de 40%”, analisa o professor Mauro Braga, que realizou a análise com a diretora de Avaliação Institucional da UFMG, Maria do Carmo de Lacerda Peixoto. O trabalho será publicado em livro, em março, pela Editora UFMG.

O estudo utilizou uma amostra de cerca de 13 mil alunos – três quintos do universo dos calouros que ingressaram na UFMG nos anos de 2003, 2004 e 2005. Os dados foram coletados nos questionários que cada candidato preencheu ao inscrever-se no vestibular. Além de informações referentes à renda e raça, também foram analisados o tipo de ensino médio cursado pelo aluno e o acesso a bens de consumo e culturais. Segundo o professor Braga, um dos principais objetivos do estudo é nortear discussões sobre o rumo da Instituição e orientar as políticas acadêmicas da Universidade.

O Censo é baseado em uma escala chamada FSE (Fator Socioeconômico), que combina renda familiar, nível de instrução, profissão dos pais e trajetória escolar. Trata-se de uma escala de zero a 10, na qual os estudantes incluídos na menor faixa ( de 1 a 3) correspondem a classes de baixa renda, enquanto os estudantes com FSE acima de 8 podem ser considerados de classe alta. Em 2005, o FSE médio dos alunos da UFMG foi de 5,9.

Raça
Um dos aspectos mais importantes da pesquisa refere-se à representatividade dos estudantes negros e pardos na UFMG e à inconstância da declaração de cor. Segundo Mauro Braga, o índice de 28% de estudantes que se declararam negros e pardos, no Vestibular 2005, está próximo do percentual de negros da população de Minas Gerais.

Na média do triênio 2003-2005, excluídos os que não fizeram a declaração racial, a UFMG admitiu, por exemplo, 26,1% de negros e pardos e 71,9% de brancos. Já os números correspondentes do IBGE para a população do Estado – com onze ou mais anos de escolaridade – são, respectivamente, 28% e 71,5%. Nesse particular, o perfil racial dos estudantes da UFMG aproxima-se mais daquele apurado pelo IBGE para a população do Estado, do que o observado em outras universidades públicas. (leia tabela na página ao lado).

Segundo o professor Mauro Braga, os dados analisados mostram que os candidatos tendem a alterar sua declaração racial de um ano para outro. “Apenas um terço dos candidatos mantêm sua declaração de cor, o que tem resultado no aumento da proporção de pardos e pretos e na correspondente diminuição dos percentuais de amarelos e brancos”, explica.

Confira algumas tabelas e estatísticas que sintetizam parte do censo socioeconômico e étnico dos estudantes de graduação da UFMG.

Fonte: Censo socioeconômico e étnico dos estudantes de graduação da UFMG

Censo está disponível na rede
O banco de dados do Censo socioeconômico dos alunos de graduação da UFMG ganhou página própria no Portal da UFMG, onde pesquisadores, especialistas e outros interessados poderão consultar as informações sobre o perfil do estudante. O serviço está disponível na página www.ufmg.br/censo e, ao se cadastrar, o usuário receberá uma senha de acesso ao portal.

Concebido pelo Cespe e desenvolvido em colaboração com o Centro de Computação (Cecom) e com o Departamento de Registro e Controle Acadêmico (DRCA), o projeto pretende formar uma base de dados integrada a outros sistemas acadêmicos. Segundo o diretor do Cecom, Carlos Alfeu, um software foi preparado para gerenciar esses dados. “Organizamos e padronizamos informações brutas”, explica Carlos Alfeu.

Texto publicado originalmente no Boletim 1515, de 26 de janeiro de 2005

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