Desde 2018, quando o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) passou a estabelecer reserva de vagas para pessoas com deficiência, o número de estudantes com essa condição cresceu consideravelmente, trazendo novos desafios para a UFMG. O trabalho do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) e as políticas adotadas pela Universidade para garantir a inclusão desse contingente discente foram abordados nesta quarta-feira, 1º de setembro, durante a 23ª edição do fórum on-line do Programa Integração Docente.

“Isso nos trouxe um desafio não só numérico, mas o desafio da diversidade. Como a universidade pode acolher e atender aos direitos desses estudantes? Não só do ponto de vista da infraestrutura, mas também de currículos que sejam, de fato, inclusivos e, principalmente, garantir a qualidade de ensino para esses estudantes e que eles tenham acesso a todas as oportunidades que a Universidade oferece”, analisou a professora Benigna de Oliveira, pró-reitora de Graduação, na abertura do evento.

“A gente precisa tomar cuidado para não centralizar a questão na pessoa com deficiência. Historicamente, a pessoa com deficiência é colocada no centro, e o médico, família, professor, profissional de apoio ficam pensando pela pessoa e não com a pessoa”, advertiu o professor Leonardo Cabral, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Durante sua apresentação, ele abordou desafios e possibilidades relacionados ao acesso, à permanência e à diplomação das pessoas com deficiência, além da transição para o mercado de trabalho e perspectivas no contexto da pandemia.

Conquistas e barreiras
A estudante Gabrielle Lopes, do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis e integrante do Movimento Universitário de Inclusão (MUDI), falou sobre a atuação do coletivo, fundado em 2019, e dos desafios ligados ao ingresso e à permanência no ensino superior.

Ela abordou as dificuldades que encontram os graduandos com deficiência, como o desconhecimento em relação à sua situação e a seus direitos, a dependência do auxílio financeiro de familiares, o capacitismo e a dificuldade para obter auxílios de órgãos de apoio como a Fump e o NAI, que adotam a renda bruta do estudante como um dos critérios de acesso prioritário. “Quando a gente tem alguma deficiência, a maior parte da nossa renda é focada nisso. Há um custo fixo para a gente se locomover, gastar com tratamento médico, comprar remédios. É muito importante pensar essa questão financeira, não na perspectiva da renda per capita do aluno ou do seu núcleo familiar, mas em como essa renda é utilizada”, sugeriu

A estudante destacou o trabalho do NAI e outras conquistas como o carro adaptado para transporte de pessoas com deficiência no campus Pampulha, mas indicou pontos que ainda devem ser melhorados, principalmente para superar as barreiras atitudinais e tecnológicas, mais evidentes durante o período de pandemia. “É muito importante que o professor não só espere a Universidade informar que há um aluno com deficiência na turma: ele tem que se interessar também, perguntar se alguém precisa de alguma adaptação ou que se fale mais alto ou mais devagar. As aulas devem contar com o recurso de legendas ou serem transmitidas em um ambiente com menos ruído”, afirmou Gabrielle Lopes.

Serviços e parcerias
A diretora do NAI, Rosana Passos, apresentou as políticas de promoção de inclusão e acessibilidade na UFMG, com base nas atividades do órgão assessor, vinculado à Reitoria, criado em 2015.

Ela explicou o processo para acesso aos serviços oferecidos pelo NAI, que vão de treinamento de rotas para deficientes visuais se deslocarem no campus Pampulha ao empréstimo de equipamentos baseados em tecnologias assistivas, a triagem e análise das demandas recebidas e seu atendimento.

Rosana Campos ressaltou a relevância das parcerias firmadas com as várias unidades, como a Pró-reitoria de Graduação, para concessão de bolsas de monitorias de conteúdo para estudantes com deficiência; com a Biblioteca Universitária, para a construção de acervo acessível, com o projeto de extensão ParaMEC e com o Labbio (Laboratório de Bioengenheria), ambos dedicados à criação de equipamentos para pessoas com deficiência, e com o Caed, DTI e GIZ para a elaboração do guia de recomendações de acessibilidade no ensino remoto emergencial.

“O aluno e o servidor com deficiência não são apenas de responsabilidade do NAI; eles são da Universidade, da comunidade. Não é só o NAI que precisa atuar para garantir acessibilidade e inclusão. Todos somos parceiros”, enfatizou a diretora.

(Assessorias do Caed e da Prograd)

Imagem: Raphaella Dias/UFMG