Professores e alunos dos cursos de engenharias e de ciências exatas discutiram as alternativas para retomar as atividades didáticas no período de pandemia de Covid-19, em fórum online realizado na tarde desta quarta-feira. 

Na abertura do encontro, promovido pelo programa Integração Docente, a pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira, destacou a importância da iniciativa e a necessidade de tratar das ferramentas e métodos de ensino, sem desconsiderar questões que podem afetar a comunidade acadêmica nesse momento. “Temos que pensar nas diversas situações de vulnerabilidade, os estudantes que são mães, pais, com deficiências, os indígenas, mas não podemos estar distantes de pensar na qualidade, que sempre foi uma marca da UFMG.”

No primeiro bloco do fórum, mediado pelos professores Cristina Alvim, coordenadora do comitê de Enfrentamento do Coronavírus na UFMG e Bruno Teixeira, pró-reitor adjunto de Graduação, docentes das áreas apresentaram suas experiências e impressões sobre o uso de recursos didáticos digitais nas disciplinas que ofertaram. 

Um dos participantes, o professor Luiz Antonio Aguirre, do departamento de Engenharia Eletrônica, começou a gravar vídeoaulas em 2015, como material de apoio para as aulas presenciais, e hoje conta com um acervo de cerca de 180 vídeos, disponíveis no seu canal no YouTube. Para produzir o material, Luiz se norteava por regras para manter a simplicidade do processo, como não usar efeitos sofisticados, motivar a resolução de problemas, resolver exemplos e limitar a duração das gravações a 15 minutos. 

Indicado para estudantes que faltaram à aula, que gostariam de rever as explicações e para abordar os assuntos com mais detalhes, os vídeos geraram mais engajamento entre os alunos, que passaram a participar mais das discussões. “O vídeo é uma faca de dois gumes: ele pode dar a impressão de que substituiu o tempo de estudo individual, mas isso não é verdade, e isso se reflete nas avaliações”, alerta o professor.

Outro docente com experiência na oferta de disciplinas a distância e semipresenciais, Ernani Sales Palma, da Engenharia Mecânica, conta que suas primeiras providências foram se capacitar, fazendo um curso de produção de materiais didáticos para EaD, oferecido pelo Caed, e privilegiar metodologias ativas de ensino, utilizando a plataforma Moodle e o estudo prévio das lições pelos alunos.

“Não funciona usar somente as vídeoaulas: é importante ter um conjunto de materiais específicos para ensino remoto, com textos, fóruns, exercícios on e offline e um guia de estudos, que é essencial”, avalia o professor, que atribui a queda de 13 para 5 por cento na evasão nas matérias semipresenciais a métodos que promovam um envolvimento maior entre os estudantes. 

Ensino para competências

Para Lucas Wardil, professor do departamento de Física, a pandemia e o isolamento social consequente vão transformar o processo de ensino-aprendizagem, o que pode abrir novas possibilidades pedagógicas. Ele tem estruturado a disciplina “Fundamentos de Eletromagnetismo”, presente nas matrizes do ciclo básico dos cursos de exatas e engenharias, em “centros de habilidades”, nos quais as lições buscam desenvolver competências específicas, como, por exemplo, a resolução de problemas. 

“Essa é uma oportunidade para pensar nos objetivos das disciplinas, no que eu quero que os alunos aprendam. A ementa tem que ser cumprida, mas como eu vou destilar esse conteúdo é algo que tem que ser estudado.”

Encerrando as apresentações do bloco, Renato Ferreira, do departamento de Ciências da Computação e vice-diretor do Icex, deu dicas sobre as ferramentas e os softwares usados para gravar as aulas, como tablet ou iPad, o LonelyScreen, para captura de tela, o OBS Studios, para gravar vídeos, o Jamboard e o Collaboard, que simulam lousas. Uma sugestão, mais barata e eficaz, é escrever numa folha de papel e gravar com uma webcam ou com o celular. 

Apesar dessas inovações, para o professor é fundamental, que o ambiente de aprendizagem seja utilizado. “O Moodle é interessante para ter um roteiro das aulas, por unidades, e também pela interatividade, porque é por onde os alunos vão fazer perguntas e esclarecer dúvidas”, justifica.

Incerteza

Os graduandos em Engenharia de Sistemas, Guilherme Ximenes, e em Matemática, Thomás Carrieri, falaram sobre as angústias e expectativas dos estudantes nesse período.

“O sentimento dos alunos é de incerteza, ansiedade e de frustração. A gente sofre esperando para ver o que vai acontecer e sabe que os professores também sofrem com isso”, releva Guilherme. Vice-presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia, ele manifestou sua preocupação quanto ao formato das avaliações e o desejo de que as aulas fossem gravadas, para permitir que sejam acompanhadas por pessoas rotinas diferentes.

Já Thomás, membro das atuais gestões do Diretório Acadêmico do ICEx e do Diretório Central dos Estudantes, propôs uma reflexão sobre os riscos de implantação do ensino remoto, como o possível aumento da evasão, a exclusão de alunos que não têm acesso a meios tecnológicos, o pouco tempo para as adequações didáticas necessárias, além do contexto.

“A pressão da pandemia é muito pesada: estamos privados dos círculos sociais, não sabemos o ambiente em que as pessoas estão, se têm proximidade com a família, se têm espaço para estudo e liberdade de uso da internet e dos aparelhos. A Universidade tem 30 mil estudantes de graduação. Temos que pensar que são muitos os cenários.”

Imagem: Raphaella Dias/UFMG